Governo alemão premia pesquisa brasileira

Estudos para obtenção de plásticos biodegradáveis e geração de hidrogênio a partir de esgotos e outros materiais orgânicos estão entre os vencedores de um concurso de tecnologia ambiental para jovens cientistas

Green Talents inclui três brasileiros entre os 15 pesquisadores de tecnologias limpas premiados (Foto: Reprodução)

Pesquisadores brasileiros que buscam tecnologias para produção de energia limpa e de matérias primas para plásticos que ao mesmo tempo sejam resistentes, versáteis e totalmente degradados pela natureza estão entre os vencedores do Green Talents, concurso promovido pelo Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha. O prêmio foi uma viagem de 10 dias àquele país para visitas aos principais centros de pesquisas ambientais. No total foram premiados 15 jovens pesquisadores de 43 países, dos quais três são brasileiros. O total de inscrições foi de 156 projetos.

Uma das brasileiras é Juliana Aristeia de Lima. Doutora em química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela integra o grupo de pesquisa em polímeros – que são grandes moléculas constituintes de substâncias naturais, como o amido e a celulose, ou artificiais, como plásticos, fibras e resinas artificiais. “O foco do meu trabalho tem sido avaliar as propriedades físicas de materiais biodegradáveis para a fabricação de bioplásticos com as mesmas vantagens oferecidas pelos plásticos obtidos a partir do petróleo”, explica.

Segundo Juliana, sua missão e de tantos outros pesquisadores que investigam a mesma coisa no mundo todo, não é nada fácil. Caso contrário, já teríamos matéria-prima biogradável para produzir todos os tipos de plásticos produzidos atualmente, inclusive com suas características físicas que permitem à indústria moldar o obter produtos resistentes. Para se ter uma ideia, pesquisas com plásticos feitos de milho existem desde a década de 1930. Só que apenas nos últimos anos os laboratórios conseguiram desenvolver aqueles com resistência e facilidade de manipulação exigidas pelo processo produtivo.

O reconhecimento de seu trabalho não é à toa. Para produzir um quilo do plástico comum, derivado de petróleo, há emissão de dois a quatro quilos de carbono. No bioplástico, ao contrário, de quatro a seis quilos de carbono são sequestrados da atmosfera. O sequestro de carbono é um processo de remoção desse gás desencadeado principalmente em oceanos, florestas e outros organismos que, por meio da fotossíntese, capturam o gás e lançam oxigênio em seu lugar. Sem contar que são necessários de 200 a 400 anos para a degradação dessa infinidade de produtos que poluem os solos e águas. Já os biodegradáveis se decompõem em até 18 semanas, oferecendo ainda a vantagem de se transformar em adubo juntamente com os demais lixos orgânicos.

Hidrogênio da biomassa e saneamento

Outro vencedor do Green Talents é o professor e pesquisador Antonio Carlos Caetano de Souza, da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Guaratinguetá (SP). Ele e seu grupo pesquisam a obtenção de hidrogênio a partir do etanol e de biomassa – que é a denominação geral de materiais orgânicos com a finalidade de geração de energia, como resíduos urbanos (esgoto, lixo e restos de alimentos), agrícolas (bagaço de cana, por exemplo) e pecuários (dejetos de animais).

Em seu mestrado, ele fez um estudo teórico para verificar as condições que permitem menores custos na produção desse gás a partir etanol. “Agora estou estudando a utilização de células a combustível de hidrogênio utilizando o biogás gerado por biomassa. Trata-se de uma tecnologia de geração de energia elétrica para finalidades industriais, residenciais, comerciais e veiculares”, explica Antonio Carlos.

Como conta o pesquisador, o hidrogênio é o combustível do futuro. Gás nobre, com alto poder calorífero, não é poluente – um carro movido a célula combustível de hidrogênio libera vapor de água. É assim porque as células de hidrogênio produzem energia sem combustão e a emissão de gases de efeito estufa é muito pequena.

O gás pode ser obtido a partir do biogás gerado por biomassa, do gás natural, do etanol e do biodiesel. A vantagem de obter hidrogênio por meio do etanol submetido à alta pressão é que o produto é um combustível renovável e pouco poluente, ao contrário do gás natural, um combustível fóssil não renovável e altamente poluente. Além disso, o Brasil é o maior produtor mundial de cana de açúcar, o maior produtor de etanol e o detentor da tecnologia mais avançado no biocombustível.

O engenheiro civil Caetano Dorea, professor da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, é o terceiro brasileiro premiado. Seu trabalho consiste na implementação de um centro de pesquisa dedicado ao desenvolvimento de novas tecnologias de saneamento ambiental naquela universidade. Procurado pela reportagem, ele não retornou os contatos. Segundo os organizadores do concurso Green Talents, os vencedores foram selecionados devido às suas investigações que deverão contribuir, em longo prazo, com soluções para desafios globais como as alterações climáticas, a diminuição dos recursos energéticos e a poluição ambiental em grande escala.