Desindustrialização será tema de reunião entre centrais sindicais e Dilma

Segundo o presidente da CUT, queda da participação da indústria no PIB exige medidas mais ousadas na macroeconomia, sobretudo em torno de juros e câmbio

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff se reunirá amanhã (14) com representantes das centrais sindicais, no Palácio do Planalto. Será o terceiro encontro entre Dilma e representantes do movimento sindical em bloco. Em reunião preparatória hoje (13), as centrais buscaram pontos em comum a ser abordados. “Falaremos sobre política macroeconômica, desindustrialização, o fim do fator previdenciário, o reajuste das aposentadorias, a Convenção 151 da OIT (que trata das negociações coletivas no setor público) e o tema da terceirização”, relatou o presidente da CUT, Artur Henrique.

Os sindicalistas estão preocupados com o enfraquecimento da indústria nacional, em grande parte devido à falta de competitividade dos produtos domésticos no exterior em função da guerra cambial. O próprio governo identifica em vários países uma desvalorização artificial das moedas locais em relação ao dólar, enquanto internamente o Brasil luta para conter uma valorização excessiva do real – que tem dificultado negócios para o setor exportador.

“Vamos debater na reunião o risco da desindustrialização. O Brasil cada vez mais está se tornando um exportador de matéria-prima, como soja, petróleo, café, açúcar e cana. Na outra ponta, não estamos agregando valor à nossa indústria com a exportação de manufaturados”, avalia o presidente da CUT. “A queda da participação da indústria no PIB demonstra que são necessárias medidas mais ousadas na política macroeconômica. Isso envolve medidas relacionadas com os juros e com o câmbio.”

O dirigente defende uma tributação maior para quem aposta mais na ciranda financeira do que a praticada para empresários que “queiram investir na compra de máquinas, ampliar o seu negócio, gerar mais emprego e mais renda”. E alertou ainda sobre os “perigos” de os ajustes financeiros em socorro à crise bancária na Europa estimularem a migração de capital especulativo para o Brasil: “Temos de tomar cuidado para que os recursos não venham apenas para o investimento em títulos do governo”.

O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, concordou: “A nossa indústria é fundamental, não podemos ser um país de exportação de commodities em detrimento da possibilidade de vendermos mercadoria com valor agregado”, disse. Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, “a retomada de conversa direta com Dilma será um momento importante”.

As centrais pretendem dar continuidade aos temas que veem sendo discutidos com a Secretaria Geral da Presidência da República. “São vários assuntos já debatidos, como o protocolo que prevê garantias para os trabalhadores da construção civil, assinado na semana passada, e a questão dos aeroportos”, lembra Artur.

Terceirização

Ele destaca a criação do Fórum Nacional dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização, no ano passado, com o objetivo de pressionar o Congresso Nacional. As diversas entidades que compõem o fórum veem como prejudiciais aos trabalhadores projetos em tramitação no Legislativo, por considerar que facilitam a precarização dos empregos por meio do uso indiscriminado de mão de obra terceirizada. 

Leia a reportagem “Falso brilhante”, sobre os problemas da terceirização, na edição de março da Revista do Brasil

O projeto em estágio mais avançado na Casa é de autoria do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), relatado por Roberto Santiago (PSD-SP) e apoiado por Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força. “Esse projeto é frontalmente contrário aos interesses da classe trabalhadora. Queremos avançar numa regulamentação da terceirização que não permita a deterioração das condições de trabalho”, afirma Artur.

IR da PLR

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e representantes de outras entidades sindicais reúnem-se amanhã, às 14h, na Câmara dos Deputados, com o relator da Medida Provisória (MP) 556, deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), para discutir a emenda que isenta os trabalhadores do pagamento do Imposto de Renda (IR) sobre a participação nos lucros ou resultados (PLR).

A presidenta do sindicato, Juvandia Moreira, disse que esse é um assunto prioritário para a categoria. “Essa isenção é mais uma medida que vai favorecer o crescimento da economia. Com mais renda, o consumo aumenta e melhora a geração de emprego, beneficiando a toda a sociedade. Quando recebem os dividendos, os acionistas são isentos do imposto de renda. Os trabalhadores também exigem o mesmo tratamento”, afirmou.