Ciro em SP é “esforço muito grande” para o PT, diz Emídio

Apontado como pré-candidato por setores do partido, prefeito de Osasco ressalva que opção por Ciro Gomes no estado seria difícil, embora não chegue a ser “desastre”

Emídio de Souza (PT-SP), prefeito de Osasco, assume desejo de ser candidato em 2010 (Foto: Gerardo Lazzari)

O prefeito de Osasco (SP) e pré-candidato do PT ao governo do estado em 2010 Emídio de Souza reafirma que quer disputar a eleição, mas não coloca seu objetivo acima da estratégia nacional do partido. Para ele, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantenha a preferência pela indicação de Ciro Gomes (PSB-CE) para encabeçar a chapa em São Paulo, não será “um desastre, mas um esforço muito grande” para o PT.

Em julho, o presidente da República defendeu a indicação para a disputa no estado de São Paulo de Ciro Gomes, atualmente deputado federal pelo Ceará. Seria a primeira vez em 20 anos que o PT não teria a cabeça de chapa desde a redemocratização, em 1982. José Dirceu, Marta Suplicy, José Genoíno e Aloizio Mercadante concorreram nas últimas disputas.

Com discurso de candidato, em entrevista à Rede Brasil Atual, Emídio afirma que as próximas eleições serão “a melhor campanha da história do PT em São Paulo”. O cenário é composto pelo crescimento dos candidatos da legenda nas últimas quatro eleições aliado aos investimentos do governo federal e ao desgaste de três mandatos consecutivos do PSDB.

Entrevista

Emídio de Souza

Vereador de Osasco por três mandatos, deputado estadual por um, quando foi primeiro secretário da Assembleia Legislativa, Emídio foi eleito prefeito em 2004. Quatro anos depois, foi reeleito em primeiro turno, ambas as vezes disputando com Celso Giglio (PSDB).
De origem metalúrgica, o prefeito de 50 anos mantém na parede de seu gabinete, ao lado dos diplomas de posse do cargo, os registros de dois empregos. O primeiro, na Braseixos, onde foi empregado de 1974 a 1983. O outro é da Cemif, onde trabalhou de 1984 até 1987.
Formado em Direito, Emídio entrou para a política no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco. Aliado do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), tem atualmente mais projeção do que o colega que já foi presidente da Câmara dos Deputados, mas se envolveu no escândalo do “mensalão”.

Ele compara a hegemonia às de oligarquias regionais de outros estados, como as comandadas por Antonio Carlos Magalhães na Bahia, José Sarney no Maranhão, e Tasso Jereissati no Ceará. Isso porque Emídio enxerga, desde o governo de André Franco Montoro (então no PMDB), passando pelo de Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho uma mesma linha de administração. “Não há tradição ou continuidade que dure para sempre”, sustenta.

Caso o PT decida pela indicação do prefeito de Osasco ao governo, Faisal Cury (PTB) assumiria a cidade de 600 mil habitantes na região oeste da Grande São Paulo.

Os 40 minutos de entrevista foram divididos em duas partes. Na primeira, o prefeito se concentra na análise do ambiente político e eleitoral para 2010. Na segunda, discute questões que considera chave para o estado e indica o que poderiam ser bandeiras de uma campanha comandada por ele.

Confira a primeira parte:

Como o senhor recebe a movimentação para apontá-lo como pré-candidato ao governo do estado de São Paulo?

Meu nome tem sido citado por conta de minha trajetória. Sou militante do PT desde a fundação, tenho trânsito em todas as correntes políticas (do partido). Em um partido, é natural que surjam lideranças novas e que os nomes sejam considerados. Sou uma liderança nova do ponto de vista estadual, mas não dentro do PT, porque conheço a fundo o que é o partido.

Fiquei muito feliz em ter meu nome lembrado porque não fui eu que me lancei, fui alçado a essa condição. E isso deixa qualquer um envaidecido. Estou no processo para construir, mas não serei candidato a qualquer custo.

Com que custos o senhor não estaria disposto a arcar?

Não vou enfrentar a estratégia eleitoral nacional do PT. A coisa mais importante que temos neste ano que vem é a eleição da Dilma (Roussef), com a continuidade do projeto iniciado pelo presidente Lula, e São Paulo tem um peso muito grande nisso. Não vou colocar pretensões individuais à frente de um projeto nacional.

Mas é uma ambição política?

Não deixa de ser, porque me sinto muito preparado. Não só pelo que fiz em Osasco, mas pelo conhecimento que tenho de tudo o que foi feito pelo PT nas prefeituras pequenas, médias e grandes e no governo federal. O conhecimento dessas políticas mostra muito claramente que São Paulo pode ser muito diferente. Podemos aplicar outro modelo de desenvolvimento, de qualidade de vida no estado.

A candidatura da situação vem de uma sequência de três mandatos do PSDB no estado. Neste momento a oposição teria melhores condições para vencer os tucanos?

É verdade que eles estão há quase três décadas quando se soma PMDB e PSDB, e são exatamente uma linha de continuidade. Nos anos 80, isso começou com a eleição do (José Franco) Montoro em 1982, o (Orestes) Quércia era vice, o Aloysio Nunes era líder do governo na Assembleia, o (Alberto) Goldman era deputado federal, José Serra secretário de Planejamento, Paulo Renato da Educação. É a mesma continuidade.

