Quase 40% excluídos do sistema bancário

Dados são de estudo do Ipea sobre percepção dos brasileiros em relação a bancos

São Paulo – Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 39,5% da população economicamente ativa no país não possui conta bancária. Dos excluídos do sistema bancário, 40,6% desejam ter conta corrente e 26,6% acreditam ter as condições financeiras necessárias e atrativas às instituições financeiras. Os dados constam no Sistema de Indicadores Sociais (Sips) sobre bancos, que o Ipea divulgou nesta terça-feira 11.

O mapa da exclusão não surpreende: a grande maioria é de baixa renda, tem pouca escolaridade, e está concentrada nas regiões menos desenvolvidas. No Norte e no Nordeste, 50% e 52,6%, respectivamente, não têm conta bancária, enquanto que no Centro-Oeste, Sul e Sudeste esses percentuais caem para, respectivamente, 31,2%, 30% e 34,1%. 

“Isso indica o pouco interesse dos bancos em incluir a população de menor renda que por isso acaba não tendo acesso a crédito e outros serviços bancários”, comenta a presidenta do Sindicato Juvandia Moreira.

Função

A pesquisa mostra também que a grande maioria dos brasileiros, 62,1%, acredita que a principal função de um banco é “movimentar/guardar dinheiro”; 29,5% apontaram “oferecer produtos e serviços” como a principal função, e uma minoria absoluta, 4,5% apenas, vê a função “emprestar dinheiro” como a mais importante.

Isso, segundo o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, é uma especificidade brasileira já que em outros países – ele citou a Alemanha como exemplo – os bancos têm como função primordial alavancar a economia por meio da concessão de empréstimos. 

Esse quadro mantém as mesmas proporções levando-se em conta a faixa de renda, mas a função de emprestar dinheiro alcança a maior pontuação entre os que ganham acima de 20 salários mínimos. 

“O fato de a grande maioria não perceber que emprestar dinheiro é a função mais importante de um banco mostra que as instituições financeiras no Brasil não estão cumprindo seu papel social. O crédito sempre foi muito caro para a população de mais baixa renda, os juros são mais altos e os prazos mais curtos para esse segmento da população, justamente os que mais precisam. A população não enxerga essa função como a mais importante porque não usufrui dela”, critica a presidenta do Sindicato.

Juvandia ressalta, ainda, a grande parcela da população que sequer tem conta bancária. “O percentual de 39,5% é absurdo em uma economia como a nossa, que está crescendo ano a ano e na qual o setor financeiro está entre os que mais lucram.”

Idec

Para a coordenadora executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Lisa Gunn, a partir desse percentual “gritante” é preciso pensar em uma política para promover a inclusão bancária, tanto por parte do governo quanto das próprias empresas financeiras. O Idec foi parceiro do Ipea na pesquisa.

Lisa Gunn disse ainda que os não correntistas acabam por usar alguns serviços dos bancos por meio dos correspondentes bancários, como lotéricas, caixas de supermercado e farmácias, e isso preocupa bastante o instituto. “Se o cliente do banco não tem acesso a informação clara e adequada nas agências, o que esperar do atendimento em correspondentes?”, questiona.

Além disso, acrescenta, esse tipo de atendimento leva à precarização do trabalho, já que os funcionários de lotéricas e caixas de supermercado sequer são considerados bancários.

Serviços

A pesquisa pediu ainda a opinião dos que têm conta bancária sobre segurança nas agências. Surpreendentemente, 78,2% dos entrevistados se disseram satisfeitos com a segurança nas operações em agências – 7% se disseram “muito satisfeitos”, 71,2% disseram estar “satisfeitos”. O diretor da Contraf/CUT, Miguel Pereira, que estava presente à coletiva de apresentação do estudo, questionou a forma como a pesquisa tratou a questão. Ele ressaltou que o estudo deveria levar em conta o canal de relacionamento usado pelo cliente, já que grande parte das operações bancárias hoje são on line. “Se o cliente não precisa ir à agência, ele não vai reclamar de segurança”, disse. “É estranho que a maioria dos clientes aprovem a segurança quando as estatísticas mostram que os assaltos em agências são frequentes, assim como o crime da ‘saidinha’. Por isso a pesquisa deveria indagar também qual o canal usado pelo entrevistado para realizar suas operações bancárias.”

O presidente do Ipea reconheceu que o comentário do dirigente era procedente e destacou que o estudo ainda é preliminar e que será aprofundado em pesquisas subsequentes.

Fonte: Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região