Questionamento

Dirigentes da Força divergem sobre mudanças na Previdência

Parte dos dirigentes da central, que fará congresso em junho, era contrária à apresentação de emendas por parte do presidente, deputado Paulinho, que defende 'contraponto' à PEC governista

​Jaélcio Santana/Força Sindical

Paulinho (à esq.) no debate com Maia defendeu idade mínima de 60 anos para homens e 58 anos para mulheres

São Paulo – O debate na Força Sindical, hoje (20), mostrou posições divergentes em relação ao encaminhamento de propostas sobre a reforma da Previdência. Para alguns, inclusive, o melhor seria não apresentar emendas à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, considerada indefensável e prejudicial aos trabalhadores. Nesse sentido, alguns divergiram do presidente da central, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP). As críticas, políticas e técnicas, podem refletir também o clima interno causado pela proximidade do oitavo congresso nacional da Força, em junho.

Após o debate com o relator da PEC 287, deputado Arthur Maia (PPS-BA), o presidente da Força e do Solidariedade disse que apresentou emendas devido aos prazos regimentais. “Acho que tem opinião para todo lado. Sou deputado, tenho responsabilidades. Eu não podia esperar”, afirmou, lembrando que o governo apresentou a proposta em 22 de dezembro, em período de férias, o que dificultaria as discussões internas. Ele considera que essas emendas podem ser um “contraponto” à PEC governista em uma eventual votação, caso o relator não acate as propostas de emendas. 

O dirigente disse ainda que a contraproposta não é só dele, mas de oito partidos e 23 deputados. Alguns itens são: redução da idade mínima para aposentadoria de 65 anos (homens e mulheres) para 60 (homens) e 58 anos (mulheres); “pedágio” na transição de 30% do período que falta, ante os 50% propostos pelo governo; e regra de cálculo de 60% do valor mais 1% por ano de contribuição – o governo quer 51% mais 1%.

“Imagino que é possível aprovar uma proposta diferente. Idade mínima de 65 anos é inaceitável”, disse Paulinho. Ele lembra que a proposta de acabar com as desonerações é das centrais sindicais. “É uma coisa absurda, que deu prejuízo de quase R$ 60 bilhões no ano passado. Quem tem de fazer filantropia é o Estado, não a Previdência.” Segundo o deputado, o mesmo raciocínio vale para as exportações do agronegócio.

Atropelados

No debate, dirigentes da central atacaram a PEC. “O projeto é prejudicial para todos os trabalhadores”, disse o presidente da Força em Minas Gerais, Vandeir Messias. “Hoje, com a composição do Congresso, seremos atropelados”, acrescentou, pondo em dúvida mesmo um eventual relatório, ao afirmar que a “mão de ferro” do governo pode mudar tudo “de última hora”. “Talvez precisasse de mais eficácia (administrativa) do governo em relação à Previdência.”

O presidente da central em Santa Catarina, Osvaldo Mafra, também considera a PEC indefensável. “Não é uma reforma da Previdência, mas para tirar aposentadorias de todos os trabalhadores brasileiros”, afirmou, acrescentando que as empresas não costumam contratar funcionários de mais idade, que ficariam à margem do mercado, sem conseguir contribuir. Ele também questionou sobre o déficit alardeado pelo governo e criticou a discussão feita “a toque de caixa”. “Não é pouco tempo para fazer uma discussão tão importante?”, questionou.

No último sábado, sindicalistas ligados à Força nos três estados da região Sul se reuniram em Florianópolis para discutir o congresso da central e o posicionamento da entidade diante das reformas previdenciária e trabalhista. Os dirigentes aprovaram uma “moção de repúdio” às reformas e também ao que chamam de “aparelhamento partidário” da Força.

Vice da Força no Paraná, o metalúrgico Sérgio Butka disse ver com preocupação a prioridade dada à questão da Previdência, defendendo outras reformas, como a fiscal e a tributária. “Não é a reforma trabalhista que vai resolver os problemas do país. Não é a reforma da Previdência que vai resolver o problema econômico. Nós divergimos com a posição dele (Paulinho)”, afirmou, sobre a apresentação de emendas. “O governo é que deveria fazer a lição de casa.”

“Uma parte da Força Sindical não quer nenhuma reforma e outra apoia o seu projeto (dirigindo-se a Paulinho), que ameniza a proposta (do governo)”, comentou o presidente da central em São Paulo, Danilo Pereira da Silva. Para o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados da central, João Batista Inocentini, a discussão não pode ser na base do “tudo ou nada”, e por isso é preciso apresentar propostas. “Se nós não participarmos, vai ser votado do jeito que o governo quer”, argumentou. “Não estamos em época de revolução, estamos em época de marchar unidos”, reforçou o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna.