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‘A caravana é um momento de a gente esperançar’

Em meio a um público diverso, até mesmo uma vereadora do PSDB saudou a passagem de Lula em seu terceiro dia de jornada em Minas Gerais

Ricardo Stuckert

Lula na cidade de Itinga: recepção calorosa

São Paulo –Nesta quinta-feira (26), a Caravana Lula pelo Brasil continua em Araçuaí, na região do Jequitinhonha, pela manhã e depois segue para Salinas, no início da tarde. Como foi rotina na jornada feita pelo Nordeste, o ex-presidente fez paradas não programadas nas cidades de Catuji e Padre Paraíso, antes de chegar nas previamente agendadas Itaobim e Itinga na tarde desta quarta. Mais uma vez, as pessoas que prestigiaram a visita da comitiva tinham histórias para contar e citavam avanços, alguns em risco hoje, como estímulo para estar ali.

A irmã Maria Isabel Rosa, missionária de 71 anos de Matosinhos, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, se mudou para Itaobim há cinco anos, e conta que ficou surpresa ao chegar na cidade. “Quando vim morar aqui estranhei muito que não via pessoas pedindo comida na rua, nas casas. Conversei com uma moradora e ela disse que depois de Lula e Dilma, com o Bolsa Família, não havia mais pessoas pedindo”, ressalta. Para a religiosa, a esperança de dias melhores reside em um possível retorno de Lula. “Vim prestigiar nosso ex-presidente, torcendo para que seja nosso presidente no futuro.”

“A nossa região é muito pobre e precisa muito de um presidente voltado para o pobre. Esses outros presidentes que passaram pelo governo nunca fizeram nada por nós, e Lula fez por todos nós”, diz Pericles Colen, 54 anos, lavrador de Padre Paraíso, apontando o que considera ser uma das principais qualidades do ex-presidente. “Muito humano, sabe? É gente como a gente.”

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O cartorário Edmilson, a vereadora Maria do Carmo (PSDB, mas apoia Lula) e a irmã Maria Isabel
Cláudia Motta/TVT/RBAPessoas
O cartorário Edmilson, a vereadora Maria do Carmo (PSDB, mas apoia Lula) e a irmã Maria Isabel

RBAMaria Geralda
Maria Geralda, doméstica, quilombola e consciente de seus direitos

A atenção dada a uma região carente não apenas de recursos econômicos, mas também em termos de políticas públicas, é algo marcante para a população local. “Lula foi o único que lembrou que o Vale do Jequitinhonha existe”, relata Edilene Pereira, 52 anos, de Itaobim. Ela destaca ainda que o ex-presidente foi responsável pela ponte de Itinga, uma obra citada por ele quando anunciou, em entrevista à rádio Super Notícia FM, de Belo Horizonte, a programação de sua caravana em Minas Gerais.

O líder petista considera a ponte um dos marcos de seu governo. “Prometi em 1993 (durante passagem da primeira edição da Caravana da Cidadania). Toda vez que eu ia à Itinga, tinha que atravessar de balsa o rio. O balseiro tinha um caroço embaixo do braço de tanto empurrá-la. Eu pensava que um dia faria uma ponte ali. Quando ganhei as eleições, foi feita a ponte, que é um orgulho do povo de lá”, contou.

Um olho no presente, outro no futuro

Ainda que listar os feitos dos governos petistas seja algo recorrente entre as pessoas que vão ver Lula na caravana, a situação atual é motivo de temor por parte de muitos. “Veio a mudança, muitos empregos, e agora veio esse governo Temer que está acabando com os direitos do trabalhador, principalmente o mais sofrido da nossa região”, conta Edmilson Rezende Pereira, cartorário de 56 anos e filho de um dos fundadores do PT local.

“Nesse governo (Temer) não tem as casas populares, muita gente está pagando aluguel sem poder”, conta Maria Carmo Soares Rosa. Ela prestigiou a passagem do ex-presidente mesmo sendo vereadora de uma legenda rival, o PSDB, na cidade de Itaobim. “Algumas pessoas estão com fome e Lula entrando, melhora a vida das pessoas”, pondera.

Em meio à passagem por Itinga, Lizian Martins, de 28 anos e formada em Serviço Social pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, diz que a região mudou em função dos programas sociais do governo petista. E, no atual contexto, a vinda do ex-presidente também traz uma perspectiva de futuro. “A caravana é um momento de a gente ‘esperançar’, trazer esperança pro povo não só no contexto eleitoral mas também de melhorias diante de tanto retrocesso que estamos vendo em nossos direitos e políticas públicas de forma geral”, avalia.

Ana Flávia Félix, de 16 anos, faz ensino médio em Araçuaí, para onde partiu a caravana depois de deixar Itinga, e estava junto com Lizian e outros integrantes do Levante Popular da Juventude. Ela destaca a construção de universidades e escolas técnicas. “Antes, a juventude daqui tinha que sair do Vale em busca de trabalho, universidade, para quem sabe um dia voltar”, conta, lembrando que, mesmo com avanços, o problema ainda existe. “A nossa luta é pela permanência da juventude aqui na região por meio de escolas, universidade, ensino de qualidade e trabalho.”

Já à noite, a empregada doméstica Maria Geralda Gomes, 54 anos, se misturava à multidão que no centro de Araçuaí fechava a jornada desta quarta. Maria conta que conseguiu se aposentar, mas que ainda precisa trabalhar – agora conhecendo melhor seus direitos.

“Trabalhei 30 anos para uma família em São Paulo. Quando não precisaram mais… ai, não gosto nem de falar… Depois da morte da patroa os filhos não quiseram reconhecer meus direitos. Tive de entrar com ação na Justiça para conseguir aposentar”, conta, lembrando que as leis que ampliaram os direitos dos domésticos hoje proporcionam condições mais seguras. “Hoje não tenho mais raiva dos filhos da minha patroa, sou até grata a eles, porque depois daquilo tudo aprendi a reivindicar e voltei para Minas. Sou uma quilombola, com muito orgulho, e vim aqui agradecer ao Lula por tudo o que fez pelos pobres.”

Ricardo StuckertLula em Itinga
Ato ocorreu diante da ponte erguida para substituir as travessias de "balsas" tocadas no braço