Em greve, servidores da saúde criticam ‘má vontade’ do governo tucano em São Paulo

Em paralisação de 48 horas, funcionários do Hospital das Clínicas, em São Paulo, demonstram insatisfação com o tratamento dispensado pelo governador Geraldo Alckmin

Servidores em mobilização na Praça da Esperança, no Hospital das Clínicas (Foto: Maurício Morais/RBA)

São Paulo – Servidores estaduais da saúde em São Paulo completam nesta quinta-feira (16) o segundo dia de paralisação no estado. Eles pedem aumento salarial de 26%, mesmo índice usado pelo governador Geraldo Alckmin para reajustar o próprio salário e o dos secretários em janeiro deste ano. Eles também reivindicam melhorias em itens como vale-refeição e nas condições gerais de trabalho.

Com faixas de protesto e apitaço, os trabalhadores se reuniram de manhã em frente ao prédio da administração do Hospital das Clínicas, o maior complexo hospitalar da América Latina. A mobilização buscou adesão de mais funcionários do hospital ao movimento grevista.

Questão de insatisfação geral, a má remuneração é o ponto mais criticado pelos servidores. Israel dos Santos, funcionário do Arquivo Médico do HC há 14 anos, considera que os salários baixos são resultado de “má vontade” da administração paulista, comandada pelo PSDB. “O governo não valoriza o pessoal da saúde, não dá uma força, não dá um incentivo de trabalho. A chefia também não ajuda em nada, o que eles querem fazer mesmo é pisotear. Nem plano de carreira tem mais, estão tirando tudo”, lamentou.

Apesar de não apresentar queixas sobre os materiais oferecidos pelo hospital, a enfermeira Adriele Ferreira da Silva relata que as reclamações são recorrentes no ambiente de trabalho. “Às vezes eu até esqueço quanto ganho de fato, de tão insignificante. Aliás, é gorjeta, nem é salário; a gente só compra chiclete com o que recebe”, ironiza.

 

Técnica do setor de radiologia, Sílvia Martins contou que precisa fazer horas extras para complementar o salário-base de iniciante, de R$ 214. “A gente faz muita hora extra, praticamente 12 horas de segunda à sexta para conseguir ter dinheiro para pagar todas as contas”, pontuou.

O atendimento médico aos próprios funcionários, que acabam contraindo problemas de saúde devido à carga horária, é ineficiente, segundo Sílvia. “Ontem mesmo, precisei passar no médico. (Eles) me deram o atestado do dia e alguns remédios para ficar em casa, mas não fizeram nenhum exame para saber o que era”, contou.

O vale-refeição – de R$ 4 – também é motivo de indignação. Francisco Fonseca, que trabalha em manutenção hospitalar há 15 anos, culpa o governo estadual pela estagnação dos reajustes. “É brincadeira a gente ter um vale-refeição de R$ 4. O que você faz com isso? E eles acham que está bom, e continua. Desde que entrou esse PSDB no governo, acabou com a nossa campanha salarial em geral”, ataca.

Segundo Fonseca, os trabalhadores estavam acostumados a receber reajustes salariais no dia 1º de maio de cada ano, instituído na prática como data-base. Mas a conduta mudou. “Hoje, o governo Alckmin promete mundos e fundos, mas depois da eleição, não sabe de nada”, disse o servidor. “Muda Brasília, muda tudo, mas São Paulo não consegue se livrar deles. Alguém tem que fazer alguma coisa, porque desse jeito não dá”, pontuou. Caso não haja proposta do governo, Fonseca foi contundente: “Enquanto não derem uma resposta pra gente, a greve vai continuar”.

Rumos da greve

A paralisação de 48 horas teve início na quarta-feira (15) e inclui trabalhadores do HC, Centro de Referência da Saúde da Mulher, do Hospital Darcy Vargas, Hospital do Mandaqui e Heliópolis, e se estende às unidades da Grande São Paulo – como o Hospital Padre Bento, em Guarulhos – e do interior, em Assis, Lins e Presidente Prudente.

Em negociação com a superintendência do Hospital das Clínicas, ficou decidido que os funcionários da unidade não serão penalizados ou sofrerão desconto pelos dias de greve. Na sexta-feira (17), será realizada assembleia em frente à Secretaria Estadual de Saúde.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado (SindSaúde-SP), Benedito Augusto de Oliveira, a categoria aguarda por propostas, e existem grandes chances de a greve continuar. “O governador disse que o pessoal da saúde vai fazer plano de carreira igual ao da Educação. Mas nós sabemos que é mentira, senão ele estaria divulgando. Queremos um governador que dialogue com a categoria. Ele faz negociação com outros setores, por que não com a gente?”, questionou.

Os servidores reivindicam, além do reajuste de 26%, aumento no valor do vale-refeição, redefinição para o prêmio de incentivo, extinção da política de bônus por desempenho, políticas de proteção à saúde do trabalhador, licença-maternidade de 180 dias para todos os regimes de contratação e reestruturação para o plano de carreira, entre outros itens. A data-base da categoria é 1º de março.

Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde não atendeu aos pedidos da reportagem de resposta aos questionamentos apresentados pelos trabalhadores.