tragédia

Jovem eletrocutado no carnaval de SP é enterrado. Quem são os responsáveis?

Dream Factory e Ambev (associada ao Lide) foram contratadas por Doria e Sturm em um processo investigado pelo MP para gerir o carnaval de rua, que registra tragédia em seu primeiro fim de semana oficial

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

No local onde ocorreu a tragédia é possível ver claramente o gato feito pela empresa contratada da Dream Factory

São Paulo – Foi enterrado na manhã de hoje (6), em Cardoso, interior paulista, o corpo do estudante Lucas Antônio Lacerda da Silva, de 22 anos, morto eletrocutado ao encostar em um poste na esquina das ruas da Consolação e Matias Aires, na capital paulista, durante o desfile do Bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, no domingo (4). O poste recebeu a instalação irregular de câmeras de vigilância por uma subcontratada da empresa Dream Factory, contratada pela gestão do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), para organizar o carnaval de rua. O chefe do Executivo e o secretário municipal de Cultura, André Sturm, não se manifestaram sobre o ocorrido.

Lucas, que fez aniversário na sexta-feira anterior ao desfile, estava procurando um banheiro quando encostou no poste, foi eletrocutado e caiu. Segundo relato dos amigos, guardas civis metropolitanos testemunharam o incidente, mas disseram não ter capacitação para prestar socorro. Uma médica que participava da festa prestou os primeiros socorros a ele e a ambulância levou aproximadamente meia hora para chegar ao local.

Ele foi levado à Santa Casa de Misericórdia onde a equipe médica tentou reanimá-lo por 30 minutos. O jovem morava em uma república estudantil em Santo André e cursava Engenharia na Universidade Federal do ABC.

Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e o Departamento de Iluminação Pública (Ilume), órgãos da prefeitura de São Paulo, as câmeras foram instaladas sem autorização, de forma irregular. Nas fotos do local é visível que foi feito o popular “gato”, puxando um fio de outro poste para energizar os equipamentos instalados na esquina. As câmeras de segurança pertencem à empresa GWA System, contratada pela Dream Factory para monitorar os desfiles dos blocos no carnaval de rua de São Paulo.

Trabalhadores de um restaurante em frente ao local do incidente disseram em entrevistas que o poste já estava causando choques em quem passava desde a instalação das câmeras, antes do desfile. Em nota divulgada ainda no domingo, a empresa Dream Factory informou que lamentava o ocorrido e que estava disposta a colaborar com as investigações, mas que somente após a perícia seria confirmada a causa da morte do rapaz.

A Dream Factory venceu a concorrência aberta pela gestão Doria para administrar os R$ 20 milhões de patrocínio do carnaval de rua. O processo está sob investigação do Ministério Público paulista após denúncia da rádio CBN de que houve direcionamento do pleito para garantir a vitória da empresa, indicada pela Ambev. Integrantes de alto escalão da gestão Doria teriam manipulado o processo, orientando a Dream Factory a alterar sua proposta para vencer a licitação.

O edital definia que seria vencedora a proposta com maior investimento em itens de interesse público, como segurança, limpeza, banheiros e ambulâncias. Em dezembro, três das interessadas foram impugnadas e a proposta da Dream Factory, agência contratada pela Ambev, foi escolhida. A agência SRCOM, contratada pela Heineken, recorreu e a Comissão Avaliadora da Secretaria Municipal de Cultura decidiu recolocar a proposta dela na disputa.

A proposta da Dream Factory era de R$ 15 milhões, dos quais apenas R$ 2,6 milhões se enquadravam na definição de interesse público do edital. Já a da SRCOM era de R$ 8,5 milhões, sendo R$ 5,1 milhões de ações de interesse público. A Comissão Avaliadora selecionou a proposta da SRCOM, mas o alto escalão da gestão Doria decidiu contratar a Dream Factory. A Ambev, contratante da agência Dream Factory, é associado ao Lide – Grupo de Líderes Empresariais, entidade fundada e presidida por Doria antes de se eleger prefeito.

Embora CET e Ilume aleguem que não foi emitida autorização para instalação do monitoramento, parece que também não houve qualquer ação de fiscalização por parte da gestão Doria. Não havia um projeto sobre como se daria o monitoramento do evento? Definição de onde e como seriam instalados os equipamentos?

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o caso foi registrado como morte suspeita e a investigação está sob responsabilidade do 4° Distrito Policial (Consolação). “Os responsáveis pela organização do evento serão acionados, e a polícia aguarda os laudos referentes à perícia feita no local e o resultado do exame necroscópico na vítima, que podem auxiliar no esclarecimento do caso.”