São Paulo – Uma negociação entre sindicatos internacionais e brasileiros pode incluir o país numa pesquisa sobre condições de trabalho na multinacional francesa Sodexo. A empresa é acusada por trabalhadores de diversos países de práticas abusivas – de servir alimentos estragados para os funcionários até impedir que se filiem a entidades sindicais. A empresa nega as acusações.

No Brasil, as negociações para realizar um diagnóstico sobre as condições de trabalho na empresa acontecem entre o Service Employees Internacional Union (Seiu – Sindicato Internacional de Trabalhadores em Serviços) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs/CUT).  O trabalho também pode ser estendido a outras centrais sindicais.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, a pesquisadora norte-americana Marakah Mancini, da Seiu, relatou algumas das práticas criticadas da empresa em seu país. “Nos Estados Unidos temos problemas com a Sodexo porque ela paga baixos salários, não respeita direitos trabalhistas e tentou impedir a formação de sindicatos em várias cidades”, descreve.

A preocupação com as condições de trabalho na Sodexo surgiu, diz a pesquisadora, de denúncias recorrentes de funcionários em vários países.

Já o interesse das entidades sindicais internacionais em realizar uma pesquisa sobre a atuação da Sodexo no Brasil nasceu do peso do país na lucratividade da empresa. “A Sodexo está em expansão no Brasil e tem participação importante no lucro da empresa”, informa a economista.

Denúncias

Um estudo divulgado em janeiro deste ano pela organização de direitos humanos TransAfrica, a partir de relatos de funcionários da Sodexo na Colômbia, República Dominicana, Guiné, Marrocos e Estados Unidos, aponta problemas como descuido com a saúde dos trabalhadores, baixos salários, não pagamento de horas extras e ações antissindicais como intimidação de trabalhadores na criação ou filiação a sindicatos.

Na introdução do relatório, a TransAfrica descreve contradições entre o que a empresa promete praticar em sua missão corporativa e a realidade descrita pelos trabalhadores. “A Sodexo é meramente um exemplo de empresa internacional que tira vantagem de populações marginalizadas e isoladas em países com direitos humanos e normas trabalhistas geralmente aviltados”, descreve o documento.

Em entrevista ao jornal norte-americano Washington Post, a presidente da TransAfrica, Nicole Lee, afirmou que uma corporação como a Sodexo tem o poder de liderar iniciativas de direitos humanos e trabalhistas. “Nosso objetivo é que elas mudem suas prática para outros companhias sigam o exemplo”, declarou Nicole.

Apesar de a empresa negar as acusações, o jornal relata protestos de trabalhadores na Pensilvânia por horas extras não pagas e em Massachussetts por baixos salários. “Há um problema sistêmico na gestão da Sodexo, estes não são incidentes isolados”, garantiu a dirigente sindical à publicação.

Também há relatos de intoxicação alimentar de funcionários devido à ingestão de alimento rançoso, testes de gravidez forçados, trabalhadores com ferimentos previsíveis causados por treinamento inadequado e falta de equipamento de proteção, detalha o relatório.

Um importante porta-voz das denúncias de trabalhadores tem sido o ator norte-americano Danny Glover que também é  presidente do Conselho de Administração da TransAfrica. Glover foi preso no ano passado durante um protesto de trabalhadores contra a Sodexo.

Em nota, a Sodexo nega os abusos. A empresa afirma que atua com seriedade e transparência junto a seus colaboradores. Ela também alega respeitar direito dos trabalhadores de se filiarem ao sindicato que os representa.

A Sodexo elencou dados fiscais, prêmios e certificações no Brasil e no exterior. “No Brasil, a Sodexo ganhou, pela quinta vez consecutiva, a certificação “Os 100 melhores fornecedores para RH 2010” na categoria Alimentação Coletiva”, exemplifica.

Cooperação

Um projeto de cooperação capitaneado pela Seiu, TransAfrica e União Internacional de Trabalhadores da Alimentação (UITA) teve início em 2009, em cinco países, com o objetivo de melhorar as condições de trabalho na empresa e preparar os trabalhadores para formar sindicatos em vários países. “Nós achamos que os sindicatos são a melhor defesa em relação à exploração das grandes empresas”, elucida Marakah. A iniciativa também tem o apoio da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) da França, onde fica a matriz da empresa.

As entidades sindicais buscam ainda a elaboração de um acordo global com a Sodexo para garantir os direitos dos trabalhadores nos 80 países em que a empresa atua.

Desde 2010, a atuação na Sodexo no Brasil está na mira das entidades sindicais internacionais, principalmente porque a empresa presta serviços para vários programas sociais. Em janeiro deste ano, a diretora da Seiu, Ginny Ginny Coughlin, diretores da Contracs e da CUT relataram ao ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Carlos Lupi, durante audiência, casos de violações de direitos e perseguição a sindicalistas em diversos países.

Na ocasião, pediram ao ministro que exija da filial da Sodexo no Brasil respeito aos direitos humanos e trabalhistas de seus funcionários. A empresa é uma das prestadoras de serviços do Programa de Alimentação do Trabalhador do governo federal.

A multinacional francesa Sodexo presta serviços na área de gestão e operação de restaurantes, manutenção e conservação, além do fornecimento de tíquetes-alimentação a empresas privadas e órgãos públicos. Ela emprega 380 mil funcionários em 80 países.

No Brasil há mais de 30 anos, a empresa ganhou novo impulso em suas operações em 2007, com a aquisição do grupo VR por R$ 1 bilhão. Como parte da estratégia de crescimento, a empresa mudou o nome, tirando o h que fazia parte da marca – Sodexho.