Em Washington, Lula prega direitos globalizados para trabalhadores

Falando a sindicalistas norte-americanos, ex-presidente ironizou o sistema financeiro: “Quando estourou a crise, o deus mercado foi socorrido pelo diabo Estado”

Lula durante a conferência da UAW, nos EUA (Foto: Ricardo Stuckert/IL)

Washington/EUA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou as principais centrais sindicais do mundo a pressionar os países do G20 a rever sua conduta em relação às consequências da crise econômica. Lula lembrou uma série de decisões aprovadas pela cúpula em abril de 2009 – direcionadas ao estímulo ao desenvolvimento sustentável e o zelo às condições sociais e ambientais do planeta.“Se a economia é globalizada, a produção é globalizada e os lucros são globalizados, os direitos dos trabalhadores têm de ser globalizados também”, afirmou, no discurso de abertura de de uma conferência promovida pelo United Auto Workers (UAW), o sindicato dos trabalhadores no setor automobilístico e aeroespecial norte-americano.

O presidente da UAW, Bob King, afirmou ter convidado o ex-presidente brasileiro por ter sido o único chefe de Estado a combater os efeitos das tragédias provocadas pelo sistema bancário a partir de 2008 nos países do mundo. “Enquanto todos falavam em austeridade, Lula apostava em prosperidade. Por isso o Brasil soube suportar a crise melhor que os demais, inclusive os Estados Unidos”, disse.

Em reunião informal ocorrida horas antes da abertura, Lula havia dito que é papel do movimento sindical se organizar para, além de cuidar dos assuntos específicos dos trabalhadores, promover a luta de toda a sociedade. “A luta dos trabalhadores, se for só por salários e melhores condições de vida, chega um momento em que ela perde a continuação. Então o trabalhador diz ‘eu estou empregado, eu tenho uma casa, eu tenho um carro, então não preciso mais lutar’”, afirmou, conclamando as principais entidades sindicais mundiais a se organizar para pressionar o grupo dos 20 países mais desenvolvidos.

“O sistema financeiro não tinha direito de fazer o que fez ao mundo”, afirmou, referindo-se ao fato de o mercado impor seus interesses aos das pessoas, ter provocado a crise e, agora, dizer como resolvê-la. “Quando a crise apertou, o deus mercado foi pedir socorro ao diabo estado”, ironizou.

Lula alfinetou também a direção mundial do grupo Renault/Nissan por estimular práticas antissindicais nas unidades da empresa nos Estados Unidos.

“Como se pode falar em democracia e em liberdade se não há liberdade de o trabalhador se organizar?”, criticou. O UAW move campanha para convencer a direção da Nissan a realizar uma eleição em sua unidade de Canton, no estado do Mississippi, para que os funcionários possam decidir se admitem a entidade como sua representante sindical. A Nissan rebate a campanha com ameaças de desativar a fábrica.