Para Marcos Coimbra, PT foi o grande vencedor das eleições

Diretor do Instituto Vox Populi acredita que Serra se apoiará em bandeira moral, que a essa altura não soma eleitores, ao passo que Haddad ainda precisa se tornar mais conhecido

O analista acredita que Serra se equivoca ao julgar que o critério moral é o primordial para definir o voto (Foto: Foto: Celton Oliveira / espacodoconhecimento.org)

São Paulo – Em sua avaliação sobre o resultados das urnas após as votações de 7 de outubro, o diretor do Instituo Vox Populi, Marcos Coimbra, conclui que o partido que mais ampliou sua territorialidade foi o PT, contrariando a expectativa geral, que dava como certa a ascensão do PSB a estrela do cenário político nacional. 

O analista disse também que o julgamento do mensalão a poucos dias do primeiro turno não surtiu o efeito desejado contra o PT, conforme estimado pelos adversários, e que, ao insistir no discurso da moralidade como tese para alavancar sua campanha no segundo turno, o tucano José Serra dificilmente conseguirá conquistar mais votos do que já teve no domingo. No domingo, o PT cresceu 12% em relação a 2008, indo de 558 prefeituras para 624. O partido, além disso, é o que disputa o maior número de municípios em segundo turno: 22.

Ao fim da entrevista, Coimbra afirma ainda que Fernando Haddad não deve contar exclusivamente com o prestígio de Lula e Dilma Rousseff para o sucesso de sua corrida eleitoral. “Ele ainda é um desconhecido da maioria da população e precisa aparecer mais”, disse, ao mesmo tempo que avaliou a ampla rejeição ao tucano como vantagem inicial importante em favor do petista.

Em linhas gerais, imaginava-se o PSB como o grande vencedor em termos de capital político. Você acha que já no primeiro turno se confirmou esse crescimento do PSB?

Se formos ver o número de prefeituras que o PSB ganhou, ele ficou numa posição intermediária, com menos de 8% das prefeituras país afora. Ganhou algumas fora do Nordeste, especialmente em Minas Gerais, mas não foi um resultado de grande crescimento. Na eleição passada foi eleito em 300 e poucas prefeituras e agora está com 430. Num total de 5 mil, é pouco. Em termo de resultados em capitais a expansão foi muito aquém do que se imaginava. Ainda há o segundo turno e pode haver algum crescimento.

Uma boa notícia foi a vitória em Recife. E a má notícia foi a não ida para o segundo turno do prefeito do PSB de Curitiba. Não sei o que “vale mais”, pois Recife já é o terreno do PSB, então ganhar lá não é uma grande novidade. Novidade seria manter-se na frente de uma prefeitura da região Sul, o que não aconteceu. A vitória do Marcio Lacerda em Belo Horizonte realmente não foi surpresa. Se houve uma surpresa foi ele ter tido uma votação muito aquém do que se imaginava que poderia ter, considerando que ele estava no exercício, que ele tinha uma boa avaliação e que ele era apoiado por Aécio Neves. Fora isso, o PSB está disputando agora com o PT em algumas capitais, como Fortaleza e Cuiabá, mas é cedo para dizer que é um grande vencedor. É um partido que teve um bom desempenho, mas está longe de ser a estrela em ascensão.

Até agora, o partido que mais teve sucesso nesta eleição foi o PT. Foi o único que cresceu dentre os cinco maiores, fez o número maior de vereadores, foi o que ganhou em maior número de cidades grandes, ganhou em capitais, vai ganhar em mais capitas no segundo turno. Se ganhar São Paulo, será o grande resultado, mas, mesmo não ganhando, o PT é o partido que mais se enraizou e mais mostrou capacidade de crescimento no conjunto do país, ao contrário do que muita gente imaginava.

Já é possível encontrar os fatores para explicar este crescimento?

É um conjunto de fatores, como a organização partidária, o partido tem apresentado bons candidatos num número grande de cidades, são coisas que explicam o resultado quando se olha 5 mil eleições diferentes, não só a de uma cidade. No conjunto da obra, o PT foi aparentemente o melhor sucedido.

O julgamento do mensalão não surtiu nenhum efeito neste sentido ou ficou limitado?

