Entrevista

‘Temer é o grande construtor da greve geral’, diz Vagner Freitas

'O governo quer dinamitar o sindicalismo porque o sindicalismo resiste às propostas inadequadas que o governo faz', afirma o presidente da CUT. Para ele, base aliada no Congresso está 'pulando do barco'

Divulgação/CUT

Vagner: “Precisamos ter uma mudança no Brasil, ter diretas já, eleições para o Congresso Nacional”

São Paulo – O presidente da CUT, Vagner Freitas, aposta na greve geral da próxima sexta-feira (28) como uma primeira etapa de mobilizações nacionais que têm o objetivo barrar as reformas do governo Michel Temer, num momento em que o grupo que ocupa o Palácio do Planalto perde mais e mais apoio.

Ontem, o PSB fechou questão contra as reformas trabalhista e da Previdência. O partido tem bancada de 36 deputados federais e três senadores. “Se (a greve do dia 28) não for suficiente podemos repetir outra greve geral, maior, talvez de 48 horas. Podemos ocupar Brasília, ir até o Congresso Nacional, nas votações, se eles não retirarem as votações, principalmente da trabalhista e da Previdência”, diz Freitas.

Para o sindicalista, a base aliada “vai pulando do barco”, diante das pesquisas que “demonstram que o governo Temer não tem popularidade, não tem credibilidade e respeitabilidade”.

Segundo o presidente da CUT, as centrais vão conversar logo após a greve do dia 28 para avaliar os próximos passos das mobilizações. “O que não há dúvida nenhuma é que a greve geral será bem sucedida e terá desdobramentos”, promete.

Ele diz ainda que, com a sua determinação de retirar direitos dos trabalhadores, “Temer é o grande construtor da greve geral”. Confira abaixo a entrevista.

Quais os desdobramentos possíveis da greve de 28 de abril?

Convocamos a greve geral pra impedir que o Congresso Nacional vote as reformas do Temer, na Previdência, na questão do trabalho, como foi na terceirização, que são altamente prejudiciais aos trabalhadores. A greve geral é um instrumento de luta que tenta barrar isso. Se não for suficiente, podemos repetir um outro dia de greve geral, maior, talvez de 48 horas. Podemos ocupar Brasília, ir até o Congresso Nacional, nas votações, se eles não retirarem as votações, principalmente da trabalhista e da Previdência. São questões que serão discutidas e terão continuidade após avaliação do dia 28.

Se conseguirmos barrar as reformas com a greve geral, com a ocupação de Brasília, o governo fica bastante enfraquecido, e ele já é frágil, sem credibilidade. Precisamos ter uma mudança no Brasil, ter diretas já, eleições para o Congresso Nacional, para a gente voltar à normalidade democrática e ter crescimento econômico, porque os trabalhadores estão sofrendo.

Há data para possíveis mobilizações a Brasília?

Vamos sentar logo no dia seguinte ao dia 28, com as centrais, provavelmente, para discutir uma marcha a Brasília, uma greve geral de 48 horas. O que não há dúvida nenhuma é que a greve geral será bem sucedida e terá desdobramentos. Não podemos fazer a greve e parar.

O presidente da UGT, Ricardo Patah, e outros sindicalistas têm falado de unidade e de “indignação com o desmonte que esse governo está fazendo”. Ou seja, o governo Temer conseguiu a união das centrais?

É uma unidade na convocação da greve geral, na realização da greve por todas as centrais. É porque o Temer é a política da terra arrasada. As centrais fazem o enfrentamento contra o desmonte que estão fazendo dos direitos trabalhistas. Ele tenta inviabilizar o movimento sindical de modo geral, principalmente quando propõe acabar com a CLT, com os direitos, com a Justiça do Trabalho, permitir a negociação individual e isolada do trabalhador com o empregador, sem intermediação dos sindicatos. O Temer é o grande construtor da greve geral, não são nem os sindicatos e as centrais. É o Temer, com a sua postura de tirar direitos dos trabalhadores, que vai unificando todos os nossos esforços para impedir, seja de qual orientação forem os trabalhadores.

Concorda com André Singer, que disse que o governo quer “dinamitar os sindicatos brasileiros”, principalmente ao se voltar contra o imposto sindical, eliminando assim a principal base de resistência aos seus projetos?

O governo quer dinamitar o sindicalismo porque o sindicalismo resiste às propostas inadequadas que o governo faz. Não é só uma questão por conta do financiamento. A CUT entende que o financiamento sindical deve mesmo ser alterado. Entendemos que o imposto sindical deve ser substituído pela contribuição sindical, com a diferença que ele deve ser aprovado pelos trabalhadores em assembleia, e não como um imposto como é hoje. Defendemos isso desde que a CUT existe. Não é esse o ataque principal que ele faz ao movimento sindical.

O ataque principal é acabar com as categorias organizadas, com os direitos trabalhistas e com a Justiça do Trabalho. Com isso, ele inviabiliza a representação dos trabalhadores pelos sindicatos, independente da questão financeira, que é mais um adendo. Esse governo não tem moral e legitimidade para mexer no financiamento sindical também. Fique claro que a CUT é contra mexer na questão do imposto sindical por esse governo, que está pensando não do trabalhador, mas em impor uma derrota aos sindicatos. O grande problema dessas reformas é você pulverizar toda a organização sindical que existe. Quando ele acaba com as categorias profissionais formais organizadas, vai acabando com a representação que os sindicatos têm. Isso é o principal. O financiamento é um adendo.

Como avalia a perda de base e apoio ao governo para as reformas trabalhista e da Previdência?

É um apoio que não existe mais. Recentes pesquisas CUT/Vox Populi, do Ibope, demonstram que o governo Temer não tem popularidade, não tem credibilidade e respeitabilidade. E agora sua base aliada vai percebendo isso e vai pulando do barco. Isso vai acontecer e a greve geral vai ajudar nesse enfraquecimento do governo. O fim dele seria importante demais para os trabalhadores.