Centrais e empresários evitam polêmicas após encontro ‘preventivo’ sobre situação cambial

CUT, Força Sindical e Fiesp pretendem entregar a Dilma pauta para fortalecer setor industrial, mas discursos mostram que diálogo capital-trabalho não será simples

São Paulo – Representantes de centrais sindicais e de empresários acertaram nesta segunda-feira (20) a realização de debates que vão delinear propostas a serem apresentadas ao governo Dilma Rousseff. Em uma reunião na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), representantes do setor e sindicalistas mostraram, porém, que há pontos de divergência, embora a posição deles tenha sido a de buscar diálogo.

A premissa do encontro a ser realizado em fevereiro é a necessidade de fortalecer a indústria nacional, assegurando a criação de empregos. Se trabalhadores e empresários estão em sintonia quanto a esse ponto, a conversa realizada em São Paulo não deixa dúvidas de que há discordâncias quanto ao atual panorama da economia brasileira e, portanto, quanto às propostas que serão apresentadas a Dilma.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, minimiza as divergências e lança mão de uma metáfora para explicar que, dentro de uma família, não é preciso concordar em todos os pontos. “Se vamos ter convergência em 95% dos temas, vamos tentar, com competência, um lado convencer o outro sobre os outros 5%.”

Os participantes enfatizaram o caráter “preventivo” do diálogo, ou seja, a necessidade de assegurar que o atual momento não seja afetado por questões que podem ser combatidas pelo Estado. “A intenção é estabelecer consenso sobre como reforçar a indústria, saber quais setores estão mais fragilizados”, pontua Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

As partes evitaram citar pontos que serão levados ao Palácio do Planalto, indicando que isso será definido apenas ao término das discussões. Apesar do tom cauteloso, Skaf indicou como problemas o real sobrevalorizado e a competição desleal de produtos estrangeiros. “Ninguém está atrás de proteção. Queremos isonomia, queremos garantir que não vamos dar aos outros países o crescimento do nosso mercado interno”, esquivou-se.

A Fiesp entende que a atual taxa de câmbio, com o real valorizado em relação ao dólar, encarece as exportações brasileiras e favorece as importações, especialmente de produtos chineses, o que desequilibra a balança comercial. Na visão dos empresários, isso provoca um grave desestímulo à produção nacional em diversos setores, já que importar se torna mais barato que assegurar a produção interna.

A CUT, por outro lado, entende que as importações são estimuladas fundamentalmente pela falta de capacidade da indústria nacional de atender ao crescente consumo em diversos setores. “Precisamos preparar nosso parque industrial para que seja capaz de acompanhar esse ritmo da demanda com novos produtos, com apropriação de tecnologias que hoje são importadas e com investimentos”,  defende o vice-presidente da CUT, José Lopez Feijóo.

O sindicalista entende que a falta de planejamento do setor privado, especialmente durante a crise econômica de 2008-2009, é responsável pelo cenário atual.

Dólar

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, discorda da CUT em relação ao cenário atual da indústria brasileira. O deputado federal sustenta que, embora os sinais econômicos sejam muito positivos, diversos setores têm apresentado uma retração preocupante na geração de vagas e acusa que muitos estados promovem incentivos às importações, aceitando que empresas brasileiras funcionem como simples montadoras de peças trazidas do exterior.

Embora concorde com a Fiesp sobre a necessidade de criar barreiras para que o Brasil não se transforme em um “apertador de parafusos”, Paulinho da Força aponta um remédio distinto. “É difícil falar para o governo desvalorizar o real. A gente poderia trabalhar com outro tipo de reivindicação. Tínhamos um tempo atrás uma exigência de nacionalização de peças que poderia ser novamente adotada. Outra questão é aumentar imposto de importação, coisa que o mundo inteiro está fazendo”, defendeu

Ineditismo

Durante conversa com a imprensa, Skaf valorizou o ineditismo da conversa entre empresários e trabalhadores em torno de um ponto comum e em um momento de crescimento da economia. O último debate entre as partes havia sido realizada em um momento muito menos favorável, no auge da crise, quando as centrais tentavam evitar que os empresários promovessem cortes nos postos de trabalho.

“Nossa preocupação é que, por baixo da economia, uma série de problemas está acontecendo. Tem uma avalanche de importações que é assustadora. Não é uma crise generalizada, mas pode virar”, acrescentou Paulinho.