De olho na eleição, ruralistas criticam políticas contra o aquecimento global

Especialistas convocados pela CNA afirmam, entre outras coisas, que menos pessoas vão morrer de frio por conta das temperaturas elevadas e descartam efeitos nocivos do CO2

CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu (foto), pediu repressão a movimentos sociais que defendem a reforma agrária (Foto: Moreira Mariz/Agência Senado)

São Paulo – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) concluiu, na terça-feira (30), em São Paulo, que o aquecimento global não é tão ruim quanto parece. O Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (Feed 2010) terminou com a certeza de que as máquinas, e somente elas, conduzem ao progresso.

Tratando movimentos ambientalistas como “sectários” que se apropriam de informações científicas parciais ou inconclusas, a CNA emitiu, ao final dos três dias de debate, um documento acusando entes de pressionar governos a adotar medidas apressadas na mitigação dos efeitos do aquecimento global.

Presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-GO), a organização de ruralistas promoveu o evento cuja sigla remete, não por acaso, a “feed“, alimento em inglês. O evento terminou com a publicação da “Carta de São Paulo”, que sugere a manutenção dos padrões de produção e consumo, já que frear o atual modo de vida representaria um “custo muito alto”.

“As metas de alterar ou reduzir os padrões de consumo da população não são realistas”, registra o documento. “A humanidade prossegue com altas expectativas de progresso material e mais de dois bilhões de pessoas ainda vivem na pobreza. Não é fácil impor limites aos níveis de consumo da humanidade. A área de ação, portanto, tende a se fixar no campo da produção sustentável e das tecnologias. O investimento em pesquisa nos setores de energia, produção industrial e agropecuária é o que certamente produzirá os melhores resultados”, informa o comunicado.

A CNA encerrou o FEED 2010 apontando que “não nos afastaremos do bom senso e das recomendações da ciência”. As “recomendações da ciência” são recebidas por especialistas convocados pela própria instituição, como o dinamarquês Bjorn Lomborg, autor do livro “O ambientalista cético”.

Em sua exposição, o professor da Copenhagen Business School pontuou suas restrições à ideia de que há uma mudança climática em curso. “Não digo que o aquecimento global não seja verdade. O problema é que aqueles que defendem a redução das emissões de carbono dizem sempre quantas pessoas vão morrer por conta do calor, mas nunca quantas pessoas vão deixar de morrer por causa do frio. Antes de cortar emissões de carbono, vamos planejar melhor as cidades, utilizar soluções racionais, e não impor políticas com custo imenso e sem compromisso com o futuro”.

Patrick Michaels, membro sênior de estudos ambientais do Cato Institute, considera que a grande causa das emissões globais de gases que geram o efeito estufa é a pobreza. “Em situação de pobreza, a população não tem dinheiro para investir em tecnologia mais limpa. Quando um país fica rico, pode produzir energia de forma mais eficiente”, afirmou. “Se os painéis solares fossem mais baratos, as pessoas comprariam”, explicou. A seguir o pensamento de Michaels, Estados Unidos e China, os dois maiores emissores globais, são países pobres.

Repercussão

As conclusões do FEED tiveram ampla repercussão. O Greenpeace, primeiramente, ironizou a declaração de Michaels de que gás carbônico e metano não contribuem para o efeito estufa. Depois, elogiou os comentários de Evaristo Miranda, chefe-geral da Embrapa. “Para chegar à quantidade de área preservada que querem pro Brasil, teríamos que anexar quase toda a América Latina a ele”, afirmou. Para Miranda, porém, o “pessoal da agricultura” nunca foi interferir na legislação ambiental e, portanto, o contrário também não será permitido. 

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) criticou outro documento da CNA, intitulado “O que esperamos do próximo presidente”. No texto, a entidade dos donos de terras cobra que o próximo a ocupar o Palácio do Planalto tenha atenção à preservação absoluta dos direitos de propriedade e atue contra as ocupações promovidas por movimentos sociais.

O secretário-geral da Contag e vice-presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), David Wylkerson de Souza, considera que é normal que um setor produtivo apresente demandas, ainda mais quando busca consolidação de poder. “O que não se pode admitir em qualquer hipótese é que a CNA, na tentativa de tirar de foco o debate sobre a absurda concentração de terra no Brasil, que inclusive tem aumentado, visa a desqualificar os movimentos sociais e tenta macular a imagem dos que continuam sonhando e lutando por uma efetiva reforma agrária nesse país, com justiça e igualdade de condições para produzir”, afirma.

A Via Campesina é outra entidade que se queixou da postura da CNA, lembrando que a entidade representa um pequeno número de propriedades que concentra muitas terras e pouca produção alimentícia. Frei Sérgio Gorgen, representante da Via Campesina, acha estranho que a confederação dos grandes proprietários ache boa a presença do Estado quando se trata de garantir preços e lucros, mas ruim quando visa a cobrança de impostos. “Só querem a presença do Estado para mamatas e para não pagar dívidas. São os grandes devastadores do meio ambiente. Assim mesmo, quem produz alimento para o consumo interno do país não é o agronegócio (30%), mas a agricultura camponesa (70%)”, lamenta.

Com informações do Portal Vermelho.

 

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