Principal emissora de gases, pecuária precisa ser revista, avalia ONG

Estudo brasileiro a ser apresentado na Conferência do Clima em Copenhague propõe que áreas já desmatadas são mais que suficientes para garantir abastecimento do mercado

A Operação Boi Pirata flagrou a criação de bois em área de preservação ambiental (Foto: Valter Campanato. Agência Brasil)

A informação de que a pecuária representa a metade das emissões brasileiras de gases geradores do efeito estufa lança um alerta sobre a necessidade imediata de adequação da produção. Um estudo apresentado neste fim de semana na Conferência do Clima em Copenhague mostra que desmatamento para formação de pastagens, queimadas de pastagem e fermentação interna do organismo do gado são os principais responsáveis pela contribuição nacional ao aquecimento global.

A análise conjunta comandada por Universidade de Brasília, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a organização Amigos da Terra mostra que as emissões entre 2003 e 2008 variaram de 813 a 1090 toneladas de carbono equivalente. Ainda que o desmatamento tenha caído no período, as atividades ligadas à pecuária seguem no comando do problema.

Peter May, diretor-adjunto da Amigos da Terra, afirma à Rede Brasil Atual que está evidente a necessidade de repensar a cadeia produtiva da carne: “Se incorporasse o custo associado com as emissões, você teria um efeito negativo sobre as exportações, os preços seriam muito mais altos. Se o Brasil quiser participar de maneira efetiva do combate ao aquecimento global, precisa focar nessa questão da pecuária”.

Dentro disso, uma série de medidas devem ser adotadas. A primeira delas, na verdade, é uma constatação: as áreas desmatadas até hoje em nome da pecuária são mais que suficientes para que a atividade possa ser desenvolvida no Brasil. Indo além, pode-se tranquilamente fazer a recuperação de áreas degradadas e o reflorestamento de pastagens sem prejuízo à oferta de carne.

Outra questão importante é que exista um zoneamento que limite as áreas em que podem ser instalados frigoríficos, o que de alguma maneira freia a expansão desenfreada e o avanço da fronteira agropecuária sobre a Amazônia.

A redução do desmatamento é a principal frente de atuação do governo para cumprir a meta de reduzir as emissões de gases em 39% até 2020. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, avalia que é necessário frear a derrubada em até 90% na próxima década, algo muito próximo do que esperam entidades socioambientais.

Com base na organização da atividade produtiva, algumas ações têm sido adotadas, como o compromisso de algumas redes de supermercados de que apenas aceitarão carne em que se garanta a procedência. Há a ideia de transformar em crime a comercialização final de produtos vindos de áreas degradadas.

Peter May avalia que a sociedade também é responsável pelas ações contra o desmatamento. “Implica entender a situação. Pode reduzir o consumo de carne, procurar a carne com procedência garantida e atuar junto com as organizações não-governamentais”, destaca.