Em BH, últimas horas são de tensão

O atual prefeito e o petista Patrus Ananias exploram as fragilidades da aliança rompida há poucos meses e os apoios de Aécio e PSDB, de um lado, e de Lula e Dilma, de outro

Aécio Neves, criticado por Dilma em comício, é a arma (Foto: Ricardo Bastos/Hoje em Dia/Folhapress)

Belo Horizonte – A disputa pela prefeitura de Belo Horizonte entrou no clima de “tudo ou nada”. Patrus Ananias (PT) aumenta os esforços para conseguir levar a briga para o segundo turno. Apesar de os levantamentos recentes ainda apontarem para uma vitória apertada de Marcio Lacerda (PSB) neste domingo, os petistas estão confiantes com o crescimento do ex-prefeito nas pesquisas de maneira geral. Enquanto isso, o atual prefeito socialista tenta manter a liderança com cautela. No entanto, os ataques das campanhas têm exposto a ambiguidade da antiga aliança de 2008.

Para o coordenador-executivo da chapa e presidente municipal do PT, Roberto Carvalho, a ascensão recente do petista é resultado do atraso na campanha – só foi firmada após a formalização da quebra da aliança anterior, no fim de junho. “Iniciamos a campanha muito tarde. Pelo planejamento, sabíamos que iríamos chegar ao final com o pique que estamos hoje. Estamos confiantes que haverá segundo turno.”

Se durante grande parte da corrida eleitoral os adversários evitaram expor a fragilidade da aliança entre PT, PSDB e PSB, na reta final o discurso mudou. Em entrevista coletiva em julho, o candidato a vice de Lacerda, Délio Malheiros (PV), criticou acirradamente a gestão do atual prefeito e afirmou que apoiaria quem estivesse “contra o Marcio”. Apesar de a coordenação oficial do PT dizer que não usaria a declaração, militâncias divulgaram o vídeo na internet há seis dias (assista abaixo). A repercussão foi imediata e já passa de 180 mil visualizações no YouTube. Um telão na Praça Sete, no centro da cidade, exibiu a gravação.

Na mesma semana, a presidenta Dilma Rousseff participou de ato público na região do Barreiro, onde respondeu a críticas do senador Aécio Neves (PSDB) e alfinetou a atual gestão da cidade. A resposta veio logo em seguida. Na quinta-feira (4), o PSDB publicou uma carta destinada a Dilma, com 13 questionamentos sobre a postura do governo federal com a capital, como o veto aos royalties do minério e o fato de o aeroporto de Confins ter ficado fora das privatizações. No lado do PSB, a campanha oficial colocou no ar uma propaganda exibindo vídeo em que Dilma diz que Marcio Lacerda seria “um dos melhores prefeitos do Brasil”, em um pronunciamento no Palácio da Liberdade, quando a aliança de 2008 ainda existia.

Reta final 

Pesquisa Datafolha divulgada ontem (4) mostrou que Lacerda manteve a liderança com 45% das intenções de voto, ante 34% de Patrus. No entanto, desde o primeiro levantamento, de 27 de julho, o petista diminuiu a diferença, subindo sete pontos de lá para cá – sendo que o PSB manteve o patamar acima dos 40%. No caso do Ibope, o crescimento de Patrus foi maior, passando de 21%, em 3 de agosto, para 35%, na última terça-feira (2). No Datafolha de hoje (6), o petista chega 38%, com Lacerda em queda para 44% (o Ibope já dava 44% para Lacerda na terça-feira). 

Ao longo da campanha, Patrus apostou no apoio de grandes nomes da política nacional e regional, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Entretanto, a cartada final do candidato foi a visita da presidenta Dilma à capital mineira. Paralelamente às farpas trocadas entre ela e Aécio, Dilma fechou a empreitada de Patrus na disputa, formalizando fisicamente o apoio dela e, por conseguinte, de sua gestão federal.

Nesse meio tempo, Lacerda apostou no seu principal aliado, o PSDB. Com a figura do senador Aécio Neves e do governador Antonio Anastasia, o atual prefeito manteve a liderança nas pesquisas com a presença forte dos líderes mineiros em atos públicos. Além disso, Aécio, um dos principais nomes do partido para a presidência, não tem poupado esforços para participar ativamente da campanha.

Para analistas e marqueteiros, a corrida eleitoral em BH pode ser uma caixinha de surpresas – como ocorreu em 2008, quando as pesquisas apontavam a vitória do deputado federal Leonardo Quintão (PMDB). Com esperanças de um segundo turno, Patrus aposta as fichas na militância, que promete não descansar. “A ideia é todo mundo na rua”, disse Roberto Carvalho. Lacerda também promete intensificar a campanha. “Nós respeitamos a decisão da população, mas sabemos que não haverá segundo turno”, afirmou o presidente municipal do PSB e coordenador da chapa, João Marcos Lobo. 

De fato, ficou para a população decidir. Resta saber se Lobo combinou com ela. 

Assista os vídeos:

 Dilma declara, em junho passado, sua avaliação sobre o prefeito Lacerda: