Araguaia: militar simpatizante da ditadura “não é recomendável”, diz Vannuchi

Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, espera chamado do presidente Lula para apaziguar as discordâncias nas buscas da Operação Tocantins no Araguaia

(Mapa Ilustrativo: Júlia Lima)

O repórter Rodrigo Rodrigues do Jornal Brasil Atual esteve no lançamento do Instituto Vladimir Herzog, nessa quinta-feira (25) e entrevistou o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, que falou sobre o Grupo de Trabalho criado pelo Ministério da Defesa para a busca e localização dos corpos de guerrilheiros e militares na região do Araguaia e sobre a condução dessas buscas da chamada Operação Tocantins ficar a cargo de um general simpatizante da ditadura militar.

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 “Falei com o presidente da República, que nos jornais de ontem (dia 24) disse que iria chamar o ministro Jobim para conversar junto conosco para buscar o entendimento comum. Não tenho uma posição de conflito com o ministro Jobim, de desqualificação do seu trabalho. Saúdo o aspecto positivo que é a decisão de fazer pela primeira vez na história… Agora de fato as famílias têm razão quando repudiam o fato de não haver uma participação direta das famílias e, sobretudo, da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que é uma Lei Federal 9.140, pelo menos o seu presidente, Marco Antônio Barbosa tem de estar nessa Comissão. Lembrei ao ministro Jobim, com muito companheirismo e de maneira muito fraternal, que a Lei 9.140 é de autoria dele. Ele era ministro da Justiça do governo Fernando Henrique, José Gregori era seu chefe de gabinete. José Gregori foi o arquiteto da lei. Daí a importância incontornável dessa expedição ao Araguaia anunciada ser incorporada com a presença em grau de responsabilidade equivalente da Comissão Especial, dos Familiares e do Ministério Público Federal. Eu ainda agregaria a presidência da OAB e uma expressiva representação da imprensa para que não paire a menor dúvida do empenho do Estado brasileiro em fazer a pesquisa mesmo que tenha características de agulha no palheiro, essa procura equivale o Estado brasileiro reconhecer o que ainda deve a essas vítimas e seus familiares.”

Ouça também >> “Não acho recomendável”

“Elas (familiares) expressaram isso diretamente ao ministro Jobim numa reunião que eu articulei, mas não participei. O ministro os recebeu, elas (familiares) apresentaram por escrito a ele e ele respondeu que como ministro tem autoridade para comandar esse general e comandará e o general cumprirá. Ele não tem como forçar um militar a ter opiniões que ele expressou naquele momento. Precisa entender isso. Eu, pessoalmente, acho que não é recomendável mesmo que a operação seja só técnica-militar, estar nas mãos de uma pessoa que acaba de fazer essa declaração.”

Guerrilha do Araguaia
A Guerrilha do Araguaia foi o movimento armado organizado durante a ditadura militar no Brasil pelo PC do B, na região do Bico do Papagaio, entre o atual território do Tocantins, Pará e Maranhão. A ação foi severamente reprimida pelas Forças Armadas em 1974 com cerca de 5 mil agentes, entre homens das polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil. Foram 84 mortes, das quais 69 guerrilheiros ou apoios da guerrilha, 11 militares e quatro camponeses.
Por determinação judicial o Exército se prepara para, no mês que vem, iniciar as buscas dos corpos de guerrilheiros nos possíveis locais de sepultamentos, clandestinos e oficiais.

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