greve geral

Ato contra reformas reúne dezenas de milhares em São Paulo

Aproximadamente 70 mil pessoas, segundo organizadores, se reuniram no Largo da Batata, zona oeste da capital paulista. PM dispersou ato próximo à casa de Michel Temer

Ricardo Stuckert

‘Eu to na luta, na resistência. Contra a reforma da Previdência’, cantam em coro os manifestantes

São Paulo – “Hoje demos o recado de que não vamos aceitar o fim do direito de se aposentar. Não vamos aceitar uma reforma trabalhista que ataca mais de 80 anos de direitos”, afirmou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, para cerca de 70 mil pessoas, segundo organizadores, no Largo da Batata, zona oeste de São Paulo. O ato fez parte do conjunto de manifestações deste dia de greve geral.

A concentração do ato estava marcada para as 17h, entretanto, os manifestantes ignoraram o tempo frio e a garoa fina da cidade e começaram a chegar bem antes no local, por volta das 14h. O número dos presentes foi aumentando progressivamente e, por volta das 19h, a manifestação seguiu para a rua da casa do presidente Michel Temer (PMDB), no Alto de Pinheiros. No local, os manifestantes foram dispersados pela ação policial com bombas de gás lacrimogêneo, pouco depois das 20h.

“É muito engraçado que a grande mídia afirme que a greve atrapalhou a vida das pessoas”, continuou Boulos, “eles não se preocupam com um projeto que vai destruir o futuro do país, mas se preocupam em ficar no trânsito.”

“Eles queriam uma greve geral em torno de um pato inflável na Avenida Paulista”, ironizou, referindo-se aos atos que pediam o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. “Mas para dar o recado temos sim que parar o país. Natural que alguns se sintam incomodados, mas o recado foi dado.”

reprodução;midia ninja
Manifestantes ignoraram o tempo frio e a garoa para protestar contra as reformas de Temer

Sobre futuras mobilizações, Boulos, que também integra a Frente Povo Sem Medo, disse que vai depender da reação da classe política. “Se entenderem, muito bem, vão retirar essas reformas da pauta e nós vamos continuar nas ruas para derrubar esse governo ilegítimo. Agora, se não tiverem um pingo de juízo e continuarem querendo aprovar as reformas, que fique o aviso, inclusive para os infiltrados: o que vai acontecer é que vai se aprofundar o conflito social nesse país”, apontou.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) também discursou no carro de som, afirmando que “o governo quer acabar com este país”. “O Brasil não quer retirada de direitos sociais. O Brasil quer uma economia que cresça, gere emprego e respeite o trabalhador. Queremos política social séria e democracia intacta. Um governo que usa política para negociar com movimentos sociais é falido e coloca em risco a democracia e a Constituição”, completou.

“Hoje foi nossa maior demonstração de força. Aqui começa a queda do governo Temer. Aqui começa a caminhada rumo às eleições diretas e gerais já. O povo quer escolher seus dirigentes, quer tirar o Temer do Palácio. Por isso, as eleições são o único caminho e o único instrumento para salvar a democracia”, concluiu a senadora.

Seu colega de Senado e de partido Lindbergh Farias (RJ) prometeu, em seu discurso, que as frentes progressistas vão voltar ao poder. “E não vamos voltar com uma política de conciliação. Queremos um programa de reformas de base e precisamos falar grosso com banqueiros, precisamos de auditoria da dívida. Queremos falar para os multimilionários que teremos taxação de grandes fortunas e falar para a Globo que vamos acabar com o monopólio da imprensa. Vamos ter que reformar o Estado e também temos o ponto central de desmilitarizar as polícias”, disse.

O ativista da Frente Alternativa Preta Douglas Belchior argumentou que a população negra é a mais afetada negativamente com as propostas do governo Temer. “O povo negro sempre lutou para ter o direito de ser explorado nas fábricas. Hoje, lutamos contra a precarização do trabalho. É o povo negro que sempre ocupou cargos terceirizados, em sua maioria. É a família negra nordestina que sai do campo e vem para a cidade com o sonho da carteira assinada, 13º e férias remuneradas. Agora, esses canalhas nos atacam. Então dizemos que o golpe é contra os pretos e contra a favela”, afirmou.