Ratinho Júnior investe contra ‘petismo’, e adversário assume dianteira em Curitiba

Apesar de seu partido ser da base de apoio ao governo Dilma e de pedir neutralidade de Lula, candidato do PSC aposta em preconceito contra o PT. Com apoio dos petistas, Fruet (PDT) lidera com folga

Gustavo Fruet, em campanha com a ministra da Casa Civil, Gleise Hoffman, que constrói candidatura ao governo do estado (Foto: Facebook Gustavo Fruet)

Curitiba – As eleições em Curitiba vêm reservando surpresas a cada dia. Primeiro houve erro nas pesquisas, que apontavam o segundo turno entre o candidato Ratinho Júnior (PSC) e o atual prefeito, Luciano Ducci (PSB). Apuradas as urnas, passaram Ratinho Júnior e Gustavo Fruet (PDT). Ducci acabou derrotado por cerca de 5 mil votos, mesmo tendo nas mãos a máquina da prefeitura e o apoio do governador do estado, Beto Richa (PSDB).

As surpresas continuaram com o jogo de xadrez de apoios no segundo turno. O ex-governador Jaime Lerner (de ligação histórica com o DEM) declarou apoio a Fruet, coligado ao PT. O senador peemedebista Roberto Requião (da base de apoio do governo federal) optou por Ratinho Júnior. Para entender, só mesmo conhecendo a política paranaense e sabendo que os coronéis sempre vão para lados opostos, nem sempre de maneira coerente.

As coisas se complicam ainda mais porque, veladamente, os dois candidatos fazem apologia de recursos e programas do governo federal em suas campanhas. O apresentador de TV Carlos Massa, o Ratinho, pai do candidato, chegou a conversar com Lula pedindo a neutralidade do ex-presidente. Os ministros petistas Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffman (Casa Civil) foram os principais avalistas do apoio do partido à chapa de Fruet desde o primeiro turno. A ministra constrói sua candidatura ao governo do estado em 2014.

Contraditoriamente, nesta semana a coligação de Ratinho Júnior veiculou inserções na TV em que apelou para o antipetismo. Numa delas, o apresentador dizia que o PT tentou ganhar a prefeitura com o Vanhoni (deputado federal que concorreu duas vezes), depois com a atual ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman: “Também não deu certo. Agora o PT adotou uma tática diferente, veio junto com o Gustavo Fruet. Funciona assim, o Gustavo vai na frente e o PT vem assim ‘escondidinho’. Será que dessa vez eles conseguem? Acho que não, o curitibano não vai deixar”.

Noutra veiculação, a campanha de Ratinho Júnior ataca as prefeituras administradas pelo PT, citando a cidade de Joinville (SC), em que o prefeito não se reelegeu. Questionado em relação a essa dubiedade entre apoiar e criticar o PT, o candidato desconversa: “Nós não atacamos o PT”. Os vídeos foram retirados das páginas oficiais, mas continuam disponíveis em blogs locais, como este (http://blogdotarso.com/tag/ratinho-junior/).

É difícil saber se o apelo ao preconceito em relação ao Partido dos Trabalhadores foi uma estratégia desesperada ou uma aposta. Mas o fato é que não tem funcionado. As pesquisas divulgadas ontem (18) mostraram o filho do apresentador de TV em grande desvantagem.

Pelo Datafolha, Fruet tem 52% das intenções de voto, contra 36% de Ratinho Junior (60% a 40% considerados somente os votos válidos). Outra pesquisa, do instituto IRG, mostra Fruet com 48% e Ratinho, 35,8%. Caso estejam corretas desta vez, as chances de Fruet, a pouco mais de uma semana da eleição, são consideráveis.

Debate na Band

Além da divulgação das duas pesquisas, a última quinta-feira foi marcada também pelo debate entre os candidatos na TV Bandeirantes. Ratinho Júnior insistiu no fato de não ser de família tradicional, que veio do interior e trabalha desde os 13 anos com o pai e desde os 16 administra negócios da família, não fazendo parte da “oligarquia” local.

No campo pessoal, Fruet falou de realizações de seu pai, o ex-prefeito da cidade Maurício Fruet (ligado a Requião), mas a coisa esquentou quando Ratinho Júnior atacou a gestão da irmã do candidato, Eleonora Fruet, à frente da Secretaria Municipal de Educação na administração de Beto Richa na prefeitura. Fruet revidou dizendo ser covardia falar da irmã sem ela estar presente, no que Ratinho atacou novamente falando que covardia foi a coligação do adversário fazer panfleto apócrifo falando mal dele e de sua família. Fruet negou a acusação, disse que foi armação de um dono de gráfica que está preso, mas também atacou o adversário por conta da utilização, segundo ele, das emissoras da família para campanha eleitoral irregular.

Depois da quentura, os ânimos serenaram e os candidatos passaram a fazer perguntas sobre programa de governo em que repetiram à exaustão programas para educação, saúde, segurança, turismo, transporte, calçadas, Copa do Mundo etc. Com números e valores decorados e escritos por suas assessorias.

A disputa final foi para cada um mostrar  por que era mais preparado do que o outro, já que nenhum dos dois esteve em cargo executivo. Ratinho Júnior voltou a falar de sua experiência, de trabalhar desde os 13 anos e de ter administrado as empresas da família, além de ser deputado federal. Fruet voltou a mencionar o pai, ex-prefeito, destacando sua vida pública como deputado estadual e federal e a formação como advogado.

Ao final, os dois destacaram novamente o trânsito que têm com o governo federal (PT) e o estadual (PSDB), o que possibilitaria trazer mais recursos para executar a infinidade de promessas feitas. E deixando claro, mais uma vez, que a política em Curitiba é mais intrincada e conservadora do que em outras capitais brasileiras.