Economistas criticam alta de juros e defendem esforço público por mais investimentos

Rede ferroviária de carga e de passageiros espera por investimentos públicos (Foto: Rubens Valente/Folhapress) São Paulo – A provável elevação da taxa básica de juros da economia pelo Comitê de […]

Rede ferroviária de carga e de passageiros espera por investimentos públicos (Foto: Rubens Valente/Folhapress)

São Paulo – A provável elevação da taxa básica de juros da economia pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nesta quarta-feira (2), é criticada por economistas ouvidos pela Rede Brasil Atual. Para eles, a preocupação com a inflação é excessiva e até equivocada, por confundir pressões sazonais e internacionais com as de demanda (relacionadas ao consumo). Sobram ainda críticas ao uso da Selic como única forma de controlar a inflação e à falta de garantias de investimentos para evitar gargalos que têm contido o crescimento econômico.

Para Roberto Pires Messemberg, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a abordagem na política econômica está completamente equivocada. “Estamos adotando uma agenda que era do início do governo Lula, na era do (então ministro da Fazenda, Antonio) Palocci. Para o momento atual, é uma agenda completamente equivocada, não é hora de correr atrás de arrecadação, preocupar-se com aumento de gastos para fechar buraco”, reclama.

O economista defende que, em vez de elevar juros e promover ajuste fiscal, o país deveria estar voltado à expansão do investimento público, remanejando verbas para bancar esse aumento de modo a romper gargalos na economia. Ele cita geração e transmissão de energia elétrica, ampliação de portos e aeroportos e segurança pública como áreas prioritárias. “Com tanta coisa para fazer, não convém ficar preso a uma agenda do final do século passado, que era de governo passado (de Fernando Henrique Cardoso) e do início do governo Lula. Já tinha de estar para trás”, critica.

Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), concorda com a necessidade de maior atenção aos investimentos. O problema das taxas de juros é o nível em que se encontram, comparativamente aos de outras nações. “Se fossem mais baixos, subir 0,25 ou 0,5 ponto percentual, o efeito (sobre os preços) seria o mesmo, mas como é comparativamente elevada, isso encarece o custo do capital, inibe decisões de investimento e tem efeitos sobre o câmbio, por atrair muito capital”, enumera.

Ambos reconhecem que os juros são efetivos para reverter expectativas inflacionárias, mas criticam os efeitos ruins do ponto de vista da expansão da economia. “Além disso, percebe-se que a interpretação sobre a inflação está muitas vezes equivocada. O Banco Central vê inflação de demanda, quando ela é de custos”, analisa Souza.

Ele lembra que, em 2008, ainda antes da eclosão crise financeira internacional, o Copom elevou a taxa básica de juros por duas vezes seguidas por constatar uma inflação de demanda, quando na verdade ela estava ligada a alimentos. Por causa da persistência dessa visão, o Brasil foi um dos últimos países a baixar juros apesar da recessão mundial que se avizinhava.

Entre as pressões da inflação afetadas pela sazonalidade, os principais expoentes são os custos de transportes – como passagens de ônibus – e os relacionados ao início do período letivo, incluindo mensalidade e material escolar. Ao mesmo tempo, há elevação de preços de commodities, como produtos agrícolas e minerais, caso do minério de ferro.

“A taxa de juros vai ser boa para inibir a demanda, mas não serve para aumento de custo”, pontua Silva. Para conter o consumo das famílias, outros meios seriam mais eficientes, como as restrições ao crédito aplicadas pelo próprio governo. Algumas dessas medidas vem sendo adotadas desde o ano passado, como o aumento do compulsório (parcela dos depósitos captados pelos bancos que obrigatoriamente precisam ser retidos junto ao Banco Central).

Ajuste fiscal

Os economistas entrevistados divergem em relação à necessidade de ajuste fiscal por parte do governo federal. Para Messemberg, a inflação não está fora de controle e o nível de atividade já está desacelerando, até pelas restrições ao crédito já colocadas. “Fazer restrição de crédito para elevar juros e fazer ajuste fiscal e crescer pouquinho, aí não entendo. Não tem sentido fazer ajuste fiscal só porque o mercado acha legal”, lamenta.

Souza, por outro lado, entende que o corte de despesas é “louvável” porque pode ajudar a reduzir a taxa de juros a médio prazo. Mas ele lembra que muito dessa elevação será paga pelo próprio setor público, já que sua dívida é corrigida por alíquotas influenciadas pela Selic. “Ao fazer o ajuste, permite-se uma política menos restritiva. Mas se a economia está em um bom momento, não se pode inibiar nem, muito menos, cortar esse crescimento”, pondera.