Na Câmara, PSB e PMDB farão ‘prévia’ da disputa pela vaga de vice em 2014

Socialistas tentam reunir forças para emplacar Eduardo Campos como vice de Dilma Rousseff nas próximas eleições presidenciais

Eduardo Campos, governador de Pernambuco, terá como maior adversário o vice-presidente Michel Temer (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Rio de Janeiro – O crescimento do PSB nessas eleições municipais e suas vitórias em cidades importantes onde travou embates diretos com o PT têm sido usados pela mídia tradicional como argumento básico para a “previsão” de que o partido, por intermédio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, se colocará como alternativa à candidatura da presidenta Dilma Rousseff à reeleição. A aposta no aumento da tensão política entre os dois aliados históricos, no entanto, esbarra na realidade dos fatos, já que a direção nacional do PSB não cogita outro caminho que não seja o apoio a Dilma em 2014.

Na verdade, o crescimento experimentado nas urnas credencia os socialistas para um outro tipo de disputa política que já começa a ser travada no seio da base aliada: ocupar a vaga de vice na chapa do PT para a Presidência da República. Os maiores adversários do PSB e de Eduardo Campos nesta batalha interna são o PMDB e o vice-presidente Michel Temer, titular do cobiçado posto.

Apesar de o PMDB ser hoje o aliado preferencial do PT no governo federal, alguns decisivos fatores regionais como, por exemplo, o apoio do PSB ao petista Lindbergh Farias para o governo do Rio de Janeiro (contra o PMDB) podem contribuir para afastar Temer e, ao contrário do que espera muita gente, aproximar ainda mais Campos de Dilma, em que pesem os possíveis embates entre petistas e socialistas em estados como Ceará, Pernambuco e Minas Gerais.

Desarmados os palanques das eleições municipais, Dilma busca agora retomar com seus principais aliados as conversas políticas acerca do projeto nacional. Um jantar nesta terça (6) em Brasília reunirá a presidenta a Temer e às lideranças do PMDB no Congresso Nacional para uma primeira análise conjunta do resultado das eleições. Já no dia 14 de novembro, Dilma aproveitará sua presença em um fórum de governadores do Nordeste para se reunir com Campos e dirigentes do PSB. A reunião foi agendada em conversa telefônica travada logo após a apuração das urnas no segundo turno das eleições: “Vamos buscar o que nos une e relevar o que nos separa”, disse Campos sobre a relação entre PSB e PT.

Em ambas as reuniões com a presidenta estará também em pauta a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, que poderá ser o primeiro embate direto entre PSB e PMDB nas “prévias” para ocupar a vaga de vice na chapa de Dilma em 2014. Em respeito a um acordo previamente firmado com o PMDB, Dilma e o PT apoiam o líder da bancada peemedebista, Henrique Eduardo Alves (RN), mas, com o apoio da bancada do PSB, o nome do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) vem ganhando força nas últimas semanas como provável adversário do peemedebista.

A direção nacional do PSB garante que não partiu dela a decisão de lançar a candidatura de Delgado: “Essa é uma questão decidida pela bancada na Câmara”, afirma Roberto Amaral, vice-presidente do partido. O fato de Delgado ser aliado do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que, por sua vez, é hoje o maior símbolo da proximidade entre o PSB e o senador tucano Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência da República em 2014, explica a postura discreta da direção socialista em relação à candidatura do deputado mineiro.

Reequilíbrio de forças

Júlio Delgado enumera os motivos que o levam a tentar a presidência da Câmara: “Nossa candidatura surge como fruto do crescimento natural do PSB, como fruto da expectativa que alguns deputados de outros partidos têm em relação às possibilidades de crescimento do PSB e também muito em função do descontentamento existente com essa hegemonia exercida hoje pelo PT e o PMDB nas duas casas do Congresso Nacional. Soa como se os outros partidos aliados da base não tivessem co-responsabilidade para conduzir o projeto político do governo”, diz o deputado.

O deputado socialista propõe que um “reequilíbrio de forças entre os partidos da base” seja realizado a partir de sua eleição para a presidência da Câmara: “O PMDB já ocupa a vice-presidência da República e a presidência do Senado. Agora, pretende ocupar também a presidência da Câmara. É preciso quebrar essa hegemonia”, diz, antes de ressaltar que “o PMDB vem tendo decréscimo de votos nas últimas eleições, em contraponto ao PSB”.

O bom momento do partido, segundo Delgado, deverá perdurar: “Essas eleições municipais deram conseqüência ao crescimento de 2010, quando o PSB alcançou seis governadores, o maior número de governos estaduais por partido no Brasil. Nós consolidamos essa linha de crescimento agora em 2012, quando também fizemos o maior número de prefeitos em capitais. Fizemos cinco prefeitos, enquanto os partidos maiores – PT e PSDB – fizeram quatro cada um. Isso consolida a musculatura necessária ao PSB para deixar de ser só vagão e passar a ser locomotiva. O resultado das urnas dá ao PSB a perspectiva futura para que a gente possa ser uma alternativa a essa polarização que já existe há 20 anos no Brasil entre PT e PSDB”, diz.

Também procurado pela reportagem da Rede Brasil Atual, o líder da bancada do PMDB e candidato à presidência da Câmara, Henrique Alves, avisou por intermédio de sua assessoria que prefere não falar agora sobre a disputa com Delgado. O deputado peemedebista ainda aposta em um esvaziamento da candidatura do adversário, e tem nos últimos dias conversado com lideranças e dirigentes de diversos partidos, como, por exemplo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD).

Números

Os números das eleições deste ano atestam que o PSB recebeu os votos de 8,6 milhões de eleitores no primeiro turno e mais 1,6 milhão no segundo turno. Nas eleições municipais anteriores, há quatro anos, o partido recebeu 5,6 milhões de votos no primeiro turno e 1,4 milhão no segundo turno.

O PMDB obteve nestas eleições o voto de 16,6 milhões de pessoas no primeiro turno e mais 1,9 milhão no segundo turno. O desempenho do partido foi inferior a 2008, quando recebeu 18,4 milhões de votos no primeiro turno e 4,4 milhões no segundo turno.

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