Professor municipal negocia amanhã, mas já tem greve marcada para 6ª em S. Paulo

Decisão tomada em assembleia pode mudar até o fim da semana com negociação nesta terça e assembleia na sexta; aliado de Kassab, presidente de sindicato é vaiado durante ato em frente à prefeitura

Professores concordam com necessidade de mobilização, mas discordam da atitude de Fonseca (Foto: Joel Silva/Folhapress)

São Paulo – Professores municipais de São Paulo vão entrar em greve a partir de sexta-feira (3), por tempo indeterminado, em protesto contra a proposta de revisão salarial de 0,82% em maio mais 2% anuais nos próximos cinco anos, segundo informou o sindicato da categoria, o Sinpeem. Embora os professores tenham negociação salarial amanhã (30) e já tenham garantido, desde 2010, reajuste de 10,19% em 2013 e de 13,43% em 2014, a assembleia realizada hoje (29) rejeitou a proposta da prefeitura para todo o funcionalismo.

Cerca de 6 mil docentes tomaram o viaduto do Chá, em frente à prefeitura, no centro, na tarde de hoje (29), exigindo, também, melhores condições de trabalho nas escolas e a derrubada do veto do prefeito ao Projeto de Lei 310, de 2012, que estabeleceria duas novas referências na carreira dos professores. Os trabalhadores farão nova assembleia na sexta-feira, às 14h, no mesmo local, quando vão decidir sobre o rumo do movimento. Os professores são a única categoria que participa de duas negociações de reajuste: uma específica e outra com todo o funcionalismo.

Os servidores, que realizaram uma manifestação unificada mais cedo, em frente à Secretaria Municipal de Serviços, querem 6,55% de reajuste referente à recomposição das perdas de 2011, 4,65% referentes a 2012, e 6,51% para 2013, o que totaliza um reajuste de 17,71%. Exigem também a melhoria na condição dos trabalhadores contratados como agentes de apoio, que podem ser contratados em qualquer categoria, como serviço funerário ou educação, por exemplo.

Segundo o sindicato, a única proposta que representa melhoria real, e foi aceita, é a de reajuste do piso do nível básico, em que estão os profissionais que atuam como agentes de apoio. O salário-base inicial, hoje em R$ 440, seria reajustado para R$ 755, mais gratificação no valor de R$ 377,50, chegando a R$ 1.132,50.

Na reunião de amanhã, representantes dos professores e de sindicatos de outras categorias da Educação se encontram para negociação através do Sistema de Negociação Permanente da Prefeitura de São Paulo (Sinp), instalado desde 20 de março deste ano, com o objetivo de estabelecer uma mesa setorial de discussões com servidores da área.

Divergências

Professores entrevistados na manifestação de hoje dizem apoiar a greve por diversos motivos, mas discordam dos métodos utilizados pelo presidente do sindicato, Cláudio Fonseca. Ao subir no carro de som, o presidente foi vaiado por muitos docentes.

Cláudio Fonseca é ex-vereador e aliado do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). No ano passado, durante ato dos professores, ele encerrou o movimento grevista enquanto os professores queriam manter a greve. Houve desentendimento e a direção do sindicato teve de sair escoltada, enquanto a multidão os chamava de “vendidos”. “Não havia como prosseguir a greve. A eleição estava próxima e existe um limite legal para os reajustes acontecerem. De nada adiantaria prosseguir”, disse hoje, após o ato.

A professora do ensino fundamental Daniela Santana diz que existem muitos problemas na educação municipal, mas não exatamente da forma apresentada. “Não há muita clareza na organização e a gente vem para a assembleia preocupada com uma coisa e a direção encaminha para outra”, disse. Perguntada se o ato seria mais político do que trabalhista, afinal a negociação da categoria só se dará amanhã, disse: “Quem sabe?”.

Segundo Daniela, as principais reivindicações são de melhoria nas condições de trabalho, com a redução do número de alunos por sala, atualmente em torno de 35, e a estruturação física, pedagógica e humana das escolas para receber alunos portadores de necessidades especiais.

Para a professora de artes Alice Jardim, essa é a questão mais difícil em sala de aula. “As escolas têm poucos educadores de apoio, que auxiliam no cuidado com os alunos portadores de necessidades especiais. Mas a escola que possui algum vira referência e todas as crianças da região passam ser direcionadas para lá. Então temos duas, três crianças com necessidade especial, que não conseguimos atender bem e passamos a não dar atenção correta às demais crianças. Isso precisa mudar”, reivindica.

A categoria também quer que a prefeitura volte a pagar o prêmio de incentivo educacional (PDE), concedido a quem atende a determinados critérios de aproveitamento, como reduzido número de faltas, e que seja retirado o veto do PL 310, de 2012.

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