PT, 38 anos

Querem que eu fique fora para sobrar uma vaga no segundo turno, diz Lula

Ex-presidente afirma que seu impedimento seria 'erro histórico' e 'crime contra a Constituição' e chama a atenção para quem, segundo ele, está 'disputando o espólio' dele e do partido

Ricardo Stuckert

Lula e Gleisi Hoffman celebram aniversário do partido: ato reafirmou candidatura do ex-presidente, sem “plano B”

São Paulo – Em ato pelos 38 anos de criação do PT, completados dia 10, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “todos” querem vê-lo fora da disputa eleitoral para que sobre uma vaga no segundo turno. Ele voltou a chamar de “mentirosa” a sentença do juiz Sérgio Moro, ratificada em segunda instância, e disse estar “de olho” naqueles que estariam disputando seu espólio e o do partido. “Estou só olhando, só matutando o que eles estão fazendo”, avisou Lula, enquanto líderes da legenda reafirmaram que não existe “plano B” em relação à candidatura para a Presidência da República.

Segundo o ex-presidente, excluí-lo da eleição seria um erro a ser julgado pela história. “Eles não têm a noção do crime que estão cometendo contra a democracia neste país”, afirmou durante evento na noite de ontem (22) na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, região central de São Paulo. “Não estou acima da lei, mas estou acima da mentira. Sei que o meu julgamento é político. Nenhum partido, nenhum banqueiro, nenhuma revista, nenhum jornal quer que eu disputa as eleições. Eles sabem que se eu for candidato só vai sobrar uma vaga no segundo turno”, disse Lula, ironizando Michel Temer: “Até ele acha que tem chance se eu não for candidato”.

O ex-presidente chamou de “analfabetos políticos” aqueles que o interrogaram e, mais uma vez, atacou a sentença, que segundo ele atinge sua honra. “Caráter a gente não compra no supermercado ou no shopping. A gente tem ou não tem. Se eles quiserem me tirar do jogo, vão ter de cometer um crime contra a Constituição.”

Além de vários líderes petistas e ex-ministros, participaram do ato os vice-presidentes do PCdoB, Walter Sorrentino, e do PCO, Antonio Carlos Silva. Sorrentino afirmou que seu partido e o PT são “aliados estratégicos” e estarão unidos “antes, durante e após as eleições”. Chamou Lula de “maior líder político do povo brasileiro, não só da esquerda” e afirmou que a aliança “em torno do Brasil, da democracia e dos trabalhadores vai continuar”. O PCdoB tem uma pré-candidatura própria, da deputada estadual gaúcha Manuela d´Ávila.

Também ligado à legenda comunista, o presidente da CTB, Adilson Araújo, discursou pela unidade. “A esquerda brasileira tem muita responsabilidade com o futuro próximo do nosso país.” Citou o slogan da campanha petista em 1989 (“Sem medo de ser feliz”) e destacou o “ciclo mudancista” liderado por Lula em seus governos. “Lula vai saber liderar uma frente ampla de esquerda, para que a gente possa efetivamente sacudir a poeira e dar a volta por cima.”

Silva, do PCO, disse que nos últimos anos a direita e até parte da esquerda, “ou que se diz de esquerda”, chegou a comemorar a “morte” do PT e disputar sua herança. “Vemos com muita alegria que esse prognóstico não se realizou”, acrescentou, afirmando que a ex-presidenta Dilma Rousseff saiu do Palácio do Planalto “com atestado de idoneidade” e foi substituída por uma quadrilha. 

Segundo ele, setores conservadores não querem eleições neste ano. “A direita, que não tem não tem candidato para derrotar o presidente Lula em eleições limpas, está disposta a tudo.” Garantir o processo exige mobilização, afirmou: “Não vai ser por acordo, vai ser na rua, pelos meios que forem necessários”.

A presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), disse que o ato da noite desta quinta era, sobretudo, uma reafirmação da candidatura e um desagravo a Lula. “É candidato de parcela expressiva do povo brasileiro. É tarefa do PT cuidar de Lula. O PT não tem plano B. O plano do PT é Lula. Essa história de plano B é daqueles que não estão no nosso partido, que não querem efetivamente que a esquerda tenha um candidato competitivo.”

Gleisi insistiu que se trata de uma “obrigação” do partido sustentar a candidatura do ex-presidente. “Lula tem direito de se defender de um processo injusto e fazer a luta política. É nosso dever estar à frente dessa luta.” A senadora afirmou que o país não vive um período de “normalidade democrática” e considerou a intervenção no Rio de Janeiro um aviso, um “recado claro que eles não vão titubear em usar a força”. 

Carnaval do vampirão

Líder do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ) também refutou qualquer plano alternativo ao nome de Lula. “Se eles insistirem nessa (hipótese), saibam que não estamos blefando. Eleição sem Lula não existe. É uma fraude, uma farsa, e nós vamos denunciar”, afirmou. “Esse golpe é para vender o país, para massacrar os trabalhadores. Eles sabem que enquanto houver PT, enquanto houver Lula, eles não vão conseguir.”

Ele chamou a intervenção no Rio de “mais do mesmo” e “guerra contra os pobres”. Afirmou que o estado precisa de políticas públicas e de uma polícia sem “lógica militarizada”. Também defendeu mudanças na política de combate às drogas. “Esse é um problema de saúde pública, não de repressão.”

Lindbergh também ironizou Temer, dizendo que o país teve o “carnaval do vampirão”, e afirmou que, sem votos para aprovar a “reforma” da Previdência e sem candidato forte, o governo colocou os militares na cena política. “Essa luta que vamos ter este ano está aberta”, disse o senador, reafirmando que o partido registrará o nome de Lula. “O que a gente não pode fazer é o jogo da Globo. Não tem plano B, é plano Lula”, reforçou.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que a burguesia que enfraquecer o PT por seus acertos. “Respeitem o PT, sua militância, sua origem, sua trajetória. Parem de achar que vão derrotar o PT”, afirmou, também fazendo menção ao Rio de Janeiro. “O Brasil precisa de uma intervenção social. Não queremos intervenção (militar), queremos eleições. Não ousem pôr a mão em Lula.”

Líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro alertou que o “ciclo do golpe” não acabou. “Muitos analistas disseram que não haveria o impeachment. Houve. Que não passaria no Senado. Passou. Que não passaria a reforma trabalhista. Passou. Que não haveria tempo para condenar o presidente Lula. Não há alternativa a não ser tomar as ruas.”

Também falaram no ato o coordenador estadual da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, da Frente Brasil Popular, a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Marianna Dias, a vice da UNE, Jessy Daiane, do Levante Popular da Juventude, e o presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann.

O ato, que teve rap (MC Lucas Afonso, da zona leste paulistana) e samba (Aline Calixto), terminou com um “parabéns” e bolo de aniversário. Lula citou vários nomes que fizeram parte das origens e da história do PT, como Florestan Fernandes, Sérgio Buarque, Mário Pedrosa, Paulo Freire, Lélia Abramo, Apolônio de Carvalho, Perseu Abramo, Henfil, Hélio Pellegrino, Carlito Maia, Luiz Gushiken, Marcelo Déda, José Eduardo Dutra, Adão Preto, entre outros, além de “minha companheira Marisa”.