Se isso que eu acabei de falar é verdade, a resposta é não. Não faria sentido imaginar esse desempenho se o fator julgamento fosse decisivo para o universo eleitoral. Não estou dizendo que seja irrelevante, mas que foi provavelmente menos relevante do que se imagina. Limitou o desempenho de Fernando Haddad na cidade de São Paulo? Provavelmente. O suficiente para tirá-lo do segundo turno? Não. A rejeição a ele aumentou, mas ela continua a ser um terço da rejeição do Serra. Tudo isso tem de ser levado em conta na hora de analisar o impacto do julgamento do STF sobre o mensalão.

Nenhuma das pesquisas havia previsto o Serra com intenções de voto acima dos 30% e o Haddad com uma diferença tão tranquila em relação a Russomanno. Por quê?

A base para você comparar pesquisas e resultados da apuração não é a mesma. Então se você “devolver” os números que o Serra obteve para o conjunto do eleitorado da cidade, ele teve os vinte e pouco por cento que as pesquisas estavam indicando. A base das pesquisas não é aquela do voto válido no dia da eleição. Agora, que houve um nicho de movimentos que as pesquisas identificaram nos índices de desistência do Russomanno, houve. E acabou acontecendo o natural, os dois principais partidos vão disputar o segundo turno.

Houve dentro do PT um entendimento de que essa eleição demorou para esquentar. Isso pode ter ajudado o Russomanno a se manter por mais tempo na dianteira?

É provável, mas isso não foi uma peculiaridade dessa eleição. Em geral é isso que acontece. Não nos esqueçamos que em 2008 até o final do primeiro turno, parecia que Marta Suplicy e Geraldo Alckmin disputariam o segundo turno e acabou dando Kassab. Não é a primeira vez que temos uma eleição municipal que só se resolve nos últimos dias.

Entre Serra e Haddad, podemos apontar o favorito no momento?

Eles terminaram esse primeiro turno empatados – a diferença de 1 ponto percentual entre ambos pode ser considerada irrelevante –, e vão para o segundo turno, cada um com seu capital de largada, seus pontos de partidas. E com perspectivas diferentes de ganhar eleitores que não votaram em ninguém ou que votaram em outros candidatos.

O Serra tem contra ele uma rejeição enorme e acaba de ter o pior desempenho da carreira política dele na cidade. Quer dizer que ele vai perder? Não. Mas ele começa o segundo turno na pior posição, de todas as outras eleições que já disputou, pelo tamanho da rejeição que tem.

A essa altura, sendo um político tão conhecido, há alguma coisa que ele possa fazer para reverter essa rejeição?

A única coisa que ele pode fazer é isso que ele começou a fazer ontem, que foi deixar claro como será a campanha dele. Será insistir na ideia de que ele é um sujeito ético e moral e que o PT é um partido corrupto como está sendo mostrado no julgamento do mensalão. Este é o único argumento que ele tem. Se vai funcionar, não sei.

A essa altura ele não tem mais argumentos. Ele vai falar disso todo santo dia até a eleição. E vai contar com o endosso de alguns órgãos de imprensa, que definitivamente não gostam do PT e que darão a ele argumentos para investir neste único argumento.

Numa cidade que se divide entre uma parte do eleitorado mais próximo ao PT e outra parte mais alinhada com candidatos mais conservadores, esse discurso também não acaba sendo limitado?

Sim. Esse discurso leva em consideração que o que Serra chama de valores morais é o critério primordial para definir a opção do eleitor. E leva em conta também que a imensa da maioria das pessoas não tem uma opinião tão elevada sobre a moralidade do “outro lado”.

Esse argumento vai apenas dizer as mesmas coisas para pessoas que já têm esse pensamento. Sinceramente, não acredito que isso faça com que as pessoas ignorem toda a possibilidade de questionamento sobre a sua biografia. Nós estamos sentindo o eleitor dizendo que há um lado “limpo” e um outro lado “sujo”.

Ainda há possibilidade de transferência de popularidade de Lula e Dilma para o Haddad para ir ao segundo turno ou esse fator já está esgotado a essa altura?

Acho que já está sim. Não me parece que isso possa adicionar mais votos ao candidato hoje. Não creio que seja um diferencial a ser decisivo no segundo turno. Esse entendimento é geral.

E o que Haddad ainda pode apresentar para conquistar a preferência do eleitorado?

Ele ainda continua pouco conhecido por um percentual importante da população. Ele deve continuar seu esforço para apresentar suas propostas, porque ele tem um potencial de crescimento em relação ao Serra muito maior, obviamente.