Ministério da Saúde faz parceria com Coca-Cola em projeto contra obesidade

Especialista em nutrição critica apoio institucional do governo. Para ele, administração pública deveria enfrentar – e não se unir – à indústria de alimentos e bebidas

Empresa não concorda que refrigerantes estejam ligados à obesidade (Foto: stock.xchng)

São Paulo – Por ironia, uma marca de refrigerantes – produto associado ao ganho de peso da população em todo o mundo – é o principal patrocinador de um projeto de emagrecimento da editora Abril. O projeto conta com apoio do governo federal.

Intitulado Emagrece, Brasil, a iniciativa é liderada por duas revistas do grupo editorial e tem o apoio dos ministérios da Saúde, dos Esportes e da Educação. Segundo o hotsite da campanha, o objetivo é “fazer uma revolução no combate ao excesso de peso e ao sedentarismo”.

A meta, ainda segundo o site, é “reunir o maior número de pessoas dispostas a melhorar seus hábitos para conquistar um peso adequado e ganhar saúde e disposição por meio de uma alimentação equilibrada e da prática de atividade física”.

Para Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP,  a iniciativa é emblemática do crescente assédio da indústria de alimentos calóricos, ricos em açúcar e gordura e pouco nutritivos às autoridades de saúde em todo o mundo. Essa aproximação, por meio de patrocínio a ações de fundações, entidades e governos, visa a melhorar a imagem dessas empresas junto ao público consumidor, aos editores, à mídia em geral e ganhar aliados contra projetos de lei que vêm sendo elaborados em vários países da Europa e nos Estados Unidos, que pretendem sobretaxar esses “alimentos e bebidas”.

Dados oficiais mostram que no Brasil, mais da metade (52,1%) dos homens está acima do peso. Entre as mulheres, a taxa é de 44,3%.

“O Ministério da Saúde deveria pressionar outras áreas do governo para elevar alíquotas de impostos sobre esses produtos e dar incentivos aos produtores de alimentos saudáveis, inclusive de frutas e verduras, em vez de se aproximar desses fabricantes, como acontece neste exemplo”, disse o especialista, durante evento sobre a saúde dos brasileiros na USP.

A estratégia das indústrias tem sido criticada por especialistas no mundo todo. Artigos publicados em revistas especializadas denunciam apoio de fábricas de chocolates e de outros produtos nada saudáveis a entidades que se dedicam ao bem estar infantil em todo o mundo, como a Save The Children, e a Associação Americana de Diabetes.

Procurado diversas vezes pela reportagem da Rede Brasil Atual, o Ministério da Saúde não se pronunciou sobre o assunto. A Coca-Cola respondeu, mas limitou-se a discorrer sobre aspectos nutricionais da questão (leia abaixo).

 

A resposta da Coca-Cola

A Coca-Cola Brasil não concorda que os refrigerantes estejam ligados à obesidade.  Refrigerantes podem fazer parte de um estilo de vida saudável – que inclua uma variedade de alimentos, além de atividade física – mas não devem ser a única fonte de hidratação. Eles ajudam a matar a sede e a suprir, no organismo, a dose diária de líquidos. Podem contribuir também para satisfazer a demanda de carboidrato, combustível que fornece a energia necessária às atividades diárias.

A boa saúde depende do equilíbrio entre as calorias consumidas e o que queimamos por meio da atividade física. Este equilíbrio varia de pessoa para pessoa. A quantidade de açúcar e calorias dos refrigerantes, suficiente para realçar o sabor da bebida, é aproximadamente a mesma encontrada em diversos sucos de fruta. Sucos como de maçã, laranja e uva podem conter mais açúcar ou a mesma quantidade que os refrigerantes. Algumas frutas como a banana são também ricas em açúcar. Açúcar provém da cana e é um nutriente energético. Portanto, tem valor nutritivo. A não ser quando ingerido em excesso (como qualquer outro nutriente) o consumo de açúcar não traz qualquer inconveniente à saúde. Pessoas que não podem ou não querem ingerir açúcar, nos refrigerantes, podem optar pelos refrigerantes dietéticos ou de baixa caloria.

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