Pergunta sobre intolerância sexual faz Serra atacar jornalista da CBN

Questionado sobre o uso de temas homofóbicos e moralistas em suas campanhas, tucano se irrita e acusa Kennedy Alencar de estar a serviço do PT

José Serra voltou a mostrar impaciência quando confrontado com perguntas inconvenientes para ele (Ricardo Morais/CNI/Arquivo RBA)

São Paulo – O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, voltou a agredir jornalistas verbalmente e a demonstrar irritação e nervosismo durante entrevista à rádio CBN na manhã de hoje (16). Já na primeira pergunta, feita pela apresentadora Fabíola Cidral, o tucano se irritou. Perguntado como pretendia, em pouco tempo de campanha no segundo turno, “recuperar a confiança do eleitor”, já que as primeiras pesquisas indicam vantagem de 12 pontos para Fernando Haddad (PT), ele respondeu: 

“Eu não perdi a confiança, tanto que ganhei (sic) no primeiro turno. Se alguma coisa perdeu a confiança foram as pesquisas, que erraram espetacularmente. Pesquisa serve para alimentar noticiário”, respondeu o candidato. “Poucas vezes vi pesquisas tão erradas. As pesquisas não me preocupam, quem se preocupa são os jornalistas”, acrescentou, menosprezando o fato de Fabíola ter abordado o tema: “Acho até bobagem ficar perdendo tempo falando disso”.

A temperatura subiu mais ainda quando o jornalista Kennedy Alencar, do jornal Folha de S. Paulo, perguntou a Serra sobre suas críticas às cartilhas anti-homofobia produzidos pelo MEC no tempo em que Haddad era ministro da Educação, chamadas vulgarmente de “kit gay”. Depois de lembrar que o tucano, quando governador de São Paulo, produziu material semelhante, Alencar quis saber: 

“Nessa campanha de 2012 – a exemplo de 2010, quando o senhor apresentou o tema do aborto, com posicionamentos de modo moralista –, o senhor apresenta nesta campanha o apoio de uma direita intolerante, como o pastor Silas Malafaia, que disse que homossexualidade é doença e não orientação sexual. Eu pergunto ao senhor: a sua atitude é uma contradição por uma conveniência eleitoral ou o senhor se tornou um político conservador e mudou de ideia?”

Serra não respondeu à questão central e começou a bater boca com o jornalista. Ele afirmou que a cartilha dele não era igual à do MEC e acusou Alencar de não ter lido o material. O jornalista tentou refazer a pergunta, mas Serra não deixava. “Seja educado e ouça, eu estou falando”, disse o tucano. 

Em seguida, disse que Alencar era mentiroso. “Das duas uma, ou você leu e está mentindo ou não leu, e eu até aceito. Mas o que você está falando é mentira”, atacou Serra.

“Não estou falando uma mentira, estou fazendo uma pergunta”, rebateu o jornalista. O candidato continuou, falando por cima dos interlocutores: “Eu sei que você tem uma preferência política, mas modere-se Kennedy, você está na CBN, não pode fazer campanha eleitoral na CBN”. 

Depois, dirigindo-se à apresentadora, ordenou: “Fabíola, bota ordem aqui!”. Na sequência, voltou a atacar Alencar: “Kennedy, eu sei que você tem candidato e tal, mas modere-se. Você é um jornalista. Tem que ser mais comportado”.

Encaminhando a entrevista da maneira que melhor lhe convinha, Serra afirmou que sua cartilha combate todas as intolerâncias, “inclusive de natureza sexual”, e disse que “a do MEC estimula a prática do bissexualismo, dizendo que quem tem preferência por mulher ou por homem aumenta em 50% a chance de ter companhia no fim de semana”. 

O candidato ainda afirmou que a cartilha criada pelo MEC sob a gestão de Haddad “induz um certo tipo de comportamento sexual”. Continuou atacando o petista, dizendo que “torrou 800 mil reais” com as cartilhas e, por fim, voltou à carga novamente contra Kennedy Alencar, dizendo que a entrevista estava pautada por “uma pauta petista furada”. Para Serra, “o PT inventou que essas coisas [que sua campanha pregava a intolerância]” em 2010. “Os jornalistas petistas, como o Kennedy, pescaram. É trololó petista”, atacou o tucano.

Palhaçada

Em outro momento tenso, o jornalista Gilberto Dimenstein quis saber se o candidato se comprometeria a ficar na prefeitura durante todo o mandato. Na campanha para prefeitura de 2004, o próprio Dimenstein conseguiu que Serra assinasse um documento se comprometendo a permanecer no cargo. O tucano venceu aquela eleição, assumiu em janeiro de 2005 e abandonou o posto em abril de 2006, para se candidatar ao governo do estado.

O jornalista lembrou que o tucano justifica sua saída da prefeitura dizendo que foi para evitar o risco de o PT assumir o governo estadual, e pergunta: “Em qual outra situação se justificaria sua saída da prefeitura, ou não existe nenhuma possibilidade de você deixar o mandato se for eleito?”.

O candidato respondeu: “Não creio, não antevejo isso” e explicou que, na sua visão, “foi uma decisão correta”. Isso porque, segundo ele, do contrário, o PSDB teria perdido o governo do estado e a “situação de quebradeira” que encontrou na prefeitura teria encontrado na administração estadual.

O candidato informou que a questão de deixar a prefeitura não está colocada, até porque “o [Geraldo] Alckmin pode ir para a reeleição”. 

Dimenstein insistiu: “Então imagino que você não se incomodasse de assinar um documento” se comprometendo a permanecer no cargo. “Não, porque virou palhaçada.” 

Questionado se se arrepende de ter assinado o documento em 2004, disse que não, porque “na época não me pareceu que tinha nada demais”. No entanto, ressalvou, seu adversário “está usando” e o tema “é pauta petista na eleição”. Depois afirmou: “Sou ficha limpa”.