Aécio vira o ‘timoneiro’ de ala tucana cansada do predomínio paulista da sigla

Disputa pelo controle do PSDB, no ano que vem, é o primeiro round da disputa que definirá o candidato do partido em 2014

Aécio ao lado de FHC durante encontro do PSDB nesta semana em Brasília (Foto: Sérgio Lima/Folhapress)

São Paulo – Importantes lideranças do PSDB em âmbito nacional não escondem que o partido trabalha a passos largos para consolidar o nome do senador Aécio Neves (MG) como o candidato do partido à disputa presidencial de 2014 contra a candidatura da presidenta Dilma Rousseff è reeleição. Como dizem os mineiros, 2014 “é logo ali”.

O primeiro semestre de 2013 será decisivo para a definição dos rumos tucanos. O partido realiza, até maio, suas convenções municipais (24 de março), estaduais (28 de abril) e nacional (25 de maio). Ao final desse processo, a sigla elegerá seu novo presidente nacional. Aécio está na briga por este posto-chave, considerado fundamental para suas pretensões em 2014. Mas José Serra, candidato derrotado à prefeitura de São Paulo neste ano, também já emitiu sinais de que pretende recuperar suas posições no tabuleiro tucano candidatando-se à mesma vaga.

O que está em jogo é uma disputa que se arrasta há anos entre o PSDB paulista e os quadros tucanos da maioria dos demais estados brasileiros – que veem na predominância do núcleo bandeirante (que alguns preferem classificar de “arrogância”) a explicação para as sucessivas derrotas nas últimas eleições presidenciais, todas para o PT e seus aliados. 

Até 2014 haverá muita negociação, mas a candidatura de Aécio é considerada a solução por ninguém menos do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o mais ilustre dos tucanos paulistas, e também pelo presidente nacional do PSDB, deputado federal pernambucano Sérgio Guerra. Os dois declararam sua aposta na quarta-feira (3), num evento com a presença de cerca de 700 prefeitos, realizado em Brasília.

“Ele não precisa de nada, de convenção, de nada. Ele será ungido como candidato”, disse FHC. Sérgio Guerra, que deve deixar a presidência nacional da legenda após as convenções, também foi veemente: “Aécio é, seguramente, o verdadeiro candidato da maioria do PSDB e deve assumir a presidência do partido. É o chefe que precisamos e o líder que desejamos”.

O problema é que nem todos os tucanos de alta plumagem concordam. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se encarregou, no dia seguinte, de manifestar a discordância. Ele disse que Aécio “é um grande nome” e “tem todas as qualificações”, mas que “essa questão de escolha de candidato tem de ser mais para a frente. Mais para a segunda metade do ano que vem”. O governador afirmou que falar de sucessão agora “encurta o governo”. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) fez coro a Alckmin, se disse surpreso e também expressou discordância.

Mas o PSDB mineiro, como o paulista FHC e o pernambucano Guerra, pensa diferente. À RBA, o deputado federal Marcus Pestana, presidente do partido em Minas Gerais, diz que “95% dos tucanos visualizam que Aécio é o timoneiro do novo ciclo. É a bola da vez”. Para essa ala tucana, Fernando Henrique e Sérgio Guerra expressaram a vontade amplamente majoritária do PSDB. “O balão de ensaio [de Guerra e FHC a favor de Aécio] foi importante”, diz Pestana. “Alckmin está focado na reeleição dele, que é fundamental para o PSDB e para o país”, interpreta.

Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, o deputado federal Bruno Araújo (PE), preconiza que “Aécio será o candidato, a não ser que não queira”.  Segundo o parlamentar, o ambiente é favorável ao senador mineiro. Em sua avaliação, o ex-governador de Minas é favorito a dar o primeiro passo para consolidar a candidatura em 2014 já nas convenções do partido no primeiro semestre do ano que vem. “Ele deve assumir a presidência do partido e ir se consolidando na própria sociedade brasileira”, afirma.

Embora entenda que o PSDB deva “respeitar o tempo de Aécio” para se consolidar, Araújo diz que a bancada tucana aposta “com firmeza” em seu nome para a sucessão da presidenta Dilma. “Entramos em 2013 com uma candidatura não posta, mas com condições necessárias para se consolidar. O anúncio mais formal será feito no momento mais apropriado”, prevê Araújo. Como Pestana, o deputado pernambucano, diplomaticamente, diz considerar a candidatura de Alckmin uma peça chave no tabuleiro sucessório: “São Paulo é essencial na eleição de 2014”.

Serra e Eduardo Campos

José Serra, que alguns consideram carta fora do baralho e outros encaram com mais cautela, por conhecer sua persistência e força política, é uma incógnita. Marcus Pestana manifesta a clara posição de seu estado, que em 2010 teve de aceitar a imposição do tucanato paulista: “Serra vai cumprir outros papéis, ele não se coloca mais nessa perspectiva [de presidir o Brasil]”.

Sobre o fator Eduardo Campos, o deputado tucano de Minas não esconde que “gostaria muito” de uma composição do governador de Pernambuco, do PSB, com Aécio. “Seria uma chapa fortíssima, ele e Aécio são amigos e conversam com frequência. Para nós seria bom, pois seria uma divisão das forças do governo”. Embora franco, Pestana demonstra realismo: “Eu gostaria, mas é pouco provável. Só dá para dizer que ele vai enfrentar Dilma quando ele se desgarrar do governo”, diz.

A RBA tentou ouvir vários tucanos de São Paulo sobre a disputa, entre eles os deputados estaduais Fernando Capez, Mauro Bragatto, Cauê Macris e Pedro Tobias, além do federal Mendes Thame, mas nenhum deles deu retorno até o fechamento desta matéria, na sexta-feira (8) à noite.

 

 

 

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