Sem histórico de Lula, Dilma ainda busca proximidade maior com movimentos sociais

Ao completar 100 dias de mandato, presidenta precisa consolidar apoio de sindicatos e organizações da sociedade civil

Dilma Rousseff, aos poucos, vai se afinando com os movimento sociais, nos primeiros 100 dias de seu governo (Foto: ©Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – Quando Luiz Inácio Lula da Silva encontrava-se, no fim de dezembro de cada ano, com moradores de rua e catadores de materiais recicláveis, a empatia era imediata. Com a mesma facilidade com que envolvia o público nesse tipo de evento, ele emocionava-se e, por vezes, não continha o choro. Após 100 dias de Dilma Rousseff na Presidência, a relação com os movimentos sociais ganha mais atenção, como forma de compensar o histórico elo entre Lula e esses ativistas.

A presidenta completa a primeira centena de dias no mandato neste domingo (10). O período é emblemático e marca os primeiros balanços de uma gestão no Executivo, em decorrência de uma relativa trégua da oposição no tom das críticas. O apoio popular decorrente da exposição da posse e da proximidade da eleição dificulta o trabalho dos adversários políticos.

No período, Dilma teve encontros com representantes de movimentos sociais, como 450 mulheres do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), na quinta-feira (7). Na ocasião, prometeu ouvir as reivindicações desses setores, embora admita que não poderá atender a todas. Com o movimento sindical, a proximidade é ainda maior.

Desde o início do mandato, em virtude das negociações relacionadas ao reajuste do salário mínimo e à correção da tabela do Imposto de Renda, foram diversas reuniões entre centrais sindicais e governo. Com a presidenta, um encontro ocorreu após os debates, em março. O secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi encarregado de intermediar a relação entre os representantes dos trabalhadores e o Executivo.

Para Antônio Augusto Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Dilma tem feito um esforço maior para se aproximar dos movimentos sociais e sindicais para evitar indisposição com setores que podem até se mobilizar contra ela. “Ela vê o movimento como aliado importante, mas sem o mesmo grau de proximidade e carinho que tinha o Lula, oriundo do setor. Com ela, é mesmo mais formal, mas tem feito o esforço para se legitimar”, sustenta.

Segundo Vagner Freitas, diretor de finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), há um agravante. “Além de o perfil de Dilma ser diferente do de Lula, o fato de um partido como o PMDB ter crescido no Congresso e ser um governo de coalizão colocam um pouco mais de dificuldade para questões defendidas por movimentos sociais”, avalia.

“Mas a relação vai se acertando”, sustenta. Freitas lembra que, apesar da celeuma nos episódios do mínimo e da tabela do IR, a conquista de uma política de reajuste até 2015 é um avanço que se deu já no governo Dilma.

“Está sendo mais fácil conversar com a Dilma do que era com o Lula nos primeiros cem dias de governo”, disse ao jornal Brasil Econômico o deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), presidente da Força Sindical. “Nossa (da Força Sindical) relação com ele só melhorou depois do ‘mensalão’. Antes disso, era igual ao FHC”, completou. No início do governo Lula, a central estava afastada do PT e da CUT, a ponto de ter concorrido como vice de Ciro Gomes em 2002.

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