Bolivianos que mantinham compatriotas em escravidão são denunciados

Vítimas contam que deixaram o país de origem sob promessa de salário de US$ 250, mas descobriram que valor era muito menor e que sofria descontos por alimentação e hospedagem

O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou os bolivianos presos no início de novembro pela escravização de compatriotas mantidos em oficinas de costura. Os três foram detidos em flagrante durante operação da Polícia Civil que teve início graças à denúncia de um grupo que conseguiu fugir do lugar em que eram mantidos, na zona norte da capital paulista.

Além da escravidão, os bolivianos foram denunciados por formação de quadrilha, ocultação de estrangeiro irregular e frustração de direitos trabalhistas. As investigações mostram que o trio é dono da oficina em que foi flagrada a situação e um deles fazia pessoalmente o tráfico de pessoas.

De acordo com depoimentos colhidos pelo Ministério Público Federal, Marmeto Maximo Quispe Quispe trazia os imigrantes pela fronteira com o Paraguai, pagando R$ 4.800 pela entrada de cada pessoa.

Os bolivianos escravizados contaram que recebiam a promessa de um salário de US$ 250 mensais mas, ao chegar às oficinas, ficavam sabendo que o valor era menor, pago por produção, e que ainda havia abatimento por alimentação e hospedagem.

Trabalhavam “sem descanso, como se máquinas fossem, em ambiente insalubre”, assinala a procuradora da República Cristiane Bacha Canzian Casagrande, responsável pelo caso. A jornada de trabalho nunca era inferior a doze horas, com pausa apenas para refeição, que muitas vezes vinha estragada. Quando se negavam a trabalhar aos fins de semana, os funcionários eram mantidos sem alimentação.

Para facilitar a descoberta do local, os donos da oficina mantinham as janelas fechadas com cortinas escuras e as portas trancadas. Depois da fuga do grupo de trabalhadores que fez a denúncia, cães de guarda foram colocados na saída da oficina.

Na ocasião da prisão, a delegada responsável pelo caso, Maria Helena Tomita, contou acreditar que o esquema seja maior do que o revelado pelas detenções e espera chegar às empresas que compram as roupas produzidas pelos trabalhadores escravos. “Ainda que não exista o crime de associação ao trabalho escravo, é importante divulgar quais são as empresas que contratavam os serviços desses boliviano para que as pessoas deixem de comprar esses produtos”, afirma.

Com informações do Ministério Público Federal.