Professor pede para deixar ‘pibinho’ de lado e pensar em bem-estar social

Ladislau Dowbor reiterou durante seminário da CUT que Brasil precisa aprovar redução da jornada para 40 horas semanais, taxar grandes fortunas e regular o sistema financeiro

São Paulo – Em tempos de “pibinho”, referência irônica ao pequeno crescimento econômico brasileiro em 2012, o professor Ladislau Dowbor, da PUC de São Paulo, propõe uma “contabilidade” diferente, que enfatize os aspectos sociais e humanos. “Não basta produzir mais. Queremos resultados para viver melhor”, afirmou, durante seminário promovido pela CUT paulista, na zona leste da capital, como parte das atividades do 1º de Maio. Ele expôs seus dez “mandamentos”, entre os quais está o que pede: “Não farás contas erradas”. Ou seja, é preciso considerar indicadores com outros eixos, como nível de renda, desigualdade e emprego. “Temos de mudar as contas”, pediu. 

Outro mandamento trata da pobreza. “É muito mais barato tirar as pessoas da miséria do que ficar com as consequências”, afirma Dowbor. “Temos 1 bilhão de pessoas passando fome, enquanto se produz um quilo de grãos por pessoa por dia.” 

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Ele também fez referência à proposta de redução da jornada para 40 horas semanais, tradicional bandeira do movimento sindical. Para o professor, é uma questão de bom senso. “Há uma parte desesperada por estar sobrecarregada e outra por não ter emprego. Temos de pensar em uma redistribuição do trabalho.” 

Dowbor recomenda ainda “não viver para o consumo” nem “ganhar dinheiro com o dinheiro dos outros”, ao lembrar que o volume de “papagaios” no mundo (nome que ele dá aos chamados derivativos, contratos com pagamento futuro comuns no mercado financeiro) soma US$ 630 trilhões, superando largamente o PIB mundial (US$ 70 trilhões). Defende ainda uma reforma tributária no Brasil, cujo sistema ele não considera racional. “Não temos imposto sobre fortuna, o Imposto Territorial Rural é uma piada”, afirmou. O professor e economista prega o pleno direito ao conhecimento (“A grande preocupação do autor não é que alguém leia sem pegar, é que ninguém leia”) e à informação.