No Rio, Cabral e funcionalismo público seguem histórico conturbado

Desde o primeiro ano de mandato, governador e servidores de diversos setores protagonizam crises. Diálogo é a principal reivindicação dos funcionários

Governador Sergio Cabral protagoniza sucessivos episódios de intransigência (Foto: Arquivo RBA)

São Paulo – A relação entre os servidores públicos do Rio de Janeiro e o governador Sérgio Cabral (PMDB) enfrenta conflitos desde seu primeiro mandato, em 2007. Na última semana, militares do Corpo de Bombeiros cravaram protestos por aumento salarial – o estado paga o pior piso da categoria no país – e pela libertação dos colegas detidos durante o final de semana anterior, que mobilizaram a população. Em solidariedade, os professores da rede estadual se uniram às reivindicações e também decidiram por greve por tempo indeterminado.

Desde 2007, categorias do funcionalismo público – saúde, educação, Polícia Civil e Polícia Militar – se manifestaram em união contra a falta de negociações em questões defendidas pelos servidores públicos, como reposição salarial, unificação da data-base e incorporação de gratificações. Os profissionais argumentavam que o governador não havia cumprido promessas feitas em campanha eleitoral, além de faltar com o decoro em declarações públicas. Passeatas à casa de Cabral, com repressão policial, foram realizadas.

Os profissionais da educação, organizados pelo Sindicato dos Profissionais do Ensino (Sepe) – que não tinham reajuste há mais de uma década – deflagraram greve também em 2007 após recusar proposta do governo de 25% parcelados em 24 meses. Na prática, o reajuste seria de R$ 0,50 por mês para os técnicos e de cerca de R$ 2 mensais para professores. 

Na reivindicação atual, os educadores e funcionários da rede de educação pedem que o governo dê prioridade ao reajuste salarial (26% emergenciais), em protesto similar ao anterior. Segundo o sindicato, não houve canal de diálogo em nenhuma das ocasiões.

Polícia e saúde

Em 2008, policiais civis entraram em greve e manifestaram insatisfação pela falta de tratamento psiquiátrico aos profissionais, além de condições de trabalho e reajuste salarial. Mais tarde, coronéis da Polícia Militar uniram-se às reivindicações por melhores salários, sendo afastados de seus cargos. Soldados de diversos batalhões decidiram não sair às ruas, permanecendo em seus quartéis. O episódio culminou em uma crise na segurança pública.

Dois anos depois, funcionários da rede estadual de saúde do Movimento Unificado dos Servidores Público Estaduais (Muspe) realizaram uma série de protestos contra a terceirização das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e um possível desmonte dos hospitais estaduais.

Cabral admitiu o déficit de funcionários nas UPAs e comentou que a terceirização pretendida implicaria na assinatura de carteira e pagamento de direitos. O objetivo do secretário da Saúde, Sérgio Cortês, seria encontrar uma alternativa aos concursos públicos, o que reduziu a participação de servidores nos hospitais.

Em repercussão aos protestos e ameaças de paralisação, Cabral recomendou que os professores deixassem de fazer “corpo mole” e insinuou que os policiais em protesto seriam “corruptos” e “incompetentes”. Nos respectivos casos, ele declarou também que médicos que faltaram aos plantões em uma UPA na Penha (zona norte do Rio) em protesto seriam “vagabundos”.

Indignados com a declaração, o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SinMed) denunciou o governador ao Ministério Público por falta de civilidade. Na ocasião, o presidente da entidade, Jorge Darze, rechaçou as falas de Cabral sobre a categoria.

“O uso de expressões como ‘lengalenga’, ‘me engana que eu gosto’ e ‘vagabundo’ mostram um desequilíbrio do governador. Ele não pode sair por aí xingando as pessoas. Está incorrendo num crime pelo Estatuto do Servidor Público”, disse. O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) também saiu em defesa dos profissionais.

No último sábado (4), o governador classificou os bombeiros grevistas como “vândalos” e “irresponsáveis”, pela invasão do quartel do Corpo de Bombeiros. Segundo ele, os militares teriam agido por motivação política.

Bombeiros

O governo do Rio anunciou o adiantamento, de dezembro para julho, do reajuste salarial de 5,58% para bombeiros, policiais militares, policiais civis e agentes penitenciários. Mesmo com o aumento, o salário dos militares ficaria aquém dos R$ 2 mil líquidos que foram reivindicados, de R$ 1.031 a R$ 1.245. A notícia foi recebida com mais protestos pelos bombeiros e guarda-vidas acampados em frente à Assembleia Legislativa.

Os professores da rede estadual, também em greve, se uniram ao final da tarde aos militares, familiares e população que continua em protesto pela libertação dos 439 bombeiros detidos no último sábado (4).

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