Ida de Haddad para o 2º turno de SP não foi surpresa para movimentos sociais

Avaliação da CMP é que disputa agora é entre o status quo e a luta dos trabalhadores. Composição da Câmara reflete interesse na pauta da habitação, mas 'higienista de carteirinha' também ganhou cadeira

Ativistas acreditavam no resultado por conta de toda a mobilização feita na periferia (Foto: Paulo Pinto)

São Paulo – Com grande penetração nos movimentos populares, o PT contou com a força de movimentos sociais para conseguir levar Fernando Haddad ao segundo turno das eleições majoritárias em São Paulo, principalmente nas duas semanas que antecederam o pleito de ontem (7). Normalmente mais presente na segunda etapa da disputa, o temor de que Celso Russomanno (PRB) e José Serra (PSDB) se tornassem as únicas opções em 28 de outubro antecipou a mobilização. “Nós já esperávamos por esse resultado em função de toda a mobilização, principalmente nas periferias. Nós já sentíamos esse crescimento. Os institutos de pesquisa, principalmente o Datafolha, erraram ao colocar que ele estava atrás. Porque ele já tinha passado fazia tempo”, afirma Benedito Barbosa, o Dito, da Central de Movimentos Populares (CMP).

Dito também aponta, como outro fator decisivo na campanha, a volta de setores que estavam afastados das disputas eleitorais, como a Universidade e a Igreja Católica. “O medo de que a disputa fosse entre Serra e Russomanno gerou uma reação nesses setores que andavam silenciosos”, acredita.

Para ele, a ida de Serra e Haddad para o segundo turno confrontam projetos antagônicos de cidade. “Se a gente olhar o mapa da distribuição de votos ele vai dizer muito sobre a realidade eleitoral da cidade. De um lado, Haddad é de fato o candidato que recebeu grande quantidade de votos dos trabalhadores, principalmente na periferia. Na minha opinião, em resposta ao alto índice de despejos, remoções e da ausência total de políticas sociais.  E de outro, o Serra, que recebeu alto índice de votação, mas de camadas ricas da cidade. Essa é a disputa. Um candidato que vai defender os excluídos, que vai tentar reverter essa situação, e do outro, o candidato do status quo e dos ricos, que é o Serra”, avalia o representante dos movimentos populares.  

Legislativo

Para Dito, a nova composição da Câmara de Vereadores foi fortemente influenciada pela discussão de temas urbanos, como a moradia, mas também apresenta “tragédias”. “A Juliana Cardoso (PT) e o Nabil Bonduki (PT), são bastante atuantes nas questões urbanas. Por outro lado, o Police Neto (PSD), que é presidente da câmara e aliado do Kassab, quase não se elegeu. Ou seja, o tema da habitação teve impacto tanto para alavancar candidaturas como para quase impor derrotas. O Police Neto só se elegeu alavancado pela legenda dele. Para mim, foi uma surpresa ele ter uma votação tão inexpressiva”, aponta. Na atual legislatura,  Police Neto é um dos vereadores que mais recebeu financiamento de setores imobiliários. “Foram eleitos vereadores que são inimigos dos trabalhadores, dos movimentos sociais. Como o Andrea Matarazzo (PSDB), um higienista de carteirinha e o coronel Telhada, da Rota (PSBD), um opressor histórico na periferia e o Conte Lopes (capitão aposentado da Polícia Militar, filiado ao PTB). Ou seja, você tem aí tragédias dessa natureza na Câmara, o que vai demandar uma reação dos movimentos.” 

Futuro

Dito ressalta que no ano que vem deve ser elaborado do Plano Diretor da cidade e que o próximo prefeito já assume a cidade com uma “bomba relógio”. Nos primeiros meses do ano, está previsto o término de vários contratos de auxílio-aluguel. “O problema é que a prefeitura não organizou nem deixou projetos para uma política de habitação. A prefeitura não fez parceria forte com o governo federal para o programa Minha Casa Minha Vida. Não há uma política de terras na cidade para construir moradia social”, afirma.

“O próximo prefeito vai precisar trabalhar muito. Primeiro para resolver o passivo desta administração, depois para abrir novas frentes para resolver problemas que já estão há anos esperando.”