Denúncias contra Chalita nasceram no comitê de campanha de José Serra

Segundo jornal O Estado de S.Paulo, assessor que trabalhava na campanha do tucano encaminhou e acompanhou depoimento de denunciante ao Ministério Público

Gabriel Chalita, alvo de denúncias elaboradas por comitê eleitoral de Serra, em 2012 (chalita.com.br)

São Paulo – Matéria publicada na edição de hoje (27) do jornal O Estado de S.Paulo mostra que denúncias contra o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) – de que teria recebido irregularmente R$ 50 milhões quando era secretário estadual de Educação – nasceram no comitê de campanha do então candidato a prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), no ano passado.

Por conta das denúncias, Chalita teria sido descartado pelo Palácio do Planalto de uma possível reforma ministerial preparada pela presidenta Dilma Rousseff – ele estaria cotado a assumir a pasta de Ciência e Tecnologia. O deputado, que foi candidato à prefeitura de São Paulo no ano passado, criticava fortemente a José Serra, em especial na campanha pelo segundo turno das eleições, quando passou a apoiar o petista Fernando Haddad.

Leia abaixo o texto do site do Estadão, assinado pelos repórteres Bruno Boghossian e Julia Dualibi:

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Brasília – Um assessor da campanha de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo em 2012 levou o analista de sistemas Roberto Grobman ao Ministério Público para que ele apresentasse denúncias de corrupção contra o deputado Gabriel Chalita (PMDB), acusado de receber R$ 50 milhões de empresários quando era secretário paulista de Educação.

Grobman foi levado aos promotores pelo jornalista Ivo Patarra, que fazia “assessoria política” para a campanha tucana, em outubro do ano passado, quando Serra disputava o 2.º turno da eleição municipal paulistana. Patarra seguiu orientações do deputado Walter Feldman (PSDB), um dos coordenadores da campanha do PSDB.

O adversário de Serra naquela ocasião era o atual prefeito Fernando Haddad (PT), que tinha o apoio de Chalita – responsável por verbalizar as mais duras críticas ao tucano em debates, depoimentos e entrevistas.

Procurado pelo Estado, Patarra admitiu que, enquanto trabalhava na campanha de Serra, levou Grobman ao MP. “Eu estive lá e acompanhei os quatro depoimentos iniciais dele. De certa forma, fez parte do meu trabalho na época”, disse o jornalista. “Não vou te negar isso: a gente estava na campanha”, completou.

Grobman esteve no Ministério Público ao lado de Patarra duas vezes na disputa do 2.º turno. As informações não vieram a público durante a campanha porque os promotores não avançaram na investigação. Como deputado federal, Chalita desfruta de prerrogativa de foro, perante o Supremo Tribunal Federal.

“A gente acabou não fazendo qualquer uso eleitoral do que a gente descobriu. Os primeiros depoimentos ainda foram no período antes do 2.º turno, mas já com a decisão de que não se faria uso disso na eleição, para que a denúncia não fosse prejudicada por essa acusação de ser eleitoreira”, justificou Patarra.

O jornalista disse que levou Grobman ao MP por orientação de Feldman. O deputado confirma ter pedido que a denúncia fosse levada aos promotores.

“Essa informação nos chegou na campanha. O Chalita candidato, nós na campanha do Serra… Nós colocamos que eram denúncias que nos pareciam que deveriam ser investigadas, então eu sugeri, juntamente com o Ivo, que fizesse o encaminhamento ao Ministério Público”, declarou o tucano.

Grobman afirma ter trabalhado como assessor informal de Chalita na secretaria de Educação. Ele diz que presenciou, pelo menos seis vezes, momentos em que Chalita recebeu malas e caixas com “pilhas de notas de dinheiro”. Grobman afirma que Chalita cobrava 25% de empresas interessadas em firmar contratos com sua pasta.

Pagamento

Patarra diz que trabalhou formalmente na campanha de Serra e afirma que o comitê tucano fez pagamentos por seus serviços de “assessoria política”. Ele declarou, no entanto, que não emitiu nenhuma nota fiscal que comprovasse o pagamento.

Em novembro de 2012, no mês seguinte à eleição, Feldman pediu reembolso à Câmara dos Deputados pela prestação de serviços da empresa Ivo Patarra Comunicações Ltda., que emitiu a nota fiscal no valor de R$ 9 mil. O deputado disse que o pagamento era por outro serviço de comunicação prestado por Patarra. “Era totalmente outro serviço. Não tinha nada a ver”.

Questionado sobre a falta de pagamentos a Patarra na prestação de contas da campanha, Feldman disse: “Não sei. Não tinha nenhuma relação desse caráter”.