PT larga na frente pela sucessão do governo da Bahia em 2014, apesar de derrotas

João Henrique, prefeito de Salvador quer encabeçar chapa de oposição a Jaques Wagner, mas alta rejeição e atritos com ACM Neto são obstáculos

Walter Pinheiro é o nome mais cotado no PT para o governo baiano, devido a seu desempenho na eleição de 2010 (Foto: Moreira Mariz/Ag. Senado)

São Paulo – Após a conclusão das eleições municipais da Bahia, PT e DEM se apresentam como os dois partidos que mais têm chances de vitória na sucessão do governador Jaques Wagner em 2014. Enquanto os Democratas faturaram as prefeituras das duas maiores cidades do estado – Salvador com ACM Neto e Feira de Santana, com José Ronaldo –, o PT teve a maioria dos ganhos numéricos em relação aos municípios e já começou a articulação para continuar protagonista da política estadual após a saída de Wagner.

Entretanto, o partido do governador não poderá seguir sua estratégia montada previamente, que consistia em fortalecer o nome do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. O gestor, que deixou o cargo no início do ano, era a principal aposta de Wagner para ser o candidato petista nas eleições de 2014, tendo sido alçado ao cargo de secretário estadual de Planejamento. O plano era fazê-lo presente nas agendas do governador e participar das principais decisões da gestão, mas a ideia não deu certo como se esperava.

Uma vez que o governo do estado teve um ano de 2012 difícil ao brigar com servidores estaduais nas greves dos professores e da Polícia Militar, toda a estrutura administrativa sofreu abalos de imagem. Assim, Gabrielli acabou tendo uma atuação discreta na gestão local e, paralelamente, sofrendo com desgastes em relação às críticas à sua administração na Petrobras. Atualmente, nenhum petista da alta cúpula na Bahia acredita que possa haver retorno quanto ao investimento de seu nome para o governo nas próximas eleições.

“Gabrielli é impossível. Se desgastou muito neste ano, não participa muito das atividades do governo, não está com o nome em voga”, argumentou uma fonte no governo baiano. Segundo esta mesma fonte, atualmente os caciques petistas no estado têm boas esperanças em viabilizar dois nomes: o do senador Walter Pinheiro, derrotado na eleição de 2008 à prefeitura de Salvador, e o secretário estadual da Casa Civil e deputado federal Rui Costa.

Desgastado, em virtude das greves de servidores públicos no estado, Gabrielli deixou de ser cotado para disputar a eleição em 2014 (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Destes dois nomes, o de Pinheiro desponta como favorito. Ele teve uma performance notável nas eleições de 2010 e, juntamente com Lídice da Mata (PSB), foi eleito pela base do governador Wagner impedindo a reeleição de César Borges (PR), dada como certa no início da campanha. Assim, conquistou ainda mais força interna no partido e, devido a este fato, por pouco não voltou a ser candidato à prefeitura de Salvador. O compromisso, por outro lado, já estava assumido internamente pelo partido em nome de Nelson Pelegrino, que acabou sendo derrotado por ACM Neto no segundo turno.

Já Rui Costa surge como opção devido à grande proximidade que tem com o governador desde os tempos de movimento sindical. Esteve na alta cúpula do governo baiano ao longo dos seis anos da atual gestão e, na maioria do tempo, exerceu o cargo de secretário de Relações Institucionais. Porém, durante este tempo, não teve uma grande performance em resolver problemas usando da diplomacia interna e não escapou de ter sua atuação criticada tanto por aliados como por adversários políticos. Em 2010, foi eleito deputado federal com a maior votação do partido e voltou ao governo, dessa vez para coordenar a Casa Civil. Seu desafio para ganhar a indicação ao governo será derreter a rejeição que possui em diversos setores do partido, que tem diversas tendências internas, além de demonstrar ter bem menos carisma eleitoral do que Pinheiro.

O presidente do PT baiano, Jonas Paulo, refuta que haja qualquer definição entre uma polarização – por enquanto – aos nomes dos dois correligionários. Segundo ele, o momento para o PT é de fazer as contas exatas para saber exatamente qual o tamanho de seu capital político e organizar bases. Ele acredita que, antes de pensar em 2014, as forças do partido irão para as eleições de presidente da Assembleia Legislativa da Bahia e da União dos Municípios da Bahia (UPB).

“O PT não tem nenhuma unanimidade quanto a nomes. Uma campanha se começa pela política e não pelos nomes. Quem faz política escolhendo primeiro o nome está querendo ser derrotado. É muito cedo para isto. Gabrielli é um grande militante do PT, um grande dirigente de governo, Pinheiro é um grande senador, Rui Costa é um grande deputado e eu sou um presidentezinho razoável”, desconversa. O presidente petista também nega ter ido, juntamente com o governador, encontrar Dilma Rousseff em duas oportunidades este mês para submetê-la à aprovação de nomes. “Não existe isso.”

De acordo com o pensamento do PT, as derrotas em Salvador e Feira de Santana foram pontuais, uma vez que a base do governo conseguiu eleger 82% dos prefeitos da Bahia este ano. Foram, segundo sua conta, 93 municípios com prefeitos da base, além de 524 vereadores, o que faz com que o PT seja maior força política no estado atualmente. “O PT é o partido mais votado da Bahia. Crescemos extraordinariamente. Obviamente, nós vamos seguir em um processo sucessório, porque o PT quer continuar a ser o protagonista político. O PT está muito maduro. A candidatura de Pelegrino foi decidida com um ano de antecedência. O partido sabe que qualquer tipo de fratura representa perda de densidade politica e de condução do processo”, sentencia.

