Especialista alerta para aumento do uso de agrotóxicos no país

Francisco Beltrão (PR) – O uso de agrotóxicos aumentou consideravelmente nos últimos anos no Brasil, em cujas lavouras são usados indiscriminadamente produtos proibidos em outros países. O alerta é da  […]

Francisco Beltrão (PR) – O uso de agrotóxicos aumentou consideravelmente nos últimos anos no Brasil, em cujas lavouras são usados indiscriminadamente produtos proibidos em outros países. O alerta é da  gerente de Normatização e Avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Letícia Silva, que fez palestra na quinta-feira (20) na 9ª Jornada de Agroecologia, no município paranaense de Francisco Beltrão.

De acordo com Letícia, só no ano passado, o consumo foi de 790 mil toneladas de ingredientes ativos, avaliados em US$ 6.8 bilhões, de produtos que, formulados, podem ser multiplicados infinitamente. “Isso é muito grave”, afirmou Letícia, adiantando que diversos produtos químicos usados nas lavouras e proibidos em outros países estão passando por reavaliação para verificar a possibilidade de comercialização.

Com apoio da Polícia Federal, a Anvisa fiscaliza os agrotóxicos comercializados no país e a forma como estão sendo produzidos pelas multinacionais. “Empresas que cometem irregularidades são autuadas, e o resultado dos processos é encaminhado para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para apuração das responsabilidades criminais”, explicou.

Letícia Silva informou que, na próxima semana, a Anvisa deve divulgar os resultados de uma pesquisa que detalha o uso de agrotóxicos nos alimentos. A gerente da Anvisa é uma das participantes da Jornada de Agroecologia, realizada no sudoeste do Paraná.

Cerca de 3 mil pessoas, entre acampados, assentados, estudantes, técnicos, pesquisadores e representantes de movimentos sociais de várias regiões do país, discutem, até o próximo sábado (22), um novo modelo de agricultura.

O agricultor Ariolino Morais, um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, sugeriu subsídios para o produtor que não usa agrotóxicos.   “Afinal, estamos produzindo alimento saudável, o que acaba sendo remédio para doenças. É preciso tratamento diferenciado para quem produz de forma segura e tem apenas um pedaço pequeno de terra”, argumentou Ariolino, um dos 370 mil agricultores familiares do Paraná, possuidores de áreas que não passam de 50 hectares.

Cerca de 1,2 milhão de pessoas estão envolvidas com a agricultura familiar no Paraná.
Desse total, 5,3 mil trabalham na produção orgânica, responsável por cerca de 110 mil toneladas de alimentos por ano, cultivados numa área de 3,8 mil hectares.

Formação

No encontro em Francisco Beltrão foi anunciado também que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vai formar este ano no Paraná 147 alunos por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que aumenta o nível de escolaridade dos trabalhadores rurais.

“Defendemos o modelo agroecológico como o mais adequado aos assentados e agricultores familiares”, disse o superintendente regional do Incra, Nilton  Guedes. Ele afirmou que o governo tem investido na educação, ao possibilitar a formação técnico-profissional de nível médio e superior em diversas áreas do conhecimento.

Ano passado, cerca de 400 alunos tiveram acesso ao programa no Paraná, por meio de parcerias do Incra com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e a Universidade do Oeste do Paraná (Unioste).

Maicon Costa, 23 anos, é um dos participantes do Pronera. Filho de beneficiários da Reforma Agrária, ele estuda pedagogia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná e já contribui na educação infantil do acampamento Planaltina do Paraná, no noroeste do estado. “Para nós do campo é muito bom receber aulas, além da grade normal criada para o curso. Temos disciplinas específicas, voltadas à realidade do homem do campo.”

Ele conta que as aulas são alternadas. São 60 dias na universidade em tempo integral e mais 2 meses nas comunidades para colocar em prática o aprendizado.

O Pronera também visa à construção de uma matriz produtiva nos assentamentos, baseada na produção sustentável, e esse é um dos temas da 9ª Jornada de Agroecologia, que está sendo promovida na cidade de Francisco Beltrão.