Metalúrgicos reúnem 30 mil na rodovia Anchieta em defesa do emprego

Ato marcou a união de sindicatos de diferentes centrais contra as importações e concentração de empregos no exterior

Metalúrgicos saíram das fábricas para seguir em passeata até rodovia Anchieta (Foto: ©Roberto Parizotti/SMABC)

São Paulo – Mais de 30 mil trabalhadores, segundo os organizadores, se reuniram na manhã desta sexta-feira (8) no quilômetro 12,5 da rodovia Anchieta, na divisa entre São Paulo e São Bernardo do Campo, numa manifestação em defesa da indústria brasileira e do emprego de qualidade. O ato foi organizado pelos sindicatos dos Metalúrgicos do ABC (CUT) e de São Paulo (Força Sindical) e contou com a participação de trabalhadores de empresas como Mercedes-Benz, Volks, Ford, Mahle e Rassini, entre outras.

“Estamos aqui em defesa da indústria nacional. A previsão da produção da Volks, por exemplo, é de 1 milhão de automóveis no ano. Para se ter uma ideia, esse é o número que importamos no período. São 103 mil empregos que estamos deixando de criar no país”, afirmou Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, referindo-se ao reflexo das importações no setor automobilístico.

Os trabalhadores têm objetivo de denunciar o risco de desindustrialização e de perda de postos de trabalho no Brasil. A pauta dos sindicatos inclui fortalecimento da negociação coletiva, estímulo à inovação tecnológica, ampliação de vagas para o ensino técnico e tecnológico nas instituições federais e redução da taxa básica de juros.

“Não dá para admitir que nossos portos fiquem escancarados para o produto do exterior. Se não melhorarmos, no futuro nossos filhos e netos estarão sofrendo com um país sem indústria”, alertou Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

A desconfiança em relação à China é outro fator de consenso. “Essa manifestação não é contra ninguém, mesmo porque a China está prezando pelos seus empregos e é isso que deveríamos fazer também. Estamos assistindo nossa indústria desaparecer. Se quisermos ter independência, temos que lutar para que isso aconteça”, defendeu Sérgio Nobre.

A concentração do ato ocorreu por volta das 7 horas, em frente à porta principal da Mercedes-Benz. O protesto havia sido proibido pela 3ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) na última quarta-feira (6). Os sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e de São Paulo negociaram com a Polícia Militar e Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) o encaminhamento da passeata pela rodovia Anchieta.

Reunião com Dilma

Os trabalhadores tentam pressionar para conseguir uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff para discutir propostas de apoio à indústria nacional definidas em seminário realizado pela Fiesp, CUT, Força Sindical e sindicatos de Metalúrgicos do ABC e de São Paulo. Um documento elaborado no evento, em maio, foi entregue ao vice-presidente Michel Temer e encaminhado para avaliação de Dilma.

“Estamos dizendo claramente que precisamos que a Dilma nos receba para ouvir o que a indústria precisa”, afirma Vagner Freitas, secretário nacional de Finanças da CUT. “A indústria é a principal criadora de empregos no Brasil. Não existe país forte sem investimento na indústria interna. A questão da unidade dos sindicatos é corretíssima e não é uma luta só de sindicatos, mas de toda a classe trabalhadora. A classe trabalhadora não é de uma central sindical ou outra.”

O presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, concordou com Freitas. “A situação da indústria é muito grave. Todos os dias, por exemplo, entram 800 carros da Argentina no Brasil. O caso da China é ainda pior, significa que há lá fora mais de 100 mil empregos de boa qualidade, enquanto aqui temos empregos de baixa qualidade”, sustentou.

Para Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a luta dos metalúrgicos deve receber apoio de todos os trabalhadores. “Temos obrigação de estar aqui nas ruas para garantir que o emprego dessa categoria tão forte seja garantido.”

O deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), participou das atividades desde as assembleias iniciais no início da manhã. O ex-presidente da CUT, que tem origem nos Metalúrgicos de ABC, parabenizou a unidade das centrais sindicais em defesa do emprego e falou sobre o Projeto de Lei 1.770, de sua autoria, que obriga as montadoras de veículos a utilizar, na fabricação de seus produtos, 70% de peças produzidas no Brasil.