DEM e as ‘contas’ a pagar

Fortalecido com as eleições em Salvador e Feira de Santana, o DEM conseguiu um fôlego inédito nos últimos anos no estado e, com os futuros governos de ACM Neto e José Ronaldo, já cria credenciais para voltar a ter boas chances de reconquistar o Palácio de Ondina em 2014. Entretanto, o período de dificuldades dos Democratas no estado deixou marcas que, por enquanto, deixam a legenda com uma clara carência de nomes viáveis para o cenário nas próximas eleições.

João Henrique disse em entrevistas que será governador em 2014, mas fonte do DEM afirma que o atual prefeito está desgastado com ACM Neto (Foto: Mila Cordeiro/AGECOM)

Por conta disso, o movimento da legenda em 2014 poderá ter bastante a ver com as prováveis “contas” eleitorais que o partido terá de pagar por apoios cedidos no esforço de eleger o próximo prefeito da capital baiana. Com isso, entram na rota o atual prefeito, João Henrique (PP), e o ex-deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB), uma vez que o próprio ACM Neto não deverá participar do processo, segundo integrantes do partido entrevistados pela RBA.

Em 2014, Neto terá apenas dois anos como prefeito da capital baiana e não terá tido tempo o suficiente para fazer as mudanças que deseja na cidade e, consequentemente, acumular o capital político necessário para que dê o passo natural em sua carreira. Assim, a “carta” de ACM Neto teria de ser guardada na manga do DEM apenas para 2018. Com isso, o nome de João Henrique surge no cenário, mas com controvérsias. 

Apesar de ser da base de sustentação de Wagner no plano estadual, localmente JH é adversário petista e mais alinhado à filosofia do DEM. Entretanto, não houve apoio claro do atual prefeito ao alcaide eleito mês passado, apesar da grande especulação de que, informalmente, ambos fecharam um pacto que garantiria a ACM Neto apoio nestas eleições em troca da indicação de João Henrique ao governo em uma coligação. 

Aparentemente sustentado por este acordo, o prefeito concedeu uma série de entrevistas nos últimos meses em que, além de se considerar um excelente gestor (tem mais de 70% de rejeição na cidade de acordo com pesquisa recente do Ibope), afirmou categoricamente a veículos de comunicação da cidade que em 2014 será governador do estado. Uma fonte do partido consultada pela reportagem garante, porém, que a possibilidade de JH ser o indicado é nula. “Não tem condição de indicar João Henrique. Ele está totalmente acabado politicamente. Ainda mais agora, com as decisões que tomou nas últimas semanas, está desgastadíssimo também com o próprio ACM Neto”, disse o democrata. 

O entrevistado referiu-se à recente decisão de JH de enviar à Câmara de Vereadores de Salvador uma pauta em que pretende aprovar em tempo recorde cinco projetos que alteram a área urbanística da cidade. São eles alterações do Plano de Gerenciamento Costeiro do Município, a regularização fundiária e de edificações, por meio de desapropriação e uso de Transcons, alterações no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e na Lei de Ordenamento, Uso e Ocupação do Solo (Louos). Ao saber do desejo do atual gestor, o sucessor ficou bastante irritado e as críticas chegaram ao seu ouvido e abalaram a até então amistosa relação. “São projetos que mexem no futuro da cidade, alteram a lei ambiental, acho que deveriam ter mais debates e ser examinados com mais cuidado”, disse o prefeito eleito em entrevista à Rádio Metrópole na última quarta (14).

Por falta de tempo para 'mostrar serviço' na prefeitura, candidatura de ACM Neto ao governo da Bahia ficaria para 2018 (Foto: Raul Spinassé/Ag. A Tarde/Folhapress)

Com uma possível retirada de JH do cenário, surge automaticamente a possibilidade da indicação de Geddel Vieira Lima. Juntamente com o irmão, o presidente do PMDB estadual e deputado federal Lúcio Vieira Lima, garantiu o fundamental apoio da legenda na campanha do segundo turno na capital. Portanto, naturalmente, poderia cobrar a conta do acordo em 2014, para disputar o cargo pela segunda vez. “Não fazemos política em troca de cargos. Fazemos em cima de ideias e planos para nossa cidade. E 2014 nós só discutimos em 2014”, disse Geddel à época do anúncio do apoio a Neto no segundo turno. Para conseguir a indicação, porém, o ex-deputado federal compraria briga das grandes com o partido em nível federal.

Excluidos JH e Geddel, uma chapa liderada pelo DEM conta com poucos nomes virtuais à disposição. Um deles é o do ex-governador Paulo Souto, escolhido como coordenador da transição em Salvador. Entretanto, Souto teria rejeitado a própria indicação. Democratas consultados pela reportagem também foram unânimes em afirmar que o tempo de eleições do ex-gestor é finito. Ele vem de duas derrotas consecutivas para Jaques Wagner – em 2006 e 2010 – e, após o último pleito, pouco foi visto em aparições públicas, apesar de continuar ativo internamente no partido.

Outras duas possibilidades são a do futuro prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, que tem grande eleitorado ao longo de todo o interior do estado, mas também teria o desgaste de abandonar a prefeitura para a disputa. Por último, um nome ventilado é o do presidente estadual do partido, o ex-deputado José Carlos Aleluia. Entretanto, fora dos holofotes desde 2010, quando foi derrotado em campanha ao Senado, o dirigente partidário corre por fora e não deve ter muitas chances no processo devido ao perfil mais discreto e orientado ao Legislativo.

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