O que digo é que não há tradição ou continuidade que dure para sempre, nem em um estado, nem em uma nação, nem em uma cidade. No Brasil, temos exemplos disso. Oligarquias estaduais como a de ACM na Bahia quebraram, perderam a eleição no primeiro turno para um candidato do PT que todos consideravam improvável. (José) Sarney perdeu no Maranhão depois de 40 anos. Tasso Jereissati, depois de quase 20 anos de dominação no Ceará, perdeu. Garotinho tinha uma força tremenda no Rio de Janeiro também. Esses processos eleitorais têm características surpreendentes mesmo. Quando tudo parece indestrutível é quando se quebra, às vezes. Acho que São Paulo está muito perto disso.

Por quê?

A força do PSDB em São Paulo não reside em dados concretos. Não é um partido que está bem na educação, na saúde, segurança pública ou no desenvolvimento regional. Estão bem porque tem uma força de mídia muito grande e tem uma articulação com o grande empresariado importante. Não é por respaldo ou feitos administrativos. O que eles fizeram aqui que garantisse a força que eles têm? Isso precisa ser questionando fortemente. Todas as obras em andamento que eles vendem como do governo do estado, têm a participação, de cima a baixo, do governo federal. No Rodoanel, são R$ 2 bilhões. Na expansão do metrô e da linha ferroviária, modernização do Porto de Santos, do aeroporto de Cumbica, a nova pista em Congonhas, o trem que liga Campinas ao Rio de Janeiro, também. Onde está o recurso de um estado que tem R$ 120 bilhões de orçamento? Tem caldo em São Paulo para uma campanha. Estou seguro de que esta vai ser a melhor campanha da história do PT em São Paulo.

Em que sentido?

De possibilidade de vitória. Quando se olha nosso passado eleitoral no estado, o José Dirceu disputou em 1994 com Mário Covas, teve 14% dos votos. Quatro anos depois, Marta fez 21%, depois foi eleita prefeita da capital. Aí veio (José) Genoíno em 2002 que saltou para 28%. (Aloizio Mercadante) em 2006 teve 32% no pior ano eleitoral que o PT enfrentou, depois das denúncias do mensalão. Agora pode ser melhor, porque além de ter o histórico de crescimento eleitoral, temos 64 prefeituras, um cinturão de grandes cidades na grande São Paulo e no interior comandadas pelo PT, dois dos três senadores são nossos, uma bancada federal expressiva e a força do governo do presidente Lula no estado.

Para se ter uma ideia, 10% do Bolsa Família no país está no estado de São Paulo, 1,1 milhão de famílias. Quase 30% dos 500 mil jovens que estudam no Prouni, 140 mil, estão no estado de São Paulo. A urbanização de favelas, como Paraisópolis e Heliópolis, é feita com recursos federais do PAC. Das 88 universidades federais novas ou em expansão, 13 estão no estado de São Paulo – ABC, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos, entre outras. São 23 novas escolas técnicas. E da geração de 11 milhões de empregos, pelo menos 4 milhões foram em São Paulo. A indústria paulista tomou outro fôlego. Vai ser um momento de força nesta disputa.

O presidente Lula aparece como articulador de uma candidatura de Ciro Gomes em São Paulo, uma liderança de fora do estado e do PSB. Nessa conjuntura, um candidato de fora do estado e de outro partido poderia aproveitar o cenário que o senhor considera favorável?

Ao analisar a política de São Paulo em si, o partido com maior força eleitoral é o PT. Viemos com um histórico de mais de 30% dos votos. Por que vamos abrir mão da cabeça de chapa para outro partido? Agora, não fazemos política de costas para o cenário nacional. Sabemos que precisamos fazer uma aliança ampla para ganhar São Paulo, e Lula tem de fazer uma aliança ampla para eleger a Dilma. Uma coisa interfere na outra.

A minha vontade é de o PT ter candidato próprio; é de ser o candidato. Mas o que se coloca é que São Paulo precisa participar de um esforço nacional para a eleição da Dilma. Se isso vai dar na candidatura de Ciro Gomes, não sei. Depende da avaliação, do diálogo que Lula vai ter conosco, mas é evidente que para nós não é uma saída fácil. Seria a primeira vez em 30 anos em que não disputaríamos uma eleição com candidatura própria. Não é um desastre, mas é um esforço muito grande que teríamos de fazer. Mas sabemos da importância da eleição da Dilma.

Quais seriam os desafios no estado?

Estamos agora em um momento não só de prestação de contas, mas de projeção do futuro. A política do PSDB nesse tempo todo privatizou, entregou o patrimônio público disponível. O que não conseguiram fazer no Brasil, por conta da derrota para o PT, fizeram em São Paulo. Não há instrumento de gestão, não tem banco, perdeu primeiro o Banespa e depois a Nossa Caixa, não tem centrais elétricas, distribuição de energia, controle das estradas, nada.

O estado de São Paulo tem responsabilidade direta sobre quatro áreas em minha visão. Segurança pública – que não privatizaram porque não dava –, educação, saúde e saneamento básico. E as quatro são as piores. O que puderam, privatizaram, o que não puderam, não cuidam direito. Tem discurso de sobra para um candidato de oposição em São Paulo, coisa que Serra não tem contra Lula. Essa é a diferença. Qual é o discurso da oposição no Brasil? Vão gerar mais emprego? Tiveram no governo e não fizeram isso. Vão ter plano de expansão de energia? O tempo deles foi o do apagão. Vão aumentar o salário mínimo se o valor era de 100 dólares e agora é de mais de 200 dólares?

Essas seriam bandeiras de uma eventual campanha sua?

Como sou um candidato novo, provavelmente eu centraria mais a campanha em temas políticos – defesa do Lula, da Dilma – mas também em temas administrativos, porque venho de uma experiência administrativa importante.

 

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