Idosos ficarão sem unidade de atendimento especializado em São Paulo

Governo paulista vai fechar posto de especialidades que funciona no bairro do Belenzinho, na capital, e que recebe pacientes vindos de várias cidades e até de outros estados

Sala de espera do NGA Belém, que atende mais de 3 mil pessoas todo mês (Foto: Paulo Pepe)

São Paulo – A partir de 6 de agosto, o Núcleo de Gestão Ambulatorial (NGA) do Belenzinho, bairro da zona leste de São Paulo, deverá fechar as portas, depois de mais de 30 anos em funcionamento. E não é por falta de procura.

Todo mês passam por lá mais de 3 mil pessoas, para consultas com especialistas em cardiologia, dermatologia, endocrinologia, gastroenterologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, reumatologia, urologia e cirurgia plástica reparadora.

Ao todo, a secretaria do NGA mantém 45 mil prontuários. São pessoas encaminhadas por médicos de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e das Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs). Entre elas está o autônomo Antonio Ângelo de Oliveira, 54 anos, morador do Jardim Brasil, na zona norte da capital. Há mais de três anos, com problemas nos rins, ele foi a um posto na região em que mora, que o encaminhou para tratamento com nefrologista no NGA do Belenzinho.

De lá para cá, ele chegou a ser tratado por especialistas em dermatologia, gastroenterologia e otorrinolaringologia. “Ao contrário dos convênios, onde a consulta dura só cinco minutos, o atendimento aqui é ótimo. Os médicos ouvem a gente com muita paciência, explicam tudo com clareza. Sempre fui muito bem atendido por todos os funcionários. Estou muito triste por saber que um posto como este será fechado, quando o correto seria que outros assim fossem abertos”, lamenta Antonio.

A dona de casa Maria Rosa Matias (foto), 67 anos, moradora do Tucuruvi, também na zona norte, foi pega de surpresa com a notícia da desativação. “Mas como vão fechar? O posto funciona tão bem”, questiona. Ela conta que ali já fez tratamento com diversos especialistas e até pequenas cirurgias, como para a retirada de um cisto sebáceo. “Sempre fui bem atendida e é muito fácil vir até aqui, que fica perto do metrô. Posso vir sozinha”, diz.

A unidade fica na rua Dr. Clementino, número 200, num bairro tranqüilo, a três quadras da estação Belém do metrô. Já a AME Maria Zélia, para onde os prontuários serão transferidos, está localizada próxima à  Marginal do Tietê, um local com acesso mais difícil. 

A desativação do NGA do Belenzinho foi anunciada no dia 28 de maio, dois dias depois que o governador Alberto Goldman, em entrevista a uma rádio, comunicou investimento de mais de 13 bilhões na saúde em 2010. Inicialmente, o fechamento estava agendado para 17 de junho, mas o Ministério Público foi acionado pelos sindicatos dos 100 trabalhadores do posto (Sindsaúde e Sinsprev). O prazo acabou adiado para agosto.

Na tentativa de impedir o fechamento, os servidores procuraram apoio de parlamentares, como a vereadora Juliana Cardoso (PT), presidente da comissão de saúde na Câmara, e o deputado Fausto Figueira (PT), presidente da Comissão de Higiene e Saúde da Assembleia Legislativa de São Paulo. Uma alternativa, para eles, é a municipalização do posto.

Consultório virou depósito

Segundo os servidores, que temem ser demitidos, uma das desculpas do governo é a falta de estrutura do imóvel. “É estranho, pois o equipamento sempre funcionou a contento”, disse um deles, que pediu para não ser identificado.

Como  relatam, desde 1992 o governo estadual vem esvaziando o local, que é referência. O posto já teve 30 médicos. Hoje são dez, todos muito procurados. “O processo é igual ao do Hospital Brigadeiro, que perdeu suas especialidades e passou a atender apenas casos de transplante”, lembra outro servidor.

A Secretaria Estadual de Saúde, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que a transferência dos pacientes para o AME Maria Zélia vai melhorar o atendimento porque  “essa unidade possui 32 especialidades e as pessoas terão acesso a um modelo de alta resolutividade médica. Segundo a pasta, o Maria Zélia atende hoje cerca de 15 mil consultas/mês, mas tem capacidade instalada para realizar até 20 mil atendimentos.

Para Cláudio José Machado, diretor estadual do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado de São Paulo (Sinsprev), o fechamento do NGA é mais uma ação de desmonte da saúde pública para a privatização. “Os pacientes estão sendo transferidos justamente para uma AME cuja gestão é feita por uma organização social, a SPDM”, diz.

“A AME Maria Zélia é muito lotada. É preciso esperar meses por uma consulta”, aponta Inês Santos Oliveira, moradora do bairro, que há mais de sete anos vende lanches e refeições ao lado do NGA Belém. “Se já demora só com os pacientes que já tem, como ficará quando os daqui forem encaminhados para lá?”, questiona.

Dona Inês

Dona Inês conta que vê pessoas chegando de toda parte: Salto, Ubatuba, Caraguatatuba, gente até de Minas Gerais. “Chega gente de idade, de muleta, em cadeira de rodas. Vejo muita gente chorar quando fica sabendo do fechamento”. Para ela, que se diz de grande fé, uma providência divina manterá o posto aberto ainda por muito tempo.

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