Para Stédile, reforma agrária deve incluir agroindústria

Brasília – O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, defendeu nesta quarta-feira (14) que a reforma agrária, da forma que foi pensada no Brasil, não atende […]

Brasília – O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, defendeu nesta quarta-feira (14) que a reforma agrária, da forma que foi pensada no Brasil, não atende mais as necessidades da população do campo. De acordo com Stédile, a reforma deve ser feita também com o setor agroindustrial. Diante disso, de acordo com o líder do MST, o movimento também deverá enfrentar as pressões das grandes empresas transnacionais que dominam setores da agroindústria.

“Temos problemas que se acumularam. A proposta de reforma, agora, exige um novo modelo ao qual o MST e a Via Campesina se somam. Agora, para uma reforma agrária de fato, precisamos combinar a distribuição da terra dos grandes latifúndios com a agroindústria e para isso é enfrentar as grandes transnacionais”, disse o líder. “Produzir só matéria-prima não aumenta renda nem do grande”, disse Stédile que participou de uma audiência pública na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados sobre o processo de criminalização dos movimentos sociais.

Ele chegou a citar três multinacionais que dominam o setor de laticínios no Brasil. “Não é possível que apenas três empresas estrangeiras tenham o controle do setor de leite em nosso país”, disse Stédile, que também defendeu o uso mais restrito de agrotóxicos no país. “O Brasil é o país que mais consome veneno em todo mundo”, destacou.

Ao falar sobre o Abril Vermelho, Stédile ressaltou que até hoje nenhum acusado de ter assassinado 19 integrantes do MST, no Pará, foi punido pela Justiça. “Porque nenhum culpado de Carajás foi punido até hoje? Imaginem se fosse o contrário. Estou aqui para renovar os protestos que faremos em todos os estados”, disse o líder.

O Abril Vermelho é uma ação organizada pelo MST que exige o assentamento de pelo menos 90 mil famílias que vivem em acampamentos e para isso promove ocupações de terras. O movimento faz parte da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária e rememora o Massacre de Eldorado de Carajás, no qual 19 pessoas foram mortas, em 17 de abril de 1996, no Pará.

Outro ponto que o MST passará a priorizar é a educação, segundo Stédile. Ele citou dados que indicam o analfabetismo ainda predominante na população rural adulta. “Não é possível fazer reforma agrária com analfabeto, junto com o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], tem que vir o MEC [Ministério da Educação]. O que acontece hoje é uma exclusão pelo acesso ao conhecimento. Nada justifica que nós tenhamos 19 milhões de trabalhadores adultos que não sabem ler e escrever. No meio rural brasileiro 56% dos adultos são analfabetos. Nada justifica também que apenas 10% dos jovens com idade de entrar na universidade consigam ter acesso ao ensino superior.”

Stédile também citou exemplos de países que fizeram a reforma agrária de forma muito mais “radical”. Lembrou dos Estados Unidos que limitou o tamanho das propriedades a 160 acres (aproximadamente 65 hectares) em 1962.

“Todos os âmbitos da reflexão política em todas as sociedades chegaram à conclusão que uma das causas da pobreza é a concentração da propriedade das terras. Sem desconcentrarmos a propriedade da terra dificilmente uma sociedade consegue ser democrática, onde todos os cidadãos tenham o mesmo direito e oportunidade. A reforma agrária é uma medida de democratização do acesso a um bem da natureza como base para se construir uma sociedade mais democrática”, destacou Stédile.

Fonte: Agência Brasil.

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