Forças ocultas

Mesmo com queda de Temer, mercado vai querer continuar no comando

Agentes da imprensa comercial e do sistema financeiro pretendem, no mínimo, manter a atual equipe econômica. Cenário fortalece movimento por diretas já e restauração democrática

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mercado e mídia perderam Temer com opção de condução dos objetivos do golpe

São Paulo – Na manhã desta quarta-feira (17), na Globo News, a cobertura dava o tom do que parte da elite econômico-financeira espera em um período pós-Temer. O comentarista Valdo Cruz falava em “separar a economia da política”, ressuscitando um discurso tecnicista que julga ser possível isolar um do outro (algo que todas as investigações em curso ratificam ser impossível). Contando com a concordância de sua colega Cristina Lôbo, a sugestão era de que um novo governo mantivesse a atual equipe econômica.

Juntando isso a outros elementos da narrativa construída pela emissora na noite anterior, na qual ressaltava a todo momento que o pedido por eleições diretas seria “inconstitucional”, e a avaliações de comentaristas entoando que “estávamos indo tão bem”, buscando ressaltar uma quase invisível competência da condução da economia pelo governo Temer, resta nítida a mensagem: um novo governo, eleito de forma indireta, precisa manter a mesma toada dos atuais ocupantes do Planalto no campo econômico.

Consultorias já avaliam que Temer caiu. A MCM Consultores vai além, apontando, em nota enviada a clientes, que “do ponto de vista da economia e da restauração da normalidade no país, quanto mais rápido Temer cair, melhor”. Segundo sua avaliação, a renúncia do presidente seria o melhor caminho, havendo como alternativa a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE. O impeachment, por ser uma via demorada e custosa, está excluído da lista de opções.

Já a consultoria internacional de risco político Eurasia Group concluiu que Temer “perdeu as condições de continuar a negociação pela reforma da Previdência” e que “qualquer presidente eleito pelo Congresso terá fortes incentivos para colocar a reforma da Previdência de volta aos trilhos”. Ainda assim, o grupo adverte que o andamento da reforma “dependerá de como as ruas vão reagir”.

Entre os possíveis nomes especulados para serem escolhidos em uma eleição indireta está o da presidenta do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia.

É importante lembrar que a ministra manteve uma agenda com parte significativa do PIB brasileiro na segunda-feira da semana passada. Nomes como Betania Tanure (consultora da BTA – Betania Tanure Associados), Candido Bracher (novo presidente do Itaú Unibanco), Carlos Schroder (diretor-geral da Rede Globo), Chieko Aoki (fundadora e presidente da rede Blue Tree Hotels), Décio da Silva (controlador da fabricante de motores Weg), Flavio Rocha (dono das lojas Riachuelo), Jefferson de Paula (chefe da ArcelorMittal Aços Longos na América do Sul), Luiza Helena Trajano Rodrigues (dona da rede Magazine Luiza), Paulo Kakinoff (presidente da Gol Linhas Aéreas), Pedro Wongtschowski (empresário do grupo Ultra, dono da rede Ipiranga), Rubens Menin (dono da construtora MRV), Walter Schalka (presidente da Suzano Papel e Celulose) e Wilson Ferreira (presidente da Eletrobras). Não se pode dizer que foi um encontro secreto, pois estava na agenda pública de Cármen. Mas é possível inferir que não é papel da chefe de um dos poderes da República – que um dia julgará processos de interesses desses personagens – se reunir com atores econômicos sem a presença dos demais poderes.

Em seu blog, o jornalista Rodrigo Vianna, ao mencionar a presença “do diretor-geral da Globo” no encontro, observa que a ministra “seria o nome dos sonhos” da emissora para comandar um governo ‘técnico’, sob a chancela de Meirelles, sem ‘políticos’. Um governo ‘limpo’, que desse apoio pra Lava-Jato concluir sua tarefa: impedir Lula de concorrer na eleição de 2018″.

Seria uma candidata do status quo, com o objetivo de trazer um verniz de legitimidade para a cadeira da presidência. Em janeiro, ela já havia sido “lançada” pelo jornalista Elio Gaspari: “O desembaraço e a exposição conseguidos pela ministra seriam apenas um asterisco se o nome dela não estivesse na lista de prováveis candidatos a presidente da República. Numa eventual eleição indireta para substituir Temer, com certeza. Na disputa de 2018, talvez.”

O jornalista da Folha Igor Gielow especula que um outro eventual substituto de Temer, além da presidenta do Supremo, seria o já hoje todo-poderoso ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Em seu favor, ele seria o candidato ideal para o PIB, o ‘homem das reformas’ ou algo do gênero. Seria impopular, talvez como Temer, mas até aí 2018 está na esquina”, afirma.

Em resumo, o conluio financeiro-midiático vai buscar continuar no poder, preservando sua agenda principal que é a das chamadas reformas. Seja por qual via for, o interesse principal desse grupo é evitar que aconteçam eleições diretas, onde o jogo fica menos previsível, sendo que suas pautas não teriam chances de serem aprovadas pela população. Por conta disso, mas não só, a mobilização por diretas ganha força nesse cenário. É da sociedade que eles têm medo.