Gol: 2.500 componentes, 480 fornecedores e muitas preocupações

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, importações impediram criação de 103 mil vagas no setor em 2010

Sérgio Nobre: é preciso pensar qual modelo de indústria queremos (Foto: Rossana Lana/SMABC)

São Paulo – O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, expôs uma “radiografia” do conhecido Gol, da Volkswagen, para exemplicar as consequências das importações no setor automobilístico – que responde por dois terços do emprego na base. “A importação é igual a uma lagarta que come a nossa horta”, comparou. De acordo com projeções da entidade, as importações evitaram a criação de 103 mil empregos na cadeia produtiva do setor em 2010.

“Pouca gente tem ideia do volume de produção (de um automóvel)”, diz Sérgio Nobre. O Gol, por exemplo, recebe 2.500 componentes em sua montagem, totalmente nacional. São 480 empresas que fornecem para a Volks, iniciando um complexo sistema produtivo. “É uma conquista importante do povo brasileiro, da qual não podemos abrir mão”, afirmou o sindicalista, que fez uma apresentação durante o seminário em defesa da indústria promovido nesta quinta-feira (26) em São Paulo.

Para efeito de comparação, ele citou o Tucson, da Hyundai, que é apenas montado aqui, e o chinês JAC, totalmente importado. “Temos de pensar qual modelo de indústria queremos.” Sérgio Nobre citou também o exemplo do setor de autopeças, que em 1994 tinha 52% de capital nacional e hoje tem menos de 30%. No mesmo período, a participação do chamado carro popular (mil cilindradas) no mercado passou de 16% para 50%.

Ele lembrou ainda a experiência das câmaras setoriais, no início dos anos 1990, que resultaram em acordos tripartite com itens como redução de IPI e ICMS e metas de produção e de vendas, além da discussão de uma política permanente para o setor. O modelo foi extinto na gestão FHC. Agora, sugeriu, poderia ser adotada uma câmara tripartite da indústria, para discutir questões como modernização das relações de trabalho, qualificação profissional, nacionalização de componentes, desenvolvimento tecnológico e o que ele chama de justiça tributária. “Os metalúrgicos estão dispostos a fazer esse debate”, afirmou Sérgio, lembrando que a recente desoneração tributária do setor, durante a crise, não causou queda na arrecadação, porque as vendas aumentaram.