Para FHC, virtude de Lula foi dirigir governo ao povo

Ex-presidente revela mágoas com Serra e sua campanha, critica a linha adotada pelos marqueteiros e pede reconhecimento de seu governo. Diz ainda ficar chateado com quem o classifica como 'neoliberal'

Ex-presidente nega mágoas pessoais, mas reclama de Lula, de seu partido, dos marqueteiros e de Serra (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

São Paulo – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está chateado. Em entrevista à revista IstoÉ deste semana, o tucano lamenta que a campanha de seu partido oculte sua imagem e o que ele considera conquistas de sua gestão. Ele revelou ainda ressentimento em relação a quem o qualifica como “neoliberal”, mas vê, como virtude do governo Lula, a condução de ações dirigidas ao povo.

“Depois que estabilizamos a moeda ele (Lula) pôde acelerar as políticas sociais, que são as mesmas do nosso governo”, reivindica. “Uma das virtudes do governo Lula é que ele se dirigiu muito mais ao povo e o povo sentiu mais a política”, reconheceu.

 

Ele vai além. “Eu mudei o Brasil e este legado não está aparecendo”, afirma, deixando qualquer modéstia de lado. Mas, para ele, o julgamento que importa é o da história, e comparou-se aos ex-presidentes Getúlio Vargas e Juscilino Kubitchek, que terminaram seus mandatos sob muitas críticas da oposição e da imprensa. “Olha o jeito como (…) saíram do governo e a maneira com que foram julgados depois”, propõe.

Ele garante ter reconstruído o Estado em sua gestão, o que motiva sua insatisfação com sua qualificação de “neoliberal”. O ex-presidente também reconheceu méritos no governo de Fernando Collor de Mello, mas não mencionou o de Itamar Franco – do qual foi ministro da Fazenda e coordenou o plano econômico na fase anterior à implantação do Real.

Falta sintonia

Para Fernando Henrique, “a campanha de Serra não está sintonizada com o país”. A fórmula para acertar o prumo seria falar diretamente à população. “Você tem que convencer, ser espontâneo, fazer graça e ser contundente também”, enumera.

Nesse sentido, ele foi taxativo nas críticos à marquetagem da campanha, que atrapalha em sua visão. “Estamos fazendo campanhas engessadas, porque a maior preocupação no campo de batalha é a couraça. Se você conseguir quebrar isso, muda o jogo”, opina.

FHC havia manifestado insatisfação em outras circunstâncias. No programa deste sábado, Serra voltou a se afastar de qualquer afiliação política. “Não preciso de padrinho”, afirmou no programa da noite deste sábado (4).

O principal causador das mágoas com o publicitários que comandam a principal campanha de oposição à Presidência está relacionada à avaliação de que Fernando Henrique retiraria votos de Serra. Além de exclui-lo, a propaganda tucana comparou seu candidato com Lula, tanto do ponto de vista da trajetória como, mais recentemente, no caso Lurian – em que sua filha foi envolvida na campanha.

Aliados ouvidos pela IstoÉ, como Álvaro Dias (PSDB-PR) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) dão razão ao ressentimento do ex-presidente. Enquanto o primeiro evita opinar, o segundo qualifica a opção de ocultar Fernando Henrique como “um erro”.

O ex-presidente nega problemas pessoais com a opção de usar a imagem de Lula, mas pondera sobre o significado político disso. Apesar disso, defende que os presidentes saíam da campanha. ” O que o Lula está fazendo nunca se viu em nenhum lugar. O presidente virar guerrilheiro? Isso não pode, porque junto ele traz o círculo de poder. É abuso de poder político, reclamou.

Em 2002, Fernando Henrique Cardoso apoiou Serra como seu sucessor. Segundo seus críticos, não o fez com tanta intensidade porque tinha índices de aprovação ruins. Ele afirma agora que agiu assim por ter “uma visão mais republicana”.

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