Deputados de esquerda querem formar comissão ‘paralela’ de Direitos Humanos

Para Chico Alencar (Psol-RJ), pastor Feliciano na presidência da CDH equivale a colocar 'vampiro no banco de sangue'; Erundina fala em resistência: 'Vamos às últimas consequências'

O deputado Domingos Dutra (PT-MA) iniciou o movimento de retirada da CDH (Foto: Alexandre Martins/Ag. Câmara)

Brasília – Revoltados com a tomada da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara por deputados conservadores e de direita, muitos deles fundamentalistas religiosos ligados a denominações evangélicas, parlamentares do PT, do PSB e do Psol abandonaram hoje (7) o colegiado cogitando recorrer à presidência da Casa, apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) e até criar uma comissão paralela.

A retirada em massa foi inciada pelo até então presidente da CDH, deputado Domingos Dutra (PT-MA). Depois de fazer um balanço de sua gestão, ele renunciou ao cargo e abandonou a Mesa em protesto contra a eleição do pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) para o seu lugar, que ocorreria na sequência. Feliciano é conhecido por reiteradas declarações consideradas homofóbicas e racistas.

O gesto de Dutra foi acompanhado por Luiza Erundina (PSB-SP), Jean Willis (Psol-BA), Érika Kokay (PT-DF), Luiz Couto (PT-PB) e Chico Alencar (Psol-RJ), entre outros parlamentares de esquerda que acompanhavam a sessão, fechada a manifestantes por determinação da presidência da Câmara. Todo o corredor que reúne vários plenários foi isolado.

Do lado de fora do plenário, enquanto o nome de Feliciano era ratificado por seus pares, Chico Alencar lançou a ideia da “comissão paralela”, indicando Erundina para presidi-la. “A Câmara dos deputados não pode assistir ao sepultamento da Comissão de Direitos Humanos”, disse ele, para quem a eleição de Feliciano à presidência da CDH equivale a colocar “um vampiro gerenciando um banco de sangue”.

Dutra culpou diretamente o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pelo que ocorreu na CDH. “A responsabilidade por fazer da Comissão um curral dos fundamentalistas é do presidente da Casa. Ele teria sido mais coerente se tivesse acabado de vez com a comissão”, criticou. “Vamos questionar na mesa, vamos questionar o presidente da Casa, vamos ao Supremo, não vamos deixar barato.”

Para Jean Willys, a eleição de Feliciano faz parte de um processo maior de ataque às chamadas minorias. “Há um movimento neste país contra os direitos humanos, eles é que passaram por cima de nós”, lamentou o deputado e ativista da causa LGBT.

A deputada Érika Kokay disse que não havia como o grupo permanecer na comissão. “O que está acontecendo na Câmara é uma história trágica, não podíamos ser cúmplices desse atentado”. O desabafo foi acompanhado de um chamado à resistência feito por Erundina: “Eles, os outros, não toleram a democracia, as liberdades democráticas e os direitos humanos. Eles são conservadores e individualistas, nós somos revolucionários. Vamos às ultimas consequências na defesa dos direitos humanos”, garantiu a deputada paulista.

Com informações do repórter Vitor Nuzzi

 

Leia também

Últimas notícias