‘Empresas ainda são conservadoras com o aspecto físico’, diz consultor

Questões como barba feita, roupa adequada e corte de cabelo do funcionário ainda são determinantes para a vida profissional

Empresas antigas ainda são as mais conservadoras com os funcionários (Foto: Sxc.hu)

São Paulo – As empresas ainda são conservadoras em relação ao aspecto físico de seus funcionários, na visão de Laerte Leite Cordeiro, diretor-geral de empresa homônima de Recursos Humanos de São Paulo que presta serviços de recrutamento para empresas de grande porte. Ele aponta ainda que o desvinculamento das companhias com a imagem vem aos poucos, com o crescimento das empresas mais jovens.

Na última semana, o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região acatou recurso do banco Bradesco, que havia sido condenado em primeira instância pela 7ª Vara do Trabalho de Salvador por discriminação de funcionários por uso de barba. Segundo o autor do processo de 2008, o procurador Manoel Jorge e Silva Neto, o funcionário sofria de alergias à lâmina de barbear e era constantemente alvo de assédio moral de seus superiores. A empresa argumenta que o uso da barba “piora a aparência” e compromete a imagem de competência do funcionário.

Para o consultor, é importante identificar a cultura da organização do segmento em que atua para que não haja conflito, sem evitar o diálogo. “Entendo que ainda é possivel afirmar que a maioria das organizações está mais para o lado conservador na avaliação da apresentação pessoal do seu quadro, ainda que já aceitando uma informalidade da qual nem se cogitaria há alguns anos”, pontuou. “Creio que as recomendações aos recrutadores referem-se mais a exageros dos candidatos que não são compatíveis com a cultura da empresa.”

Cordeiro, que recruta trabalhadores para bancos e multinacionais, lembrou que inevitavelmente as empresas mais antigas tendem a exigir mais atenção de seus funcionários. “Na medida em que se trata dessas empresas, entendo que tentar agredir os usos e costumes da empresa não vai ajudar a conseguir ou permanencer no emprego”, ressaltou. Segundo ele, as organizações mais recentes têm maior tolerância com novos estilos e comportamentos.

“Há segmentos de desenvolvimento mais recentes, como tecnologia e telecomunicações, por exemplo, cujo ambiente de trabalho e costumes são mais jovens e despojados e nas quais se aceitam peculiaridades estéticas até em exagero. O profissional que quer entrar e permanecer nesse tipo de empresa terá certamente mais liberdade para apresentar-se de forma incomum, sem ser penalizado por isso”, avaliou.

Perfis

Segundo pesquisa realizada em 2009 pela empresa de recrutamento online Catho com empresários e consultores de RH, a apresentação tanto masculina quanto feminina ainda é essencial para a escolha de profissionais. As questões como o uso de barba e bigode foram rejeitadas por cerca de 91,3% dos entrevistadores, sendo que os mais jovens são mais receptivos quanto aos candidatos com barba. Porém, esta percentagem ainda é baixa (3,4%).

O corte de cabelo curto é escolha quase unânime, com 96,6% das opiniões. Até mesmo características como a cor da roupa de trabalho também são fatores que influenciam na avaliação diária do trabalhador. Entre as cores mais comuns de terno, como branco, bege e marrom, a cor preta – considerada conservadora – ainda é a escolha de 43,2% dos recrutadores. Para as mulheres, o tipo de roupa ideal seria calça comprida e blazer para 47,6% e a maquiagem leve para 91,7%.

De acordo com o nível hierárquico, as objeções mais comuns nas contratações são as mulheres com filhos pequenos, funcionários obesos e fumantes.

Recentemente, estabelecimentos em shoppings centers de Salvador foram autuados pelo Ministério Público do Trabalho por dispensarem funcionários que tinham cavanhaque. O coordenador do Núcleo de Discriminação no Trabalho do MPT-BA, Silva Neto, rechaçou a prática. “Usar ou não barba, cavanhaque, bigode ou costeleta não mostra nenhuma relação com maior ou menor eficiência no trabalho”, afirmou.

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