Luta Mundial

Trabalhadores da Nissan nos EUA lutam pelo direito de se organizar

Na semana que vem, votação em fábrica no Mississipi decide sobre direito dos empregados de se filiar ao UAW, sindicato nacional da categoria, que denuncia práticas de intimidação da montadora

Divulgação/UAW

Sindicalistas brasileiros participaram da Marcha do Mississípi, em apoio aos trabalhadores da Nissan

São Paulo – Trabalhadores norte-americanos da Nissan estão em luta para constituir um sindicato. Um plebiscito para decidir sobre a sindicalização dos trabalhadores da fábrica de Canton, no estado do Mississipi, sul dos Estados Unidos, deverá ocorrer entre 31 de julho e 1º de agosto. A montadora, denunciada mundo afora por práticas antissindicais e por violação dos direitos trabalhistas, sempre resistiu à medida. E mesmo após a aprovação do processo eleitoral, ainda tenta intimidar os empregados. 

Segundo ex-ministro e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) Paulo Vannuchi, que acompanha, nos Estados Unidos, as ações em solidariedade aos trabalhadores, a Nissan é tida como uma das empresas que promove as ação mais truculenta contra os trabalhadores.

Ele afirma também, em comentário na Rádio Brasil Atual, que essa luta “mistura a luta sindical com a luta por direitos raciais, já que o estado do Mississípi traz viva a história do regime de segregação racial que vigorou até a década de 1960. Na fábrica, a maioria dos trabalhadores é composta por afro-americanos e latinos. 

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A luta dos trabalhadores para poder contar com um sindicato que os represente coletivamente, no caso o United Auto Workers (UAW), entidade que reúne trabalhadores da indústria automobilística dos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico, ganhou novo impulso em março, quando cerca de 5 mil trabalhadores, sindicalistas, estudantes, políticos e ativistas realizaram a Marcha no Mississípi, para exigir que a empresa respeitasse os direitos dos trabalhadores. Estiveram presentes o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, e o o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres.

Desde então, a Nissan vem promovendo diversas ações, de demissões a constantes reuniões, com objetivo de conduzir seus empregados a não aderir à campanha pela sindicalização. Há cerca de 10 anos, lembra Vannuchi, até mesmo o ex-presidente George W. Bush chegou a visitar a fábrica para pedir que os trabalhadores não se sindicalizassem, quando o plebiscito foi derrotado pela primeira vez, prática também reproduzida pelo governo local.

Na “lavagem cerebral” desencadeada, representantes da companhia afirmam que a sindicalização pode levar à queda da produção, e comparam com o declínio da indústria automobilística em Detroit, berço das montadoras norte-americanas, que enfrenta forte crise desde finais da década de 1990 – e não pelo fato de seus trabalhadores serem organizados, mas em decorrência da globalização e da reestruturação produtiva, que fez com que o nível de sindicalização de trabalhadores do setor privado na maior economia do mundo despencasse para menos de 10% desde o início dos anos 1980.

Segundo a legislação norte-americana, para que os trabalhadores sejam representados por sindicato, é preciso que a proposta seja vencedora por maioria em votação, envolvendo todos os funcionários da fábrica, com o aval do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB), o órgão fiscalizador. 

Para apoiar a luta dos trabalhadores da Nissan pela direito à sindicalização, estão previstas, na próxima semana, ações em todo o mundo. No Brasil, protestos que denunciam as práticas antissindicais da montadora serão realizadas nas agências da marca. Entidades sindicais do mundo todo, como a CUT e a CNM-CUT, têm realizado campanhas em defesa dos empregados da montadora há anos.

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