Organizações da sociedade civil brasileira desapontadas com os rumos da COP-15

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, tem insistido que africanos, asiáticos e sul-americanos devem ajudar a barrar as iniciativas de Estados Unidos e China, dois maiores poluidores globais (Foto: Sebastien […]

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, tem insistido que africanos, asiáticos e sul-americanos devem ajudar a barrar as iniciativas de Estados Unidos e China, dois maiores poluidores globais (Foto: Sebastien Pirlet. Reuters)

Rio de Janeiro – “Minha expectativa é que os últimos dias da COP transcorram com clima de ansiedade, pressão política e muitas consultas em torno da manutenção das promessas do passado. Um resultado que, convenhamos, está bastante aquém de nossas expectativas”. A declaração do ambientalista Rubens Born dá o tom do sentimento predominante entre os representantes da sociedade civil brasileira que participam da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece em Copenhague.

Coordenador do Vitae Civilis, organização que integra a Climate Action Network, Born diz que a expectativa das ONGs era que “Copenhague pudesse nos trazer um acordo justo, ambicioso e com poder de lei, que realmente contribua com a reversão da atual tendência de mudanças climáticas provocadas pela ação humana. É isso que defendemos aqui, por meio de nossa presença e nossa mobilização através da Campanha TicTac”, diz.

Born afirma que, para quem está no Bella Center (centro de convenções onde se realiza a COP-15) fica evidente a necessidade de mobilização da sociedade civil: “Entre os delegados, permanece a postura tradicional de defesa de interesses nacionais e setoriais, sem uma visão global da questão. O impasse das negociações na manhã de hoje (16), a tentativa do novo presidente da COP, o primeiro-ministro da Dinamarca, de rascunhar dois novos textos de decisões que não levam em conta o que foi consenso e negociado pelos delegados, a busca de empurrar para outros as razões das dificuldades, tudo isso mostra que nem a ciência nem a ética e a justiça com os mais vulneráveis têm servido de base para acordos em mudança de clima”, lamenta.

Representante em Copenhague do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), organização brasileira que também participa da Campanha TicTac, Adriana Charoux afirma “esperar um milagre” na COP-15: “Espero um milagre! Espero que o ‘greenwash’ que toma conta dos discursos dos negociadores se converta num acordo pra valer: justo, ambicioso e com força de lei. Um acordo demandado pela sociedade civil, que vem marcando presença aqui na COP e em diversos países ao redor do mundo”, diz.

Adriana reconhece, no entanto, que a realidade em Copenhague não é das mais animadoras: “Infelizmente, o andamento das negociações mostra que estamos muito longe desse milagre, pelo menos por enquanto. O corte de emissões anunciado pelos países desenvolvidos é extremamente conservador e, assim, condena à morte populações de países já extremamente prejudicados pelas mudanças de clima. Há pouco dinheiro novo para financiar ações de adaptação e mitigação nos países em desenvolvimento no curto e especialmente no longo prazo”.

Militância

Ao menos no que concerne à própria atuação, as organizações da sociedade civil brasileira parecem satisfeitas: “A COP-15 já superou todas as minhas expectativas em relação às ações da sociedade civil. Fizemos história, criamos coalizões e reinventamos a forma de mobilização social. Colocamos 5.200 eventos em 181 países no mesmo dia e com a mesma mensagem. Algo nunca visto antes. E o resultado de todo esse esforço é a presença de vários presidentes nesses últimos dias. Eles estão aqui porque a sociedade global está exigindo uma resposta”, afirma Paula Collet, representante da organização 350.org.

Paula ainda mantém suas esperanças, mesmo diante de um eventual fracasso em Copenhague: “A minha expectativa em relação às negociações é de que os políticos não ignorem os anseios de seus eleitores e que consigam chegar a um acordo justo, ambicioso e com força de lei. Mas, independente dos resultados da COP-15, nós da sociedade civil devemos nos sentir vitoriosos pela batalha e animados para ganhar a guerra. Talvez o caminho ainda seja longo, mas a estrada é a certa”, aposta.

Pressão

Rubens Born brinca, dizendo que a COP-15, a três dias do seu final, está marcada pelas letras F e P: “Frio, filas e frustração enquanto rolam protestos, plenárias e presidentes _ ou primeiros-ministros discursando”. Falando sério, a avaliação do experiente ambientalista não é das mais alegres: “A força do ‘business as usual’ está se impondo com força, nos vários sentidos da palavra, aqui nas negociações”, revela.

“A semana passada terminou com o impasse de Tuvalu, e esta começou com a movimentação do grupo de países africanos. Nos dois casos, subjaz a questão do Protocolo de Kyoto, que é a arquitetura do regime internacional, baseado em pilares/conjuntos distintos de compromissos entre paises ricos e em desenvolvimento, que os países em desenvolvimento querem preservar como forma de manter de pé os compromissos de transferência de recursos financeiros, tecnológicos e capacitação necessários para o cumprimento de suas ações de adaptação e mitigação”, continua Born.

Apesar do pessimismo com os rumos que estão sendo tomados em Copenhague, Adriana Charoux lembra que o momento é de intensificar a luta ambiental: “A Campanha TicTac, junto com diversos outros grupos e organizações não governamentais, não se dão por vencidos. Muitas ações estão sendo planejadas e serão divulgadas tão logo seja possível. A COP ainda não acabou e vamos pressionar!”, promete.