Partidos demarcam espaço face ao futuro governo

Integrantes de partidos da base governista e de oposição traçam próximos passos

Palácio do Planalto depois de reformado (Foto: José Cruz/ABr)

Rio de Janeiro – A vitória da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, provocou distintas reações entre lideranças dos partidos da base governista e da oposição no Rio de Janeiro. De um lado, os partidos que comporão a base de sustentação do governo Dilma já se movimentam para garantir a continuidade – e, se possível, a ampliação – de seus espaços na máquina federal. De outro lado, os partidos de oposição de direita e de esquerda ajustam seus discursos frente ao futuro governo.

Presidente do PDT e ministro do Trabalho no governo Lula, Carlos Lupi comemorou o que considera ser um “grande avanço” com a vitória da candidata petista. Além de ser a primeira vez em que uma mulher chega ao cargo, ele destaca a origem da nossa nova presidente. “A Dilma representa a mulher que conseguiu travar a luta política e ideológica. Ela resistiu à ditadura, foi presa e já mostrou sua competência nesses oito anos de governo do presidente Lula. Ou seja, é a mulher assumindo de vez o seu lugar de vanguarda na política nacional”, disse, em conversa exclusiva com a Rede Brasil Atual.

Lupi avalia “que o PDT foi bem” nestas eleições. “Aumentamos nossa bancada de 21 para 28 deputados e, com os quatro senadores, temos uma bancada forte no Congresso”, calcula. Sobre a participação do partido no próximo governo Dilma, o ministro afirma que agora é hora de aguardar o tempo de decisão de Dilma. “Quanto à permanência do partido no governo, acho que temos que deixar a presidente muito à vontade porque ela já conhece como é o PDT. A Dilma militou com a gente durante 20 anos. Ela conhece bem o partido e seus quadros, e no futuro a gente vai, quando ela achar conveniente, conversar e avaliar o que ela acha melhor sobre a participação do partido em seu governo”.

Outro partido aliado que pretende manter – ou aumentar – sua participação no governo federal é o PSB, turbinado pela eleição de seis governadores. Os socialistas comandam desde o início do governo Lula o Ministério da Ciência e Tecnologia, primeiro com Roberto Amaral e depois com Sérgio Rezende. Responsável pela indicação de Amaral para o ministério em 2003, o deputado federal reeleito Alexandre Cardoso (PSB-RJ) estará na linha de frente da negociação sobre a manutenção dos rumos da pasta. Procurado pela reportagem, o deputado – que, ao lado do ex-jogador e deputado federal eleito Romário Farias (PSB-RJ), foi ao Piauí ajudar na vitória do governador eleito Wilson Martins – não foi encontrado.

Cobranças

Maior partido da base aliada de Dilma, o PMDB tem como principal líder no Rio de Janeiro o governador reeleito Sérgio Cabral. Uma das pessoas mais próximas à candidata petista durante a campanha, Cabral demonstrou, logo no dia seguinte à vitória da aliada, que o tempo da cobrança já começou.

Em questão não estão cargos, mas a polêmica sobre os recursos do petróleo extraído das reservas de camadas do pré-sal. “A Dilma garantiu que vai honrar o que está combinado entre mim, ela e o presidente Lula, que é a mudança do regime, sendo implantada a lei da partilha, estabelecendo um percentual de royalties que gera receitas e dá ao Rio uma grande tranquilidade”, afirmou a jornalistas, fazendo referência aos projetos relativos ao pré-sal ainda em trâmite no Congresso Nacional.

Logo após a confirmação da vitória de Dilma pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entanto, Cabral tornou pública sua alegria por intermédio do Twitter: “Pela primeira vez vamos ter uma mulher presidente do Brasil. Mais que uma questão de gênero, temos a confirmação de um trabalho”, escreveu o governador.

Briga com a economia

Entre os partidos de oposição, a reação à vitória de Dilma Rousseff já busca balizar a relação política com o futuro governo. Líder nacional do PSOL, o ex-deputado federal Milton Temer, que obteve 536,1 mil votos na disputa pelo Senado no Rio de Janeiro, lembra que “o partido teve uma posição clara de nenhum voto ao Serra”, já que uma eventual vitória do candidato do PSDB era considerada um retrocesso pela grande maioria dos militantes do partido.

Ele disse à Rede Brasil Atual respeitar os militantes que votaram nulo, mas revela ter encaminhado apoio a Dilma. “Entendo que é melhor fazer oposição e lutar contra essa política econômica atual”, sustenta. Uma vitória de José Serra (PSDB) poderia representar, na visão dele, o risco de volta de Paulo Renato Souza para o Ministério da Educação e de Luiz Felipe Lampreia para o Ministério das Relações Exteriores. O risco de “entrega” da Base de Alcântara no Pará para os Estados Unidos também foi citada pelo membro do PSOL.

“Essas são coisas que certamente não acontecerão no governo Dilma. Com a Dilma, a gente briga só com a economia”, afirma, bem-humorado, Temer. Apesar da posição, o dirigente ressalta que o partido “não dará nem apoio crítico” à próxima presidente. “Somos uma oposição de esquerda que tem claramente como alvo o lado conservador do governo Dilma, não o lado bom”, detalha.

A parte defendida por Temer está relacionada à política externa e a integração latinoamericana. Os aspectos negativos são autonomia do Banco Central “em relação ao governo”, mas subordinado aos bancos privados. “Se fazemos oposição à Dilma, fazemos oposição mais ainda a essa direita reacionária e golpista que se juntou a Serra”, afirma Temer.

À direita, coube ao ex-prefeito Cesar Maia, do DEM, tornar públicas as primeiras impressões sobre a vitória de Dilma. Em seu ex-blog na internet, Cesar afirma que o fim do governo Lula “encerra um longo ciclo de democratização no Brasil” e alerta que Dilma terá de ir “além da mera continuidade” se quiser governar com sucesso. “Dilma terá que liderar este novo ciclo sob pena de frustrar expectativas implícitas no imaginário popular e transformar a euforia da vitória em quatro anos perdidos, na plataforma de lançamento deste novo período que as instituições democráticas brasileiras, as instituições econômicas e as instituições sociais exigem para seu aprofundamento”.

Procurado pela reportagem, o vice-presidente nacional do PV e deputado federal eleito, Alfredo Sirkis, não foi encontrado. Entretanto, a julgar pelas declarações da senadora Marina Silva, candidata derrotada do partido nas eleições presidenciais, o PV não descarta uma aproximação com o governo Dilma desde que esta “se dê sob bases programáticas”.

 

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