Caixa eletrônico

Série de saques de ex-assessor de Flavio Bolsonaro contraria versão do ‘empréstimo’

Saques eram antecedidos por depósitos de valores equivalentes. Movimentação em dinheiro indica que PM não era destinatário dos recursos. 'Qual é a versão oficial?'

Roberto Jayme/Ascom/TSE

A hipótese é que ex-assessor ficava com parte dos salários de outros sete integrantes do gabinete de Flavio Bolsonaro

São Paulo – Detalhamento das movimentações bancárias do ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), o policial militar Fabrício José Carlos Queiroz, mostra que os maiores saques realizados por ele, em 2016, foram antecedidos de depósitos realizados anteriormente, “geralmente na véspera”, o que aponta que Queiroz não era o destinatário final do dinheiro movimentado.

“Essa movimentação é característica de uma conta de passagem, na qual o real destinatário do valor creditado não é o seu titular. O uso de dinheiro em espécie nas duas pontas da operação reforça esse indício”, aponta reportagem da Folha de S.Paulo nesta terça-feira (12), que utilizou informações que constam em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)

Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), a movimentação financeira sincronizada e os saques atípicos na conta de Queiroz colocam em suspeição a versão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e de seu filho. “Falta sintonia nas versões dos filhos de Jair Bolsonaro. Qual é a versão oficial?”, questiona o parlamentar. 

Renda incompatível com salários; moradia incompatível com renda

A quantidade de movimentações financeiras e o volume de recursos envolvidos causam também estranheza quando se observa o endereço de Fabrício de Queiroz. Reportagem publicada hoje por O Globo revela que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro mora em um casa humilde, em um beco no bairro Taquara, zona oeste do Rio. O ex-motorista e militar não é localizado desde a denúncia, há cinco dias.

 

Entre os dias 16 e 17 de fevereiro de 2016, por exemplo, Queiroz fez três saques de R$ 5.000 cada um, totalizando R$ 15 mil. Antes cinco depósitos em dinheiro vivo foram feitos em sua conta, entre os dias 15 e 17 de fevereiro, totalizando R$ 15,3 mil. Movimentação parecida volta a ocorrer nos dias 14 e 15 de junho daquele ano, com outros dois saques de de R$ 5.000 que antecederam um depósito de R$ 15,3 mil.

Segundo a reportagem, as movimentações bancárias indicam a hipótese de que Queiroz fosse responsável por recolher parcela dos salários de outros assessores do gabinete de Flávio Bolsonaro – sete, segundo o Coaf – que depois eram repassados à família. 

Bolsonaro e filho alegam que o dinheiro que Queiroz enviou à família, incluindo um depósito de R$ 24 mil reais em nome da futura primeira-dama, Michelle, se refere a pagamento de um empréstimo concedido ao ex-assessor, com quem manteriam laços de amizade. O empréstimo, no valor de R$ 40 mil, teria sido pago com dez cheques de R$ 4 mil cada. O Coaf não identificou essas movimentações. Em vez disso, apontou que o ex-assessor movimentou R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

“Se eu errei, arco com a minha responsabilidade com o Fisco sem problema nenhum”, disse Bolsonaro, no último sábado (8). Pela Lei nº 4.729/1965, é crime “prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei”.