Policial disfarçado de manifestante foi infiltrado em ônibus de professores em greve em São Paulo

Presidente da Apeoesp não descarta que ferimento de policial feminina tenha sido simulado para jogar população contra docentes. PSDB promete ação judicial contra sindicato, acusado de agir com fins eleitorais

Polêmica foto registra policial feminina sendo socorrida. PM afirma que se trata de policial à paisana, Apeoesp vê ação de “infiltrado” (Foto: Rodrigo Coca/Fotoarena/Folhapress)

Uma investigação movimenta neste início de semana a subsede de Osasco da Apeoesp (Sindicato  dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Depois da repressão sofrida pela categoria na sexta-feira (26) passada durante manifestação, os trabalhadores realizaram uma apuração para descobrir quem era o professor que socorreu uma policial supostamente ferida pelos docentes.

As fotos de agências que correram a internet e jornais mostra um rapaz jovem, de barba, mochila nas costas, camisa de manga curta e calça jeans carregando a policial. Como já desconfiava oTerra Magazine no último sábado, o “professor” em questão, agora se sabe, é um P2, ou seja, integrante dos serviços reservados da Polícia Militar.

A investigação da Apeoesp e de blogues como o VioMundo, de Luiz Carlos Azenha, começou porque a PM, em nota oficial emitida na sexta, informava que a policial ferida “a pauladas” havia sido socorrida por um colega a paisana. Eis que o sindicato descobriu, na noite de segunda-feira (29), que o P2 em questão viajou no ônibus de professores de Osasco que se encaminhavam à manifestação.

A confirmação do fato derruba a versão apresentada ao Terra Magazine pela PM de que o policial em questão estava “passando por lá”, contrariando ainda a versão anterior, de que “era um dos policiais da região, que estavam envolvidos na operação”.

Agora, a Apeoesp tenta entender qual era o papel do policial, presente não apenas no ônibus, mas na assembleia da categoria na mesma sexta-feira nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do governador de São Paulo, José Serra.

Isabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp, informou ao VioMundo que vai aumentar a fiscalização sobre os participantes de eventos do sindicato, podendo passar a exigir holerite como prova para entrada nos ônibus que levam a manifestações. Para ela, há uma armação no caso para tentar sensibilizar a sociedade que os professores estão errados nesta greve. “A figura da policial feminina, frágil, indefesa, atacada por nós, professores, uns bárbaros. Curiosamente o capacete dela está direitinho. A roupa alinhada, como se tivesse saído da lavanderia. Para quem levou uma paulada, como disse a PM,  é estranho. Os dois muito arrumadinhos, ajeitadinhos…Esquisito demais”, questiona.

A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo protestou a respeito da informação de que haveria infiltrados. “A política de infiltração foi um expediente recorrente do período da ditadura militar. Esse é um método próprio de fascismo, do regime autoritário que usava de milicianos infiltrados em movimentos de resistência que lutavam pela Democracia”, protestou o líder do PT, deputado Antonio Mentor.

O PT na Assembleia vai requerer da Secretaria de Segurança Pública informações sobre a participação de PMs em manifestações da sociedade civil organizada e como e quantos homens fazem parte do Serviço Reservado da PM.

Ação na Justiça

O PSDB promete ingressar com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a Apeoesp usando a alegação, amplamente aceita e difundida por parte dos jornais de grande circulação, de que a paralisação é uma manifestação política, com caráter eleitoral. Para os tucanos, o discurso da presidente Isabel Azevedo a favor do governo federal e contra a gestão de José Serra configura desrespeito à lei. O partido entende que, além de campanha antecipada, a Apeoesp usa recursos sindicais para promover um partido político – no caso, o PT.

Os professores estão em greve desde 8 de março. Depois de três assembleias seguidas de manifestações na avenida Paulista e na região do Morumbi, onde fica a sede do governo paulista, os docentes voltam às ruas nesta quarta-feira (31). No vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), eles deliberam sobre a continuidade da paralisação.

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