Professores e alunos da USP reclamam da falta de diálogo da gestão atual

Representante da Pós-Graduação aponta que, além da estrutura centralizada, reitora Suely Vilela conduz as conversas de maneira equivocada

Mais uma reunião nesta segunda-feira (22) envolvendo professores, funcionários e os reitores de USP, Unesp e Unicamp terminou em impasse. Na saída, novamente, as entidades de classe carregavam nas reclamações contra a reitora da USP, Suely Vilela. Uma nova discussão pontual sobre a questão dos servidores está marcada para esta terça (23) mas, a julgar pelo histórico, a opinião dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) dificilmente será alterada.

Que a estrutura de poder da Universidade de São Paulo (USP) favorece a tomada de decisões vertical e concentrada, nem mesmo alguns dos setores conservadores da comunidade interna são capazes de questionar. Ao mesmo tempo, são vários os segmentos que apontam problemas na maneira de Suely Vilela dialogar (ou deixar de fazê-lo).

Tradicionalmente, as reuniões do Conselho Universitário (Co), órgão máximo de decisões da Universidade, ocorrem a portas fechadas. Nos últimos encontros, no entanto, os muros também estão bloqueados. O Co reúne-se no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), uma imensa área militarizada da Cidade Universitária – e onde manifestações de qualquer origem não podem ocorrer.

Uma dessas reuniões é contestada na Justiça pela Associação de Pós-Graduandos da USP, que aponta uma série de irregularidades, sendo que a mais séria é o fato de os discentes não terem sido avisados sobre a mudança de local da reunião – da Reitoria para o Ipen. Entre outras coisas, o encontro ocorrido em dezembro de 2008 aprovou o Orçamento da Universidade para o ano atual e mudanças no estatuto.

Representante dos estudantes de Pós-Graduação no Co ao longo de 2008, Ester Rizzi conta que, em outra ocasião, ficou sabendo da realização da reunião com exatos 38 minutos de antecedência. “Tem uma coisa que é do Estatuto, que é reservar 10% das cadeiras do Co para os alunos de graduação e outros 5% para a pós. Mas há uma postura, a forma de conduzir da reitora que é de não convocar, não negociar”, lamenta.

Logo nas primeiras reuniões de 2008, a Reitoria conseguiu aprovar mudanças no regimento de pós-graduação que, nas palavras de Ester Rizzi, “criaram um mestrado profissionalizante. Havia uma série de alterações propostas sem nenhum debate com a comunidade, com as unidades. O projeto foi elaborado no Conselho de Pós-graduação e aprovado a toque de caixa”.

Mesmo professores que apoiaram a entrada da Polícia Militar no campus consideram ruim a postura da atual gestão. Manifestando confiar na estrutura da Universidade “como ela é”, o professor Sérgio Oliva, do Instituto de Matemática e Estatística (IME), pensa que Suely Vilela gerou várias polêmicas ao longo do mandato. “A gente, do IME, apresentou críticas filosoficamente, acreditamos que a Universidade tem diálogo. O consenso não foi buscado nessa gestão, o diálogo para construir temas sólidos não foi procurado”, afirma.

A alteração nas regras do vestibular da Fuvest é um dos pontos em que o IME manifesta publicamente sua discordância. Estão previstas, entre outras coisas, mudanças nas disciplinas exigidas na 2ª fase em 50 carreiras. Sérgio Oliva acredita que se trata de uma alteração muito radical em um “tempo muito curto e sem o devido estudo. Veio conversar conosco o representante do Grupo de Trabalho de Vestibular. Várias críticas foram colocadas, inclusive a opinião de que deveria mudar apenas em 2010, mas infelizmente nada foi considerado. Podemos fazer uma proposta mais embasada. A Universidade é um lugar de reflexão e as coisas têm que ser feitas com muita calma”, destaca.

Maria Victoria Benevides, docente da Faculdade de Educação, não tem dúvidas da inabilidade da reitora e acredita que a ocupação da Reitoria, ocorrida em 2007, influenciou no mandato de Suely Vilela, inclusive na repressão de manifestantes em 9 de junho. Para ela, houve críticas de todas as partes na ocasião e “a reitora foi considerada fraca, que deveria ter enfrentado com maior dureza a situação. Agora, provavelmente, ela e o grupo dirigente acharam que não era possível desistir da repressão, inclusive atendendo ao governador do estado [José Serra], que numa prova de renovado e constante autoritarismo, enviou a Tropa de Choque”.

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