Trabalhadores da linha branca sofrem degradação das condições de trabalho, indica pesquisa

Reestruturação produtiva atingiu gerentes da linha branca. Profissionais perderam salário e postos de trabalho, mas ganharam estresse e insegurança

Linha branca: resultados obscuros são detectados em pesquisa (Foto: John Lee/Sxc.hu)

Micro-ondas, geladeiras, fogões, freezers, os produtos da linha branca estão em evidência nos últimos meses por conta da isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) proporcionada pelo governo federal. A isenção tributária estava vinculada à manutenção dos postos de trabalho, mas um estudo desenvolvido pela pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ana Maria Pina, aponta degradação das condições de trabalho e redução de salários em oito fábricas no Brasil e em outros quatro países de eletrodomésticos da chamada linha branca.

Ao longo dos cinco anos de pesquisa para a tese de doutorado, a pesquisadora analisou os impactos das transformações tecnológicas e da reestruturação produtiva na vida de um grupo específico de trabalhadores de indústrias desse setor: os gerentes. Segundo a pesquisadora, em entrevista para o Jornal da Unicamp, “esses profissionais são ao mesmo tempo responsáveis pela introdução de boa parte das inovações organizacionais nas fábricas e vítimas desse processo”.

A análise dos dados recolhidos no Brasil, Turquia, China, Coreia do Sul e Taiwan demonstrou que transformações como a difusão de inovações tecnológicas repercutiram de maneira parecida em todas as fábricas e eliminaram funções gerenciais. “Essas questões tiveram rebatimento nas condições de trabalho dos gerentes. Uma consequência desses fatores foi a redução dos postos de trabalho”, relata.

De acordo com Ana Maria, os salários  também sofreram redução e parcela importante do rendimento passou a ser vinculada aos resultados atingidos. Uma fração dos ganhos foi traduzida na forma de bônus e prêmios, que são rendimentos flexíveis. “Ademais também houve a intensificação da carga de trabalho, uma vez que o número de profissionais que ocupavam cargo de chefia foi reduzido”, constata.

Ao mesmo tempo, o nível de estresse dos profissionais aumentou, entre outros motivos, devido à incerteza da permanência no mercado de trabalho. “A pesquisa mostrou que há um aumento das pressões sobre os gerentes, que passaram a enxergar suas chances de permanência no emprego cada vez mais vinculadas a indicadores de desempenho”, classifica.

Em muitos pontos a pesquisa de Ana Maria encontrou semelhanças na realidade vivida por esses trabalhadores, entretanto quando se analisou as relações de trabalho surgiram grandes diferenças entre a situação dos gerentes em cada país.

Em sua pesquisa, encerrada em 2006, os gerentes brasileiros ainda contavam com melhores condições de trabalho em comparação com as dos demais países, no que se refere à manutenção de direitos trabalhistas e tipos de contrato adotados em seus locais de trabalho. “Isso pode ser explicado pelo tipo de legislação vigente no Brasil, que é mais restritiva ao uso de formas precárias de emprego e pelo tipo de atuação dos sindicatos”, analisa.

O maior nível de insatisfação foi encontrado entre os gerentes da fábrica de Taiwan. O que se explica pela maior flexibilização dos direitos trabalhistas nos países asiáticos, como a adoção dos contratos por tempo determinado.

As análises dos pesquisadores brasileiros, como Ana Maria, e dos pesquisadores de outros países sobre as indústrias de eletrodomésticos de linha branca podem ser encontrados no livro “Labour in a Global World”.

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