Presidente da CUT vê ousadia em 1º de Maio Brasil/África

Danny Glover: melhor 1º de Maio de sua vida (Foto: Danilo Ramos) São Paulo – Para o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, a comemoração do 1º de Maio de […]

Danny Glover: melhor 1º de Maio de sua vida (Foto: Danilo Ramos)

São Paulo – Para o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, a comemoração do 1º de Maio de 2011 da central, com foco na relação Brasil/África, demonstra “ousadia e inovação”. Durante ato político da CUT no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, no início da noite deste domingo (1º), o dirigente lembrou uma série de atividades culturais e sindicais que ocorreram durante toda a semana.

Artur aproveitou a presença do ativista e ator norte-americano, Danny Glover, cujos pais foram sindicalistas nos Estados Unidos para destacar a importância de garantir a participação dos negros, nos Estados Unidos e no Brasil, a fim de fortalecer o movimento sindical.

O líder cutista, também chamou atenção para a agenda de lutas da classe trabalhadora. “A agenda mostra a diferença da CUT com outras organizações no Brasil”, dispara.

Artur defendeu o fim do “famigerado imposto sindical”. Segundo ele, são criados 2,3 novos sindicatos diariamente. “Muitos sem representação”, salientou. Seriam sindicatos fantasmas ou de gaveta que “não ajudam a melhorar a vida de trabalhadores e trabalhadoras”, disse.

Além de destacar a importância de sindicatos representativos, o sindicalista citou a luta da CUT contra a precarização do trabalho. “A CUT é incessante na organização da classe trabalhadora”, acrescentou.

Dívida histórica

Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, representou a presidenta Dilma Rousseff, que está com pneumonia e fez exames na capital paulista, antes de retornar a Brasília.

Intercâmbio

Carvalho elogiou a iniciativa da CUT ao entrelaçar o movimento sindical brasileiro com entidades sindicais africanas e recordou a dívida histórica, política e ética do país com a África. Segundo ele, a ação da CUT “dá concretude à aproximação que o governo (do ex-presidente) Lula fez com a África”.

Na carta à central, a presidenta valorizou o diálogo e a participação do movimento sindical em temas relevantes para o país. Dilma ressalta que seu governo e do ex-presidente Lula nasceram das ideias e lutas dos trabalhadores brasileiros. “Foi dessas lutas que nasceu o Brasil de hoje”, relata.

Dilma exemplificou ainda os avanços no país que foram derivados das lutas dos trabalhadores. “Com o respaldo dos trabalhadores organizados, com sua contribuição fundamental para o dinamismo da economia brasileira, vamos transformar o Brasil em um país próspero, sem miséria”, assinalou.

Ativismo global

“Viva o Brasil! Viva a África”, pediu o ator e ativista norte-americano Danny Glover, presente às atividades de comemoração do dia do trabalhador da CUT, neste domingo.

Glover confessou que este 1º de Maio, que passa no Brasil, é a melhor celebração em que já esteve para comemorar o Dia do Trabalho. O ator realçou ainda a importância da África para toda a civilização. “África é a mãe da civilização. Somos os filhos de Mandela”, continuou. 

Ele também enalteceu o que classifica de “extraordinária colaboração” entre trabalhadores e governo, no Brasil. “Não há precedentes de algo assim”, disse.

Também presente ao ato político da CUT, o senador Eduardo Suplicy acentuou que estão abertos os caminhos para o diálogo entre trabalhadores e a presidenta Dilma.

A atriz e cantora Elisa Lucinda, que apresentou boa parte das atrações culturais do dia, advertiu que no Brasil não se fala de racismo, mas a prática é constante. A atriz declamou a poesia de sua autoria “Mulata exportação”, em que critica o racismo velado e encerrou sua participação cantando com a multidão presente ao Vale do Anhangabaú.

Rui Falcão, recém-eleito presidente nacional do PT, elogiou a iniciativa da CUT de integração dos povos africanos e brasileiro. “O Brasil é multiétnico e multicultural”, destacou. Falcão assumiu a presidência após afastamento do ex-senador José Eduardo Dutra, que renunciou ao cargo por motivo de saúde. Para o líder petista, a melhoria no emprego e na qualidade de vida do brasileiro se deve em grande parte às lutas da CUT.

Também participaram do ato política da central Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados, Edinho Silva, presidente do PT/SP, e o ator e militante Celso Frateschi. 

 

 

Conheça a poesia de Elisa Lucinda, declamada durante as comemorações de 1º de maio Brasil/África

Mulata Exportação

“Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.”
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado…”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual…
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:

Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!

Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!